O PR e o seu Governo (2)

Marcelo foi o promotor e é agora fiador do governo saído das eleições. Dissolveu a AR para precipitar as eleições e diligenciou o voto na AD, sem pruridos éticos, interferindo como PR, quando lhe era constitucionalmente vedado, na véspera das eleições.

Ao dizer aos eleitores que não aceitava um governo com o Chega sossegou a direita democrática e deslocou votos do PS para o PSD que ele próprio ajudou a virar à direita no congresso da Figueira da Foz onde avançou com o salazarista Cavaco Silva.

Apesar de tantos esforços conseguiu apenas empatar o número de deputados do PSD com o PS. Apesar de as coligações se dissolverem automaticamente após eleições, para não ser julgada a sua conduta aventureira, os media e os agentes políticos uniram-se para fingir, repito, ao arrepio da Constituição, que era maior o partido AD inventado.

É ocioso lembrar que a atual AD é uma ficção, um mero arremedo da antiga e respeitada coligação homónima, só possível através da compra do fadista Gonçalo Câmara Pereira e da ressurreição do defunto CDS para juntarem os votos ao do PSD.

Mas vale a pena lembrar que Marcelo dissolveu a AR, sem tempo para esperar pelo seu homem de mão, Carlos Moedas, quando temeu que as comemorações do 25 de Abril, as verbas do PRR, a folga orçamental e o dinamismo económico permanecessem nas mãos do Governo PS com o PSD em risco de extinção e ele esvaziado de poder.

Irado com a maioria absoluta do PS, ameaçou-a com a dissolução logo no discurso de posse, se o PM fosse para Bruxelas onde o sabia desejado. Perante a garantia dada por António Costa de cumprir o mandato, só lhe restou interrompê-lo. Ajudou-o primeiro a PGR e depois fez sozinho o que queria, dissolver a AR. Entretanto foi-se consumindo na intriga e ativismo reacionário antes de se tornar agora acólito do PSD.

Sabendo que seria uma tragédia para si próprio a queda do Governo ligou-a ao perigo de novas eleições onde o PS corre o risco de ser o mais votado e não poder ser governo. Seria o desastre para o País e para os atuais líderes do PS e do PSD, este com o regresso apoiado pelo Chega e outro líder, talvez Carlos Moedas. Para salvar a Pátria!

Marcelo é pérfido, mas não é burro. Por isso se tornou homem de mão de Montenegro, capaz de tudo para deixar o PSD no poder. Por isso finge não querer na República acordo do PSD com o Chega que já existe nos dois governos das Regiões Autónomas.

Esta mentira conduziu ao dilema do PS: chumbar o OE e deixar a AD nas mãos do seu aliado natural, o Chega, para o viabilizar, como já acontece nas Regiões Autónomas, ou abster-se e deixar todos os restantes partidos a votarem contra ficando a oposição à direita liderada pelo Chega e os partidos à esquerda a responsabilizarem-no pelo mau governo que o PR quis para o País.

Há, no entanto, o risco do chumbo do OE por Ventura desejoso de chegar ao Governo sem Montenegro, ao alcance com a perda de alguns deputados, e uma sólida maioria capaz de garantir com o PSD a legislatura e o próximo PR.

Este é o perigo para o PS e toda a esquerda, embora com ganhos imediatos para o BE e PCP, mas, sobretudo, para o País que Marcelo jogou aos dados nas traquinices em que se envolveu.

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