Quo vadis, António Vitorino?

Os militantes, não raro, têm o hábito de confiscar em proveito próprio o partido em que se matricularam e cujas relações se assemelham às que os simpatizantes mantêm com os clubes de futebol. Não é de estranhar, pois, que se discutam pessoas com paixão e se enjeitem ideias com enfado.

Por sua vez, os partidos apropriam-se dos militantes e exigem-lhes o que não querem, não podem ou não devem dar. É por isso que, em vez de escolas de cidadania que deviam ser, se transformam, por vezes, em arena de paixões clubistas ou locais de tráfico de influências.

Assim, o dirigente certo não é o que tem um projecto, competência e decisão, é o que dispõe de apoios, perpetua interesses e garante vitórias eleitorais. O exemplo de Santana Lopes é suficientemente recente e particularmente didáctico, valendo a reflexão para todos os partidos que soem ser poder.

A formação do próximo Governo, sob os auspícios do PS, tem de positivo a discrição de que Sócrates tem sabido rodear-se. Assim acerte nas pessoas e nos lugares, ao contrário do anterior Governo onde as pessoas certas estavam no lugar errado e as pessoas erradas estavam num lugar qualquer, a começar pelo primeiro-ministro.

Contrariamente ao militantes, há um socialista que eu preferia não ver no Governo – António Vitorino (AV). Não porque não seja bom, é óptimo em tudo, em qualquer Governo. Não porque isso diminua quem foi considerado pela imprensa estrangeira, com frequência, o melhor dos comissários europeus, mas porque o PS deve preservar alguém «demasiado brilhante, demasiado europeu e demasiado independente», razões que segundo o «Le Monde» levou Washington a vetá-lo para chefiar a NATO, como recorda a «Visão» de hoje.

Já imaginaram o efeito devastador de Marcelo Rebelo de Sousa, empenhado militante do PSD, na RTP-1? Quem, melhor do que AV, para contrariar o tempo de antena que perversamente foi oferecido ao antigo líder do PSD e ao rancoroso trânsfuga do PS, António Barreto?

Quando das profundezas de Boliqueime ressurge Cavaco como salvador da Pátria e vingador da recente derrota da direita, quando tem uma corte organizada e aguerrida, quando os aspectos negativos estão diluídos no tempo, há que encontrar quem reabilite uma herança que o PS delapidou, esquecendo que os anos de 1995/99 foram os mais fecundos que Portugal viveu nas últimas décadas, fecundos na economia, na justiça, na solidariedade e na visão estratégica.

Quem melhor do que AV, com o humor e a inteligência, pode desmascarar o comentário feito propaganda e o tempo de antena dissimulado em comentário?

Comentários

Bmonteiro disse…
Bem visto quanto ao 'perigo' do professor na RTP1. Não tenha o novo governo a categoria que o momento exige, com os melhores, espere pela demora.
E se assim fôr, merecida. Se o Professor o fizer com independência, como fez com os artistas de saída do palco.

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