O «problema» de Olivença

O artigo publicado no EXPRESSO de 25/03/05, da jornalista Júlia Meireles, é dedicado à história de Olivença e à obsessão, quiçá legítima, de alguns portugueses que insistem na reintegração da localidade fronteiriça em território nacional.
Independentemente da razão que lhes assista, fazem lembrar o grupo de escuteiros que ajudaram uma velhinha a atravessar a estrada. Foram precisos vários porque a velhinha não queria.

É o que acontece com os habitantes de Olivença, que falam castelhano, gozam de um nível de vida superior e estão bem integrados em Espanha, sem manifestarem o mais leve desejo de mudar de nacionalidade. É por isso que os nostálgicos do tratado de Alcanizes, de 1297, perderam em 1801 a possibilidade de redefinir a fronteira.

A preservação da cultura portuguesa, em Olivença, ou em qualquer parte do mundo, é uma tarefa patriótica, mas a reivindicação do território de quem não se sente português é um acto quixotesco que só a reduzida expressão torna inofensivo.

Surpreende, aliás, que os defensores da soberania portuguesa que insistem que «Olivença é nossa», à semelhança dos que, durante muitos anos, gritaram «Angola é nossa», não se tenham apercebido da assinatura da Concordata de 2004 entre a Santa Sé e o Estado português. É que o texto, assinado pelo então primeiro-ministro Durão Barroso e pelo cardeal Ângelo Sodano, refere no número 5 do Artigo 9.º que «A Santa Sé declara que nenhuma parte do território da República Portuguesa dependerá de um Bispo cuja sede esteja fixada em território sujeito a soberania estrangeira».

Não consta que Olivença integre uma diocese portuguesa. A soberania espanhola foi indirectamente legitimada. Os saudosistas deviam andar distraídos.

Comentários

Anónimo disse…
Este texto foi integralmente publicado pelo «Expresso» de 02-04-05.

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