Correio dos leitores - POLÍTICA: ARROGÂNCIA E HUMILDADE
“Em democracia há vencedores e há vencidos. Mas não há excluídos”
José Sócrates, na noite de 20 de Fevereiro de 2005
Se cumprir a palavra dada, a esta hora e nesta data já Pedro Santana Lopes terá accionado judicialmente as empresas de sondagens menos honestas, que ao longo da campanha eleitoral não prediziam ventura mas desgraça. Embora não o diga, também estará magoado com a falta de solidariedade da irmã Lúcia, a menos que nas celestes paragens que ela tão bem conhece desde criança as regras exijam prazos, carimbos, selos brancos, despachos e assinaturas, e esse celestial apoio venha mais tarde, noutros voos e noutras alturas, onde às vezes são perceptíveis pombas brancas a voar, embora isso comporte riscos em épocas de caça.
Alternativamente, é o mito de Ícaro que detém actualidade: por muita fé e por muitos e eficazes amuletos ou santinhos, os altos voos podem descambar em trambolhões monumentais, com danos quiçá irreparáveis.
Mais ou menos habituado a deixar cargos a meio, Santana Lopes foi sobretudo vítima de si próprio. Depois, cabia-lhe ab initio a factura do “abandono” de Durão Barroso, que prometeu aos portugueses 4 anos de estabilidade governativa, acabando por mudar de emprego em boa oportunidade, saindo por uma porta de dimensões invejáveis, ao contrário de Guterres, que saíra por uma porta pequena, assumindo honestamente não ter condições para continuar a governação.
A política é, muitas vezes madrasta. Onde se meteram, por onde andaram os homens bons e valorosos do partido, que deixaram Santana Lopes mais ou menos sozinho e entregue a si mesmo? Onde está, onde ficou a solidariedade e o apoio do professor de Boliqueime, que nem a fotografia quis no cartaz, mas que não desdenhará o apoio partidário na corrida para Belém?... Ou não quererá, mesmo, ser Presidente da República?
Provavelmente também já estará no cabide, com cheiro a glórias esvaídas, o fato às riscas dentro do qual se movimentava uma figura em pose de estado, que até garantiu a recuperação da bombardier e de muitos postos de trabalho. Que dizer e pensar da atitude malcriada de enviar para o Largo do Rato a foto do fundador do CDS, Freitas do Amaral? Esquecemo-nos do II Governo Constitucional, de Mário Soares, com vários ministros do CDS? No plano da honestidade política e das boas intenções, como aceitar que ainda agora, em plena campanha eleitoral o homem do fato às riscas tenha claramente piscado o olho a uma aliança governamental com o PS? E o trajecto de figuras que, ao contrário de Freitas do Amaral, vieram da esquerda para a direita, de que a distinta social-democrata Zita Seabra é apenas um (legítimo) exemplo? Sem falar do próprio Durão Barroso, oriundo da extrema esquerda, com o famoso slogan “nem mais um soldado para as colónias”?
O tempo dirá se o voto expresso nas urnas foi também, ou não, a reprovação por formas baixas de fazer política. Que persistem, afinal.
Mas enfim, com alguma ironia ainda poderemos dizer que, finalmente, se cumpriu o desejo de Sá Carneiro: lá temos uma maioria, um governo e um presidente! Que o PS se mostre, agora, à altura das enormes responsabilidades que lhe cabem e que saiba resistir à arrogância e à sobranceria. Certamente não serão letra morta as palavras de Sócrates na noite de 20 de Fevereiro!
Manuel Paula Maça
José Sócrates, na noite de 20 de Fevereiro de 2005
Se cumprir a palavra dada, a esta hora e nesta data já Pedro Santana Lopes terá accionado judicialmente as empresas de sondagens menos honestas, que ao longo da campanha eleitoral não prediziam ventura mas desgraça. Embora não o diga, também estará magoado com a falta de solidariedade da irmã Lúcia, a menos que nas celestes paragens que ela tão bem conhece desde criança as regras exijam prazos, carimbos, selos brancos, despachos e assinaturas, e esse celestial apoio venha mais tarde, noutros voos e noutras alturas, onde às vezes são perceptíveis pombas brancas a voar, embora isso comporte riscos em épocas de caça.
Alternativamente, é o mito de Ícaro que detém actualidade: por muita fé e por muitos e eficazes amuletos ou santinhos, os altos voos podem descambar em trambolhões monumentais, com danos quiçá irreparáveis.
Mais ou menos habituado a deixar cargos a meio, Santana Lopes foi sobretudo vítima de si próprio. Depois, cabia-lhe ab initio a factura do “abandono” de Durão Barroso, que prometeu aos portugueses 4 anos de estabilidade governativa, acabando por mudar de emprego em boa oportunidade, saindo por uma porta de dimensões invejáveis, ao contrário de Guterres, que saíra por uma porta pequena, assumindo honestamente não ter condições para continuar a governação.
A política é, muitas vezes madrasta. Onde se meteram, por onde andaram os homens bons e valorosos do partido, que deixaram Santana Lopes mais ou menos sozinho e entregue a si mesmo? Onde está, onde ficou a solidariedade e o apoio do professor de Boliqueime, que nem a fotografia quis no cartaz, mas que não desdenhará o apoio partidário na corrida para Belém?... Ou não quererá, mesmo, ser Presidente da República?
Provavelmente também já estará no cabide, com cheiro a glórias esvaídas, o fato às riscas dentro do qual se movimentava uma figura em pose de estado, que até garantiu a recuperação da bombardier e de muitos postos de trabalho. Que dizer e pensar da atitude malcriada de enviar para o Largo do Rato a foto do fundador do CDS, Freitas do Amaral? Esquecemo-nos do II Governo Constitucional, de Mário Soares, com vários ministros do CDS? No plano da honestidade política e das boas intenções, como aceitar que ainda agora, em plena campanha eleitoral o homem do fato às riscas tenha claramente piscado o olho a uma aliança governamental com o PS? E o trajecto de figuras que, ao contrário de Freitas do Amaral, vieram da esquerda para a direita, de que a distinta social-democrata Zita Seabra é apenas um (legítimo) exemplo? Sem falar do próprio Durão Barroso, oriundo da extrema esquerda, com o famoso slogan “nem mais um soldado para as colónias”?
O tempo dirá se o voto expresso nas urnas foi também, ou não, a reprovação por formas baixas de fazer política. Que persistem, afinal.
Mas enfim, com alguma ironia ainda poderemos dizer que, finalmente, se cumpriu o desejo de Sá Carneiro: lá temos uma maioria, um governo e um presidente! Que o PS se mostre, agora, à altura das enormes responsabilidades que lhe cabem e que saiba resistir à arrogância e à sobranceria. Certamente não serão letra morta as palavras de Sócrates na noite de 20 de Fevereiro!
Manuel Paula Maça
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