A abertura e o desenvolvimento da China
A China, que já destronou a Alemanha como 4ª maior economia do mundo (em termos de PNB total), desenvolve-se a um ritmo impressionante. As principais cidades, como Pequim, Xangai ou Cantão assemelham-se a qualquer grande cidade europeia (porventura até mais limpas, seguras e com melhores equipamentos públicos).
Ao mesmo tempo que se desenvolve, o regime político vai-se tornando menos repressivo e mais benevolente. A internet já não é censurada (como verifiquei pessoal e exaustivamente em várias cidades e diferentes terminais: hotéis, cybercafés, WAP), há razoável liberdade religiosa e de culto (veja-me se as fotografias que junto do templo budista das seis figueiras em Cantão), as pessoas comportam-se de forma descontraída nas ruas, a polícia (omnipresente) não interfere com as pessoas, encontram-se livros, filmes e discos ocidentais, nas livrarias (incluindo as memórias do Dalai Lama), a juventude segue as últimas modas (encontram-se dezenas de punks nas ruas de Cantão) e os telemóveis proliferam. Começa a haver bom planeamento urbano e preocupações ecologistas (centrais eólicas, proibição de motorizadas a gasolina nos centros urbanos de algumas cidades, introdução de veículos eléctricos, florestação dos centros urbanos). Desde o pesadelo da SARS, as ruas das principais cidades e os edifícios e equipamentos públicos são escrupulosamente limpos. Presumivelmente, após o escândalo do leite contaminado com a mielamina, as autoridades começarão a preocupar-se com a segurança alimentar.
Lentamente o regime vai abrindo... No próximo ano realizar-se-hão, a título experimental, as primeiras eleições democráticas e plurais na Região Económica Especial de Shenzhen. O plano de Pequim é aparentemente alargar as áreas abrangidas pelo regime especial de "um país, dois sistemas". Até a pena de morte, que infelizmente se vai mantendo, começa a ser aplicada com mais parcimónia, tendo agora todas as sentenças que ser aprovadas pelo Supremo Tribunal Popular, tendo sido reduzido o leque de crimes capitais na última revisão do Código Penal (para "apenas" 22 crimes), estando programada a sua redução para oito crimes capitais em 2022 e a abolição em 2042. A bala já foi substituída pelo método americano da injecção letal.
As fotografias foram tirados por mim este fim de semana em Cantão, quarta maior cidade chinesa.
Post-scriptum: é verdadeiramente interessante o fascínio que a emergente classe média chinesa tem pela cultura ocidental, principalmente pela cultura alemã e francesa. Contrastando com outros países asiáticos, incluindo as RAE de Macau e Hong Kong, em que as culturas da moda são a japonesa e a anglo-saxónica. Na China vêm-se quase exclusivamente Peugeots, Citroens, Volkswagens e Mercedes, enquanto noutras metrópoles asiáticas quase só se vêm Toyotas, Hondas, Kias, Hyundais, Daihatsus e Subarus. A água mineral mais chique na China é a Evian, apesar de as pessoas geralmente optarem por água destilada local com nomes sugestivos tal como "Eau de Santé" ou "Fleur de Mediterranée". Em qualquer cidade de grande ou média dimensão há restaurantes alemães, muito na moda, vendendo salsichas com chucrute e Paulaner Weissbier. Algo que deveria ser capitalizado pelos europeus.
Comentários
mas via no bom caminho, para bem de todos nós!
Na economia vale a máxima: o que é bom para os outros é bom para nós. Mais consumo de produtos de luxo europeus, mais turismo, mais consumo de serviços de alta qualidade europeus, etc...
E, sobretudo, é bom em si: isto é, é bom que os outros seres humanos, como nós, vivam melhor!
Força China!
Já a pena de morte continua a ser o tal "espinho na garganta"...
Contudo, penso que a recessão nos EUA e na Europa e o previsto arrefecimento das economias emergentes, não deixará, também, de afectar a China.
Hoje, segundo informações dos meios económicos ocidentais, a China debate-se com falências em série de pequenas e médias empresas que se dedicavam à confecção e fabrico de produtos domésticos - dos móveis, aos pavimentos, revestimentos, artigos de cozinha, mobiliário, têxteis-lar,...
O sistema «capitalomunista» é difícil de gerir, tantas são as contradições.
A abertura cívica e a modernização social são algumas das válvulas de escape, para contornar inevitáveis crispações...
A China conhece com rigor histórico o significado e as consequências do "voltar-se para dentro"...
Para já o mercado interno, qualquer coisa como 400 milhões de potenciais consumidores, será sempre uma imensa janela (um janelão) de oportunidades.
Um investimento de baixo risco que terá de ser bem trabalhado pelo marketing, já a taxa de poupança chinesa é 30 vezes superior à dos americanos e europeus.
Enfim, penso que a crise chegará - de um modo ou de outro - a toda a parte...
Mas o "gigante" chinês tem múltiplos instrumentos de regulação e de incentivos económicos, suficientes para acudir ao "arrefecimento" da sua economia.
Só uma queda virtiginosa da cotação do dólar poderia lançar a confusão.
Nós, europeus (não só os portugueses) estamos bem pior!
Quanto à sujidade, recomendo-lhe passear um pouco mais por Bruxelas, Roterdão, Nápoles, Viena, Atenas ou Londres para poder comparar melhor.
Ao André Pereira: em riqueza per capita está em 127º, mas tem uma população de 1300 milhões de habitantes, e está razoavelmente bem colocada comparativamente com outras nações asiáticas.
Ao e-pá: a crise económica causa algum impacto, principalmente devido ao peso das exportações na economia chinesa e ao respectivo impacte da redução da procura. No entanto, é uma economia que sofrerá menos que as ocidentais, por dois motivos: (1) é uma economia em que o sector financeiro é estritamente regulado pelo Estado e (2) a economia chinesa estava a entrar em sobreaquecimento, e arriscava um ciclo inflacionista que poderia ter comprometido a sustentabilidade do seu crescimento. Quanto ao dólar e as moedas chinesas (o Renminbi, o Dólar de Hong Kong e a Pataca), que estão ancoradas no dólar, estão a valorizar-se face ao Euro, e não se pode esquecer que o Banco Central da China possui 40% de todos os dólares americanos em circulação, facilmente podendo conter uma queda brusca do dólar, aliás agora menos provável com a confiança dos mercados ligada ao início da presidência de Obama.