Maldita hipocrisia
Comentário - O CDS já se esqueceu do seu silêncio vergonhoso enquanto se torturaram presos em Guantánamo e do fato às riscas com o ministro da Defesa dentro, a transpirar felicidade na companhia dos falcões de Bush?
Apostila -
Janeiro 20, 2009 by José Saramago
Donde saiu este homem? Não peço que me digam onde nasceu, quem foram os seus pais, que estudos fez, que projecto de vida desenhou para si e para a sua família. Tudo isso mais ou menos o sabemos, tenho aí a sua autobiografia, livro sério e sincero, além de inteligentemente escrito. Quando pergunto donde saiu Barack Obama estou a manifestar a minha perplexidade por este tempo que vivemos, cínico, desesperançado, sombrio, terrível em mil dos seus aspectos, ter gerado uma pessoa (é um homem, podia ser uma mulher) que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida. Estes conceitos que alguma vez foram o cimento da melhor convivência humana sofreram por muito tempo o desprezo dos poderosos, esses mesmos que, a partir de hoje (tenham-no por certo), vão vestir à pressa o novo figurino e clamar em todos os tons: “Eu também, eu também.” Barack Obama, no seu discurso, deu-nos razões (as razões) para que não nos deixemos enganar. O mundo pode ser melhor do que isto a que parecemos ter sido condenados. No fundo, o que Obama nos veio dizer é que outro mundo é possível. Muitos de nós já o vinhamos dizendo há muito. Talvez a ocasião seja boa para que tentemos pôr-nos de acordo sobre o modo e a maneira. Para começar.
Publicado em O Caderno de Saramago |
Apostila 2 - (CDS) “Eu também, eu também.”
Comentários
Que relação de proximidade ideológica e com os valores - sim com os valores da liberdade, dos direitos humanos, do trabalho - tem o PCP! Se Saramago quer elogiar Obama deveria ser coerente e sair do PCP.
Não podemos ter 2 caras. O PCP ainda no ´+ultimo Congresso disse apoiar Cuba, vietname, Coreia do Norte e China. Obama NADA, NADA, NADA tem a ver com esses regimes autitários e violentos.
Basta de hipocrisia dessa esquerda com manias de superioridade moral. Eles pouco fizeram na História da humanidade pelo progresso e pelo desenvolvimento da Humanidade.
José Saramago, porque é uma personalidade especial, pratica no PCP, aquilo que o PS, anda há anos a vangloriar-se.
Pratica, sem anunciar, uma ampla liberdade de opinião!
É verdade que nem todos os comunistas podem gabar-se da mesma façanha, sem passarem por penas disciplinares, expulsões, purgas, etc. Mas todos os partidos têm historial - maior ou menor - nesta área...
José Saramago tem tido, em todas as ocasiões, liberdade de exprimir-se e emitir a sua opinião, mesmo em assuntos que colidem com a posição oficial do PCP.
Portanto, a acusação de hipocrisia dirigida a Saramago é presumida e iníqua.
Saramago milita no PCP, mas não lhe pertence, nem é obrigado, para emitir uma opinião ou, escrever um texto de alto valor literário e, inteligentemente, questionador da figura política e humana de Barack Obama de, previamente, declarar a sua filiação partidária ou pedir autorização a alguém.
Vive como deve viver um homem livre.
Caro André Pereira:
Saramago não participou no último Congresso do PCP, não apresentou nenhuma moção, não votou qualquer resolução.
Logo não tem as tais 2 caras, facto que, aliás, o próprio denuncia no seu brilhante texto: “Eu também, eu também.”
A Esquerda, quando autêntica e ideologicamente sólida, tem, deve praticar, uma vivência baseada na superioridade moral (dos princípios).
Não se trata de algo inato ou congénito mas, comparativamente, em relação à Direita.
Direta esta que não tendo moral é "moralista" e, para além disso, oportunista nas posições que assume, reaccionária na ideologia e retrógada na caminhada para o desenvolvimento.
Fica assim explicado que a sua repulsa por uma superioridade moral da Esquerda, não é um fantasia, nem um pin para exibir na lapela.
Porque, de facto, no seu comentário, não se percebe se a sua aversão se dirige à Esquerda, se à existencia de uma superioridade moral, ou a ambas.
Saramago não é um homem do partido (nem sequer um homem de partido) e interventor na sociedade pelos veredas partidárias, na maior pparte das vezes armadilhadas e castradoras.
Escreve e, quer gostemos, ou não, é um escritor laureado. É, deste modo, com esta assinatura, que intervém na sociedade.
E, acima de tudo, é um militante do pensamento, um observador do Mundo, um relator romanesco da ficção histórica, um artífice das letras e, indubitavelmente, um vulto da literatura portuguesa e mundial.
O blog de José Saramago não é, todos sabemos, um orgão oficial do PCP, como julgo que o Ponteeuropa não o é do PS.
José Saramago não tem fidelidades caninas, nem obediências acéfalas.
Pelo contrário preza a sua independência. E será, talvez, por essa razão que é um grande escritor.
Saramago, amigo pessoal de Fidel perante a eminência do fuzilamento do general Ochoa, teve a lucidez e a coragem de afirmar publicamente:
"Até aqui cheguei eu! Daqui para a frente, não!" (citação livre)
José Saramago tem um longo lastro de combate que excede as letras e, em muitos aspectos, mostra no seu texto identificar-se com Obama no pulsar de valores em que várias gerações, neste País, se reconhecem.
Quando escreve: "No fundo, o que Obama nos veio dizer é que outro mundo é possível. Muitos de nós já o vinhamos dizendo há muito" está a falar da solidariedade, das causas comuns, das utopias que eram, em tempos, apanágio e o cimento que uniam a Esquerda, para além das quesílias partidárias e das naturais divergências.
Mais, Obama não pertence a nenhuma força partidária, nenhuma "internacional", daquelas que pairam por cá.
Ninguém tem autoridade para proibir que o comum cidadão, ou homens com a estatura de Saramago, admirem (e expressem esse prodigioso sentimento) Obama.
Que como sabemos é membro do Partido Democrático americano e actual Presidente dos EUA.
Uma das suas precoces e grandes mudanças que, em pouco tempo, operou no Mundo é levar homens como Saramago, a por de lado o "anti-americanismo" que Bush alimentou e ter a ousadia de escrever o texto de 20 de Janeiro, onde interroga:
"Donde saiu este homem?"
Caro André Pereira:
Pior que o seu conjecturado comentário só a atitude paranóica de um ex-sub-secretário de estado da Cultura, de sua graça, Souza Lara.... que levou Saramago a um voluntário exílio em Lanzarote, privando-nos da sua presença quotidiana.
Espero que Saramago não tenha lido o seu comentário.
Poderia afastar-se para mais longe!
Declaração de interesses:
Não milito em qualquer partido político.
Gosto particularmente de alguns livros de Saramago como o Memorial do Convento.
Neste momento, por coincidência, estou a ler " A Viagem do Elefante".
Queria só clarificar que não concordo com a sua afirmação: "todos os partidos têm historial - maior ou menor - nesta área..." Trata-se de igualar tudo e todos. Penso que há diferenças grandes entre o que se passa no PS e, por exemplo, no PCP ou no CDS.
Saramago tem todas as virtudes que o é-pá lhe atribui. Também o admiro em termos culturais e literários, mas discordo frontalmente das práticas e dos processos do partido em que ele milita e do qual não se distancia nos momentos necessários