Banco de células do cordão umbilical


A regulação dos bancos de células do cordão umbilical são um bom exemplo da compreensão da vida política.

O Partido Socialista e o Governo vão no bom caminho ao criarem um banco público de células do cordão umbilical.

A República fica mais rica com este passo de fraternidade e igualdade: as células estaminais têm um potencial terapêutico: esse potencial é "propriedade" da humanidade, não de uma pessoa ou de uma família.

Um banco público é a assunção por parte do Estado de que as terapêuticas do futuro estarão ao alcance de todos e que a "lotaria genética" será compensada por um sistema de solidariedade nacional.

Nada tenho contra os bancos privados: foram uma iniciativa louvável que veio ocupar um espaço deixado vazio pelo Ministério da Saúde.

Penso que, no futuro, as famílias que depositaram as células estaminais no banco privado poderiam colocar "em rede" esses bens, eventualmente recebendo uma compensação pelo custo que assumiram ao depositar as células estaminais num banco privado.

Todos ganhariam com isso: os bancos privados não seriam encerrados, podendo manter a sua actividade lícita e meritória, as famílias que confiaram nesse serviço, poderiam beneficiar outras pessoas caso haja compatibilidade terapêutica e o serviço de saúde, em geral, teria acesso a uma quantidade significativa de células já devidamente armazenadas e estudadas.

Comentários

e-pá! disse…
BANCO DE CÉLULAS DO CORDÃO UMBILICAL ANUNCIADO ONTEM EXISTE HÁ DOIS ANOS.

O banco de recolha de células de cordão umbilical que irá arrancar este ano, tal como foi ontem anunciado no Parlamento pelo primeiro-ministro, José Sócrates, está instalado há dois anos no Centro de Histocompatibilidade do Norte (CHN), a entidade que também faz a recolha de medula óssea a nível nacional. As máquinas necessárias para a recolha e conservação custaram meio milhão de euros. E até já se fizeram recolhas. Mas todo o sistema está desligado à espera do Governo.
Helena Alves, directora do CHN, lembra a história atribulada deste banco público de células de cordão umbilical, que já tinha sido anunciado, em 2005, para arrancar no Centro Regional do Sangue do Porto. Há dois anos, a escolha sobre a entidade acolhedora acabou por recair no CHN, decisão que Helena Alves aplaudiu, uma vez que esta entidade já acumulou experiência na área da recolha de material biológico de transplantação. "Temos tudo montado há dois anos e estávamos a fazer congelações. Mas não me posso adiantar à agenda política", diz a especialista, que adianta que a maquinaria foi comprada com as verbas do PIDDAC de 2006. O que resta das amostras entretanto preservadas está ao cuidado do Instituto Português de Oncologia do Porto."


in Jornal Público, 16.01.2009, Ana Machado, pp. 10.

Caro André:

Inaugurar várias vezes a mesma obra foi uma prática muito comum, por exemplo, do venerando Américo Tomás, que tinha fraca memória e avaliava a dos portugueses como sendo ainda pior, acabando por entrar no anedoctário da mais pugente inutilidade e incapacidade, como político. Transformou-se no "corta-fitas".

Além disso, as sucessivas "inaugurações" serviam para que o almirante fosse desfilando o seu vasto leque de gafes.
Hoje, é diferente.
Começa-se pela primeira pedra. Vai um Secretário de Estado e presidentes das Câmaras.
A meio da construção, "inaugura-se", novamente, a obra porque, por exemplo, há eleições locais. Desta vez chama-se um Ministro.
No final da obra, a "inauguração solene", agora, pela mão do Primeiro Ministro com ou sem Presidente da República.

Incluir todas as vezes que vai ao Parlamento "inovações" na sua folha de créditos políticos costuma dar estas confusões. Em fim de ciclo político são, então, repetitivas.
Entramos, como habitualmente, num período fértil em "materialidades invisíveis" ou de "inovações esgotadas".

E deixamos de fora o âmbito ou se quisermos o custo/benefício desta propangandeada inovação.
Julgo que a demonstração da evidência científica para algumas das possíveis indicações será ainda pouco consistente...
O Dr. Manuel Abecassis da Unidade de Transplantação de Medula Óssea do IPO, terá com certeza, informações complementares sobre este método.
andrepereira disse…
Sabe que, no que respeita a qualquer assunto ligado ao Governo, o jornal que cita já há muito que deixou de ter credibilidade.
Nem sequer me interessa muito os detalhes de agenda. O que me interessa é discutir o espírito das medidas. E acredite que muitos não lutaram por um banco público...
Veja aqui http://corporacoes.blogspot.com/ as manipulações desta notícia do dito jornal...
e-pá! disse…
Tive oportunidade de seguir a sua pista e ler o seu comentário no blog corporacoes.
Só que, como deve saber, não é o JMF que escreve o jornal de fio a pavio...e as generalizações, em quaisquer profissões, são muito temerárias, quando não, abusivas.
Toda a gente conhece JMF - é uma figura pública por razões discutíveis.
Acaso conhece Ana Machado, jornalista?

Bem, vamos ao assunto.

Embora não sendo perito, sei que esta questão está ainda muito verde e são interessantes as diferenças de perspectivas entre Bancos de crioconservação públicos e privados.
De qualquer maneira cito-lhe um artigo especializado na matéria onde pode ler:
"On behalf of the American Society of Blood and Marrow Transplantation (ASBMT), we have reviewed the currently available data and opinions and offer the following recommendations: The committee acknowledges the expanding potential of indications for CB in the future, and suggests review of these recommendations at regular intervals."

Biol Blood Marrow Transplant. 2008 Jun;14(6):724-5.
Collection and preservation of cord blood for personal use.
by Ballen KK, Barker JN, Stewart SK, Greene MF, Lane TA;
American Society of Blood and Marrow Transplantation.
Massachusetts General Hospital, Boston, Massachusetts 02114, USA.
link.

Caro André: Só para deitar água na fervura e no delírio especulativo, garanto-lhe este artigo científico, não é uma chicana...

Finalmente, o meu comentário não deve ser interpretado como oposição à existência de bancos públicos para a criopreservação de células do sangue do cordão umbilical.
Antes pelo contrário. Só que penso que este assunto não deve ser tratado de modo precipitado.
Tudo isto me faz lembra o discurso de posse de Sócrates onde zurziu as Farmácias de alto a baixo, tendo acabado por firmar com João Cordeiro (ANF) o célebre "Compromisso com a Saúde", donde as Farmácias sairam reforçadas.

Fico espantado que um assunto tão sensível, ainda em discussão no interior da comunidade científica, em fase de monitorização, tenha entrado - como ontem entrou - na agenda política.

E não foi JMF que o trouxe à liça.
Foi Sócrates que, no Parlamento, quis anunciar uma "inovação"..., no mínimo, controversa.
Se não porquê se manteve em stand by, durante 2 anos, o Centro de Histocompatibilidade do Norte?
andrepereira disse…
http://www.ps.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1080&Itemid=26
Só agora vi o discurso de Sócrates no Parlamento. Concordo que este tema tem apenas um valor simbólico. Não tem as implicações de saúde que as outras medidas têm. Mas tem grande valor republicano e demonstra abertura ao futuro da medicina, ainda que muito incerto.
Cuidados continuados, medicina geral e familiar, orçamento digno e bem cumprido, aumento da quota de genéricos: isso é mais importante do que a medicina futurista.
Contudo, é-pá, porquê sempre tanta crítica a tudo o que o Governo faz, nomeadamente quando faz bem? É preciso de vez em quando dar um estímulo àqueles rapazes e raparigas que até parece que se esforçam um pouquinho, não acha?
Mano 69 disse…
«(...)um estímulo àqueles rapazes e raparigas que até parece que se esforçam um pouquinho, não acha?»

Nada com este ano haver eleições e logo cargos políticos apetecíveis.
E quem não chora não mama!
e-pá! disse…
Caro André:

A nossa divergência é simples, embora possa ser basilar.

Eu não comungo da ideia que o Governo tem uma Imprensa adversa na generalidade.
Claro, que a comunicação social não é uma vestal, pura e imaculada.

Tenho, apoiado o Governo nas medidas que, em consciência, merecem apoio.
Outras aceito-as mas acrescento reparos.
Finalmente, existem as que não são tranquilizantes, nem toleráveis.

Entre estas existe uma que tem, de modo especial, azedado a minha relação com a política.
A inusitada predominância (cada vez mais influente) neste terreno do marketing politiqueiro.
Da mesma bitola do que vende Quim Barreiros, Tony Carreira, etc.

Portanto, fora a minha especial aversão pela entrada arrasadora do marketing na cena política, o meu procedimento tem sido o normal para qualquer tipo de governo.

O que me mantem atento e desperta o meu rigor é a política global do Governo. Deste ou de qualquer governo. Com especial acuidade na área social, onde sempre trabalhei.
E, com toda a franqueza, nessa área, sempre a julguei, escandalosamente, neoliberal, demasiado "centrista", para um Partido de matriz socialista.
A minha intolerância (?) - ou desilusão (?) - para as derivas ou os desvios ideológicos e programáticos da Esquerda é, devo reconhecer, atávica.

Por outro lado, a minha cultura democrática diz-me que tudo é discutível, renovável, sujeito a mudança, mas integrado num processo histórico, materializado na defesa das liberdades, do progresso e - diria - da felicidade dos povos.

O "explodir" da recente crise financeira, económica e social tem levado o PS a tentar acertar o passo e a rever algumas agulhas. Espero que esta deriva não seja efémera e oportunista.
Segundo leio, no próximo Congresso parece haver, em termos globais, uma inflexão para a Esquerda.

Se "aqueles rapazes e raparigas que até parece que se esforçam um pouquinho", trouxerem algo de novo, algo que se veja, cá estarei para aplaudir. No dia a dia, porque, como sabe, os Congressos são rituais.

A minha incredibilidade brota do pesado aparelho partidário que, uma vez instalado, não se rejuvenesce de motu proprio... nem se abre ao Mundo.

Todavia, acredito que as crises criam oportunidades de mudança.
andrepereira disse…
caro e-pá. Insiste no erro. O facto de haver equipamento não significa que exista um sistema a funcionar.
Dê os parabéns pela decisão acertada e guarde essas criticas para melhor ocasião...
paula norte disse…
Será que não é de apoiar uma medida que poderá permitir salvar vidas?
Porque não extrapolar o lema sobejamente conhecido de que dar sangue é dar vida e também passar a dizer que doar cordão é dar vida?
As várias pessoas com doenças hematológicas estão decerto à espera que estas medidas sejam tomadas e eles possam passar a ter mais hipóteses de cura no futuro.
Será que não podemos parar um pouco de dizer mal de tudo e de todos e sermos solidários? (PP)

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