Cuba - Revolução fracassada (2)
Depois das ditaduras sangrentas e corruptas do ex-sargento Fulgêncio Batista, a última a partir do golpe militar de 1952, apoiado pelos EUA, o triunfo revolucionário do jovem Fidel Castro, de 32 anos, iluminou aquele saudoso 1.º de Janeiro de 1959, concretizando os sonhos de um povo e os do poeta, pensador e mártir José Martí.
Quem, como eu, sofria a ditadura fascista portuguesa, rejubilou com a vitória de Fidel na Sierra Maestra, exultou com o herói romântico Che Guevara e repudiaria o injusto boicote económico dos EUA, as tentativas de invasão e a ingerência na política interna do corajoso país.
A erradicação da pobreza, o fim do analfabetismo e a drástica redução da mortalidade infantil caminharam a par com notáveis sucessos no desporto, na cultura e nas artes. O Paraíso terrestre parecia vir a caminho quando, em Portugal, começou a guerra colonial e as prisões abarrotavam de opositores. Foi o tempo em que os democratas exaltaram o regime cubano contra o salazarismo e o inimigo comum – o governo dos EUA. Comparávamos a coragem e grandeza moral de Fidel com a pusilanimidade do ditador Fulgêncio Batista e a do velhaco seminarista de Santa Comba.
Meio século depois, após comemorações fúnebres da revolução fracassada, o que resta é o desastre económico, tornado trágico e intolerável com o fim da ajuda soviética.
O racionamento dos alimentos, a pobreza, o partido único, a degradação das condições de vida e a repressão política são a herança amarga que Raul Castro tem para apresentar ao seu povo e aos que se calaram com medo de denunciarem o pesadelo.
Da liberdade sonhada resta um regime totalitário. Cuba foi o berço da esperança, hoje é o cemitério das ilusões.
Ponte Europa / SORUMBÁTICO
Comentários
Passar ao lado do longo boicote (garrote?) económico americano, agravado após a derrocada soviética, é moldar a História aleatoriamente, enfatizando acriticamente resultados (que t~em muitas variáveis), desvalorizando meios e circunstâncias.
A grande questão cubana não é essencialmente económica.
Nesse campo tem sofrido muitas restrições, imensas privações, mas resistido estoicamente, graças à capacidade política de Fidel.
Após 50 anos, pode até reivindicar que finalmente conquistou um acesso privilegiado aos combustíveis e facilidades para a venda da safra de açucar.
O desenvolvimento de boas relações com as emergentes economias dos países sul-americanos trouxe-lhe essa solução.
E o cultivo de tabaco e sua manufactura (charutos) estão na moda em todo o Mundo.
O problema cubano tem sido a questão das liberdades fundamentais.
E, verdade seja dita, a revolução não garantiu essa benesse essencial aos cubanos e cubanas.
Cuba castrista viveu sempre assoberbada de mêdos e fantasmas internos e externos, alguns reais (invasão da Baía dos Porcos, etc.), muitos outros imaginários.
«E, verdade seja dita, a revolução não garantiu essa benesse essencial aos cubanos e cubanas».
e-pá:
A liberdade não é uma benesse, é um direito ilanienável que lhes foi confiscado em nome de uma utopia.
P. S. - Não me pesa na consciência o apoio ao boicote americano. Injusto e indigno.
O que queria dizer era:
"Benesse" (para o povo cubano) seria o Estado garantir, sem subterfúgios, a sua usufruição.
O eterno problema das liberdades e das garantias.
De resto, completamente de acordo: a liberdade é um Direito Humano ilanienável.
Ah, eu acho irônico os EUA "democracy" tem sistema de educação e saúde inferior ao de Cuba "tirânica".
Os EUA perderam o respeito do mundo com a invasão do Iraque e o campo de concentração de Guantánamo.
No post não se defendem as malfeitorias da América, refere-se a falta de liberdade em Cuba.
O que o Stefano diz é verdade mas não absolve Fidel da ditadura que impôs a Cuba.
o âmbito da Am.Latina atrapalha esta sonhada "democracia" idealizada por várias pessoas. Veja bem... Jacobo Arbenz e Salvador Allende governaram de acordo com os interesses nacionais, em detrimento dos interesses dos EUA. Que aconteceu com os 2 líderes?? Foram derrubados!
E no caso de Cuba?? A invasão da baía dos porcos foi tentativa de golpe de estado. É complicado bancar o bonzinho e liberal neste âmbito...
Imagina se em Portugal houvessem militares golpistas que tentassem "ressuscitar o salazarismo"...
Qual atitute a ser tomada?? Bancar o liberal com eles ??
A razão que lhe assiste no que afirma não justifica o que o post condena.