A faixa de Gaza e a fé
Tropas israelitas e o movimento islâmico Hamas continuam a confrontar-se nas ruas de Gaza, no 20.º dia de uma guerra que já ultrapassou o milhar de mortos e provocou uma tragédia humana.
Além da conjuntura geopolítica propícia a esta guerra, com a saída de Bush pela porta de serviço, é relevante recordar a fé judaico-cristã, que alimenta o ódio no conflito que lavra na faixa de Gaza, onde o mais implacável dos monoteísmos encontra no Corão a brutal ideologia belicista que o impele às provocações a Israel e à guerra santa.
Inicialmente, o apoio mundial ao regresso dos judeus à Palestina e a própria Declaração de Balfour pela Grã-Bretanha, em 1917, foi uma aceitação da profecia bíblica que leva, ainda hoje, os fundamentalistas evangélicos dos EUA a apoiar cinicamente os judeus:
A conquista final da Terra Santa pelos judeus precipitará, após a reconstrução do Templo de Salomão, o Segundo Advento de Cristo e a destruição final dos judeus.
Perguntar-se-á como é possível que no século XXI ainda haja quem acredite num texto bárbaro da Idade do Bronze, conhecido como Antigo Testamento, que deu origem às três religiões do livro – o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo –, mas as profecias, quando feitas antes dos acontecimentos, são para cumprir, para benefício dos profetas e alegria dos crentes.
Há quem despreze a história e esqueça que as liberdades individuais só foram possíveis no Ocidente graças à repressão política da Igreja. Por isso é preciso respeitar as pessoas sem afrouxar o combate ideológico a doutrinas totalitárias de natureza política, religiosa ou económica. E, acima de tudo, exigir a laicidade do Estado, condição sine qua non para a democracia.
Ponte Europa / SORUMBÁTICO
Comentários
A Fé - no que diz respeito a este dramático conflito - vai continuar, em ambas as partes, a sua caminhada nas mesquitas e nas sinagogas...
Resta, então, o Império.
Bem, o Império irá mudar porque é o aspecto político, ou se quisermos político-religioso.
E, politicamente, Olmert pretendia "limpar", perante os israelitas, a má imagem que criou com o ataque ao Sul do Libano, que tendo sido suportada e contrariada pela resistência do movimento Hezbollah, o tornou , hoje, cada vez mais influente na manobra política do Libano.
Ao atacar o hamas na faixa de Gaza, pretendia repetir a manobra de força - desta vez com sucesso - levando ao extermínio (não devemos ter medo de usar esta palavra em relação à política israelita) do movimento Hamas.
Apesar da desporporcionalidade dos meios usados por Israel na Faixa de Gaza, e das pesados perdas infligidas ao Hamas, em militantes e material bélico, não é previsível que consiga ajoelhar Khaled Meshaal.
Internacionalmente, Israel hipotecou a sua imagem e inquinou a possiblidade de desempenhar qualquer papel digno no processo de Paz Palestino.
Mas há outro problema.
Para Israel o tempo urge. Faltam poucos dias para mudar o "status quo" que lhe tem permitido o morticínio.
Assim, julgo que antes do dia 20, Israel vai ter de aceitar tréguas propostas pela ONU ou impostas pelos EUA (curtas, prolongadas?).
No campo interno, esta nefasta aventura em Gaza poderá não resultar em bons resultados.
A Sra. Tzipi Livni, aparecerá como candidata do Kadima ao Governo nas já próximas eleições sem ter o problema palestino resolvido.
Pior, poderá estar agravado.
Porque como companheiro de Livni, a outra grande vitima será o Al Fatah e o seu já desacreditado presidente da Autoridade Nacional Palestiniana - Mahmoud Abbas.
O "esgotamento" da ofensiva em Gaza fará aparecer (quer em Gaza, quer na Cisjordânia) , um Hamas politicamente mais forte, religiosamente mais fundamentalista.
Que será tentado a ocupar o actual espaço político do Al Fatah.
Portanto, em termos politico-religiosos, um previsível agravamento do conflito israelo-palestino.
Tanto sangue derramado, para nada!
Já depois de ter inserido este comentário, o Mundo conhece atropelos insanáveis e inqualificáveis à nossa identidade civilizacional, às convenções internacionais, ao bom senso:
A F A israelita bombardeou, hoje, as instalações da ONU em Gaza, o edificio onde estava instalada a Imprensa acreditada e, finalmente, um Hospital.
O Governo israelita diz que foi um grave erro (Ministerio da Defesa) e Livni lamenta...
O Secretário-Geral da ONU mostrou-se indignado com o sucedido.
Acho que indignar-se não chega.
É preciso impôr nesta Região um cessar-fogo.
Obrigar, quer o governo eleito de Gaza (o Hamas), quer o Governo israelita, a aceitar uma trégua, sem condições.
O Mundo está farto de (forças militarizadas maravilha, que não falham e de movimentos de resitência que, em circunstância alguma, não abdicam da força.
Hoje, Gaza é um território onde se instalou (ou instalatam) uma calamidade humanitária.
Deixou de haver espaço para demonstrações (de força ou de resistência).
A Paz tornou-se inadiável!