OE2012 – Brutal, excessivo e iníquo

Enquanto várias personalidades portuguesas subscreveram o "Manifesto em Defesa da Democracia", que é contra o Orçamento de Estado para 2012 (OE2012), qualificando o documento como "brutal, excessivo e iníquo", o PS anunciou a sua abstenção antes de o tentar melhorar.

Ninguém ignora as dificuldades do país nem a crise internacional. Só o PSD e o CDS a omitiam quando sobrepunham os seus interesses aos dos portugueses, votando contra o PEC4 por causar grandes sacrifícios. Até o PR, com folgadas provas de aversão ao PS, considera mau o presente orçamento, talvez para não perder o resto de credibilidade que ainda lhe resta em certos meios, incapaz de ser coerente com o inoportuno desabafo público, mas solidário com o Governo mais reaccionário desta segunda república.

Além das exigências da troika e do desejo do PSD/CDS/PR, há um módico de equidade que devia impedir que os sacrifícios recaíssem, quase por inteiro, sobre os funcionários públicos e os pensionistas. Cabia ao PS defender até ao limite do possível a justiça que ajuda a suportar o sofrimento por um maior número de cidadãos.

Não contando com o PCP e o BE que, há muito, desistiram de ser governo, preferindo a aliança pontual com a direita para derrubar o PS, é neste partido que ainda depositam as suas esperanças os que rejeitam o «quanto pior, melhor».

O PSD e o CDS não precisam do voto do PS para fazerem valer a sua política de terra queimada em relação à educação, à saúde e à protecção social. A insensibilidade social conta com o pesadelo em que se transformou a fantasia de Sá Carneiro – um governo, uma maioria e um presidente. Apenas lhe faz falta o conforto de um partido de esquerda que atenue a revolta social contra as implacáveis medidas que a direita recusa trocar por outras mais suaves e melhor distribuídas.

O PS, ainda que viesse a abster-se, por razões de política internacional e por não ter o direito de fazer à direita o que esta lhe fez, podia ter-se mantido silencioso quanto à sua decisão do voto. Podia e devia.

Comentários

Antonio disse…
Sem dúvida.
A.J.Seguro não tem demonstrado ser o lider que o PS necessitava.
Antonio disse…
Sem dúvida.
A.J.Seguro não tem demonstrado ser o lider que o PS necessitava.
AR disse…
Corro o risco de me repetir, mas cada vez mais me convenço que este P.S., liderado pelo Seguro, não é mais que o seguro de vida de Pedro Passos Coelho, é de lamentar... Aguardo com expectativa uma reação interna rápida e eficaz para uma alternativa de liderança,para bem de todos os portugueses...
O PS e o PSD são afinal como dois irmãoe gémeos que se guerreiam na disputa da herança da Quinta-Portugal.O PS usa o rótulo de socialista mas quando no Governo executa a Política DITADA por Bruxelas tal como o PSD quando está no Governo,embora use o rótulo de Social Democrata.Mas O PSD tem vantagem sôbre o PS porque tem a apoio do CDS/PP da chamada
«democracia»cristã onde há muita gente saudosa do Regime clerical-fascista do Estado Novo.Êstes três Partidos apoiantes da Horda mercenária da NATO e de suas guerras de rapina,formam a Direita que afinal tem a maioria na Assembleia da Rèpública.À Esquerda que está desunida só lhe resta continuar esclarecendo o Povo e fazer ver quem é que lhe atira a pedrada e dizer-lhe que em vez de
morder na pedra que deve morder quem a atira. Mas,porém,todavia,contudo....
Com populismo e demagogia/muita mentira,verdade parece/mas em liberdade e democracia/o Povo tem o Governo que merece.
e-pá! disse…
Quando AJ Seguro reconhece que este OE é mau mas não se esquece dos interesses do País (Portugal), entra numa primária contradição. Simplificando, um mau orçamento passa por “artes mágicas” a ser bom para o País... Ou, então, será melhor ultrapassar este maniqueísmo e afirmar que o PS não desfruta de condições objectivas para "julgar", sob um crivo doutrinário baseado no rigor e na transparência, este OE.

Mais uma vez um relapso pragmatismo a sobrepor-se às opções doutrinárias (não esquecer – como fez o governo no seu já repetitivo amadorismo - que o OE faz-se acompanhar pelas Grandes Opções do Plano). E se na Oposição o PS não consegue reger as suas decisões ideologicamente ninguém acreditará que o faça no Governo.

Deste modo, receoso das interpretações das cliques europeias e empenhado em dar sinais aos mercados (que estão “noutra”), acaba de voltar as costas aos portugueses, abandonando-os à insaciável voracidade da coligação neoliberal que – convinha o PS ter presente – temporariamente nos governa.
Pior, esta decisão – a abstenção - não consegue camuflar o premente interesse da actual liderança em demarcar-se de um passado recente para se afirmar no aparelho partidário (e não ao País). Ao fugir apressadamente aos fantasmas do passado corre o risco de confundir-se com as opções da actual governação.
Finalmente, a abstenção significa (politicamente) ficar ao meio da ponte, diluir-se num imaginário centro. E ninguém guardará as margens…, digo, a margem Esquerda (porque a Direita está guardada).
Não há retórica que transforme esta decisão numa atitude de oposição “responsável”. A irresponsabilidade tornou-se demasiado visível.

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