À espera de Godot…

Os partidos andam efervescentes, desorientados e, todos, foram surpreendidos pela rapidez e profundidade da degradação política. Neste ano, dedicou-se muito tempo a questionar receitas financeiras, económicas e sociais, desguarnecendo a vertente política. É desta deriva que nasce a surpreza.

Enquanto a coligação de direita se esfrangalha vítima de conflitos de interesses e de incompatibilidades políticas evidentes, o PS enumera princípios gerais democráticos e económicos tentando através deles ‘cuidar’ da coesão social.  Finalmente, o BE e o PCP apostam na oportunidade de apear o Governo e abruptamente interromper o ‘resgate’, já que tudo está a correr francamente mal.

A ‘coligação de Direita’ envolveu-se em confrontos paroquiais sobre nuances neoliberalistas e, consequentemente, acabou por alienar o respeito dos portugueses. Muitos só ao fim de um ano desta governação compreenderam o ‘projecto de mudança’ que foi anunciado (e votado) em Junho de 2011.

O PS acha que (ainda) não é tempo de chegar-se para a boca de cena. A ‘cura de oposição’ não provocou as alterações internas necessárias. O aparelho – herdado de Sócrates - ainda não foi saneado. Prefere, portanto, que a coligação em estado comatoso prossiga a trágica governação. Nos próximos tempos conta ganhar espaço de manobra para ‘minorar’ austeridades, enquanto o crescimento espera por melhores dias (eleições na Alemanha?).

BE e PCP, precisam urgentemente da ribalta política. A estratégia de distanciamento da troika (como se ela não existisse e não determinasse) colocou-os durante esta legislatura fora da centralidade das soluções. A questão da renegociação da dívida que, nesta área, é uma bandeira comum, nunca foi abundantemente explicada em todas as suas consequências (internas e externas).

Desta breve (e simplista) resenha conclui-se que a crise atravessa, de algum modo, todo o leque partidário. Chegou - inesperadamente para alguns - à rua corporizando um conceito político e cultural muito mediterrânico: unidade na diversidade.

O presidente da República faz reunir, 6ª. feira, o Conselho de Estado. Aparentemente para formalizar a crise e para ganhar espaço de actuação.  Belém, contudo, deve transformar-se no palco de uma conhecida peça do ‘teatro do absurdo’: À Espera de Godot.

Cabe aqui recordar o diálogo entre Vladimir e Estragon:
Vladimir : Well, shall we go?
Estragon: Yes, let's go.
- They do not move!

Sexta-feira, saberemos em que medida continuamos parados (sem nos mover) …à espera de Godot!
Mas sabemos que Godot não irá a Belém. Mora longe…(em Berlim?).

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