O islão, a violência e a fé
A fúria que ataca os crentes de uma religião não se
distingue da que aflige o adepto de um clube de futebol ou o fanático de um
partido político.
Cada religião considera falsa todas as outras e falso
qualquer outro deus que não seja o seu – e certamente todas têm razão –, o que
faz de qualquer crente um ateu em relação à religião dos outros. Aliás, o ateu
só considera falsos mais uma religião e mais um deus. No fundo, todos somos
ateus.
Nas sociedades democráticas não há razão para persistir um
crime tão anacrónico como a blasfémia. Era pior – e mantém-se em sociedades
teocráticas –, a apostasia. Hoje é um direito inalienável, tão respeitável como
as crenças, as descrença ou as anti-crenças. A liberdade de expressão é um
valor maior do que as idiossincrasias pessoais ou coletivas.
A civilização árabe é uma civilização fracassada e o Islão, uma
cópia grosseira do cristianismo, é o lenitivo de povos desesperados e
submetidos à violência tribal. Com o seu primarismo, exerce um notável efeito
mimético que contaminou a Turquia, o Irão, os berberes e franjas caucasianas na
Europa e nos EUA. O proselitismo cristão, contido pelas democracias, depois de
sangrentas guerras religiosas e da derrota do clero, persiste nas teocracias,
apoiado por uma implacável máquina de intoxicação, entrincheirada nas madraças
e mesquitas, e no carácter belicista com que os crentes são acirrados.
Na estrada de Damasco onde Paulo de Tarso teve a ideia de
fazer a cisão do judaísmo, globalizando o deus autóctone, de matriz hebraica,
não mais circulará o cristianismo, que ele inventou, e que Constantino utilizou
para cimentar o Império Romano, ainda que ele próprio, no seu íntimo, se
mantivesse fiel ao mitraísmo.
Nos países árabes restam pouco mais de 15 milhões de
cristãos, metade dos quais no Egito onde a vitória democrática dos Irmãos
Muçulmanos augura a sua erradicação. No Iraque já houve milhão e meio de
cristãos, número que baixou nos últimos 30 anos e se acentuou depois de quatro abomináveis
cruzados (Bush, Blair, Aznar e Barroso) terem anuído ao pedido que Bush
garantiu ter-lhe sido feito por Deus e da prova da existência das armas de
destruição maciça que os dois primeiros mostraram aos dois últimos.
O alarido da rua islâmica regressa ciclicamente quer o
pretexto sejam as caricaturas de Maomé, um livro de Salman Rushdie ou um filme
artesanal, independentemente de quem o provoca e da origem dos interesses que
podem estar ligados à geopolítica ou à luta pelo petróleo.
Seja qual for a razão, quaisquer que sejam os patifes que
lhe deem origem, não se pode tolerar que as mutilações, os ataques às
embaixadas, as lapidações e as decapitações prossigam, para gozo de Maomé e
divertimento pio.
A civilização e a barbárie têm fronteiras que nenhum deus
pode franquear e a liberdade exigências incompatíveis com os dementes que se
imolam para assassinar infiéis a troco de 70 virgem e rios de mel doce. Não há
ressentimentos ou pretextos que o justifiquem.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários