Passos e os desejos…

Passos Coelho: Ninguém deseja mais impostos, mas não se pode excluir nenhuma decisãolink

As efabulações tomaram conta da política.

Retórica é um pouco isto: perante a visão da realidade - que não se quer confrontar - contrapõem-se etéreos desejos que sejam consensuais, inocentes, assépticos, neutros, …
Todas estas desajeitadas tentativas de persuasão – de preparação - ignoram a conveniência que não deixa de ser uma emanação da realidade.

Sobre o aumento da carga fiscal só existe um atributo consensual - não é desejada. Tornou-se insuportável. Arrasta-nos para o desastre. Quando qualquer dirigente falasse na TV – latu sensu – em aumentar a carga fiscal, em agravar a austeridade, deveria surgir no ecrã a famosa bolinha vermelha. De facto, esse tipo de perorações é de uma violência inaudita.

Todavia, a ‘lengalenga passiana’ mostra como estamos dependentes, hipotecados e em que medida (profundidade) alienamos soberania. Não só no sentido financeiro estrito, mas acima de tudo politicamente. É desesperante e humilhante ter de ouvir um primeiro-ministro completamente à deriva. Sem ter a certeza do veredicto que troika ditará. Na verdade, falta concertar as bênçãos de Lagarde, Draghi e de Merkel, a ‘verdadeira’ troika, a legítima, a da ‘Bayer’...

No intervalo, no suspense que, entretanto, foi criado, por um lado, pelas hesitações da UE e, por outro, à volta da imagem do ‘bom aluno’ e não do esclarecido e responsável parceiro (europeu), o Governo não é capaz de discutir, fazer valer as suas razões (as nossas razões) e analisar os erros do processo em curso. Perdeu a capacidade de comunicar e a modéstia de saber gerir silêncios. Está encurralado. Prefere 'palrar' aos portugueses sobre desejos. Ou sobre aspirações remotas que podiam ter valimento há 1 ano, mas a realidade já cabalmente as desmentiu.

A tirada de Passos Coelho envolvendo ‘desejos’, i. e., trazendo-os da esfera privada para a vida pública, é tão somente a expressão verbal de um compulsivo vício de fazer demagogia. O País está a sofrer demasiado para tolerar arrochadas deste tipo. Ninguém tem paciência para estas estóicas prelecções.

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