Passos Coelho, facebook e um ledo e cego engano …
Passos Coelho resolveu prolongar o seu arremedo de ‘conversa em família’ de sexta-feira e pôs-se a escrevinhar no facebook:
Pasmou:
"Queria escrever-vos hoje, nesta página pessoal, não como primeiro ministro mas como cidadão e como pai, para vos dizer apenas isto: esta história não acaba assim”…
No mesmo texto, resolveu condimentar as suas aleivosias com ‘amanhãs que cantam’ e acrescentou:
“Não baixaremos os braços até o trabalho estar feito, e nunca esqueceremos que os nossos filhos nos estão a ver, e que é por eles e para eles que continuaremos, hoje, amanhã e enquanto for necessário, a sacrificar tanto para recuperar um Portugal onde eles não precisarão de o fazer"… link
As redes sociais desempenham um papel cada vez mais determinante na comunicação política. Embora estes ‘instrumentos tecnológicos de comunicação social’ (facebook, twitter, orkut, etc.) tenham ganho especial relevo público nas insurreições conhecidas como ‘as primaveras árabes’ (que funcionaram no sentido inverso: dos cidadãos contra os dirigentes) tudo começou de modo organizado – podemos assim sintetizar – com as eleições americanas disputadas entre G.W. Bush e Al Gore (2000). Depois, a crescente 'marketização' da política fez o resto.
Estas técnicas tentam ‘abrir’ uma via de contacto directo entre dirigentes políticos e cidadãos criando um ‘aparente espaço de debate e de reflexão’, na verdade, absolutamente condicionado ou por ‘falanges de apoio’, pelo ‘fecho de comentários’ ou, ainda, por ‘desvios’ da centralidade do tema.
Na verdade, estas técnicas de comunicação cedo se desviaram dos nobres objectivos inicialmente previstos e tornaram-se vulgares caixas de ressonância dos decisores, sem qualquer tipo de abertura ao debate e fomentadoras de uma participação virtual. No final – e essencialmente no que respeita ao facebook - restam ‘contabilidades’ do tipo ‘gosto/não gosto’ sem qualquer carga qualitativa, sublinhando-se os números de seguidores e de mensagens que mereceram quaisquer tipos de comentários (em regra jocosos e telegráficos).
A apropriação pelo primeiro-ministro português destas ferramentas de comunicação é extremamente reveladora da dificuldade de transmitir, na última comunicação que dirigiu aos portugueses, uma mensagem credível, oportuna ou, no limite, ajustada. Na realidade, após as primeiras medidas de austeridade a mensagem que foi – insistentemente – dirigida aos portugueses foi: ‘não estão previstas, nem serão necessárias, novas medidas de austeridade…’ link; link.
Passos Coelho tenta instrumentalizar o facebook numa desesperada tentativa de conciliar os cidadãos com decisões políticas que, dada a violência que encerram, afectam a profundamente sociedade e têm um efeito ‘boomerang’ sobre a credibilidade (política) dos decisores. Para conseguir o objectivo despe-se da qualidade de dirigente responsável pelas medidas anunciadas e encarna o papel de cidadão. Vai mais além e assume, indecorosamente, o papel de ‘pai’. Inconscientemente, foi levado a tentar ressuscitar – paternalistamente - a abjecta figura do ‘pai tirano’.
Passos Coelho sabe que ‘mexeu’ numa área sensível e contraditória da política deste Governo ao entrar, deste modo, no âmbito do Estado Social. Para um Governo que tão veemente tem defendido – na teoria e na prática - o estrangulamento (quando não o fim) das prestações sociais, a 'sobretributação' dos trabalhadores para a Segurança Social abre, inexoravelmente, uma caixa de Pandora. O primeiro-ministro perde definitivamente espaço para, de futuro, continuar a zurzir nas prestações sociais tecendo enviesadas considerações sobre sustentabilidade. Compromete de uma penada um objectivo oculto da doutrina neoliberal que enforma a gestão política do seu Governo.
De pouco vale recorrer ao intimismo do facebook. O seu espaço de manobra afunila-se. De facto, como escrevinhou, ‘esta história não acaba assim…’. Melhor, não acabará assim...
Sexta-feira passada terá posto à solta demónios que (ainda) se encontravam adormecidos.
De pouco vale recorrer ao intimismo do facebook. O seu espaço de manobra afunila-se. De facto, como escrevinhou, ‘esta história não acaba assim…’. Melhor, não acabará assim...
Sexta-feira passada terá posto à solta demónios que (ainda) se encontravam adormecidos.
Não demoraremos muito a saber.
Comentários
estou a vê-los "Ó Passos, o povo vai ficar zangado com isto pá." - "Não te preocupes, descarregam nas redes sociais a revolta e ficam mais calmos..."