Dias de cólera e de demência
No Egito trava-se um combate cruel e sanguinário. De um lado encontram-se os que foram apeados do poder a que acederam democraticamente, odiando a democracia; do outro, os que o conquistaram por um golpe de Estado e repudiam a submissão à sharia.
Há quem pense que a democracia confere à maioria o direito discricionário e que tudo é permitido, mas não há democracia onde os direitos das minorias não forem respeitados.
Entre a força das armas dos militares e as hordas de fanáticos islâmicos não se brinca à democracia e à incerta laicidade, é a geoestratégia global que arma os militares e excita os Irmãos Muçulmanos. Por entre uma confrangedora orgia de sangue e violência.
E não acusem os suspeitos do costume desta manifestação de intolerância fascista.
Há quem pense que a democracia confere à maioria o direito discricionário e que tudo é permitido, mas não há democracia onde os direitos das minorias não forem respeitados.
Entre a força das armas dos militares e as hordas de fanáticos islâmicos não se brinca à democracia e à incerta laicidade, é a geoestratégia global que arma os militares e excita os Irmãos Muçulmanos. Por entre uma confrangedora orgia de sangue e violência.
E não acusem os suspeitos do costume desta manifestação de intolerância fascista.
Comentários
A cavada e dolorosa trincheira onde de um lado estão os defensores da islamização do regime e do outro - uma não menor 'maioria' - aqueles que se consideram herdeiros da revolta de Tahir e defendem um novo regime (liberal e laico) acabou por envolver as Forças Armadas que entra neste conflito com os campos extremados e inconciliáveis.
O regresso a um 'neo-mubarakismo' defensor de um Estado de contornos laicos (pelo menos 'não islâmita') mas altamente cerceador das liberdades cívicas é a grande ameaça que o dia a dia dos confrontos faz pairar sobre o Egipto.
O caminho para o regresso a um 'regime militar', necessariamente musculado, com tiques ditatoriais, depois de expurgado o incómodo ditador Mubarak, é a real ameaça que paira no ar.
Neste momento - e com o monumental número de mortes no currículo conseguido em poucos dias - a Forças Armadas não têm qualquer margem de recuo e vão tentar impor pela força um simulacro de coesão nacional.
Terá sido essa a razão que levou à precoce demissão de Mohamed El Baradei - um barómetro para o Ocidente mas pouco influente na política nacional - que destroçado pela violenta repressão e desiludido quanto ao futuro do 'novo' regime se afastou com oportunidade e dignidade do enorme pântano em fase de (sangrento) enchimento...
A demissão de ElBaradei deveria ser devidamente interpretada e valorizada nas futuras reuniões dos organismos internacionais (que vão querer ou ser chamados a pronunciar-se).
Hoje os motivos são os mesmos. A diferença é somente de quem dispara os canhões...
Ainda hoje me surpreendo com a capacidade do diplomata Eça de Queirós para analisar a política.
Filomena Mónica realça bem essa faceta do Eça.