O cónego Melo, a estátua e a desmemória
O funeral do cónego Eduardo Melo, da Sé de Braga, deu origem a uma importante
concentração fúnebre. Uns foram para terem a certeza de que ficaram livres de
uma testemunha incómoda, outros para prestarem homenagem ao homem que não
hesitaria em defender a Igreja à bomba.
Não foi a devoção que o celebrizou, foi o poder que o tornou temido. A estátua que lhe erigiram não foi uma homenagem às ave-marias que rezou, às missas que disse ou à frequência com que sacava do breviário. Foi o pagamento de favores, das cumplicidades que teceu, do poder que tinha. Não era homem de andar de hissope em punho a aspergir beatas que arfavam à sua volta antes da Revolução de Abril, era um homem de ação. Do futebol à política. Do salazarismo ao MDLP.
O cónego Melo pode ter sido alheio ao assassínio do padre Max, cujo crime ficou impune graças a uma investigação pouco eficiente, mas presume-se que não o chorou.
Na morte teve a acompanhá-lo o inevitável presidente da Câmara, Mesquita Machado, o Governador Civil e um secretário de Estado, além de gente anónima que aproveitou os autocarros gratuitos para ir a Braga.
O bem-aventurado cónego, que nunca renegou a admiração por Salazar e a animosidade à democracia, foi a enterrar quatro dias antes do 25 de Abril que tanto detestava. Podia ter vivido até ao 28 de Maio. Era uma data mais grata à sua alma, um consolo para quem nunca se rendeu à democracia.
Finou-se no ano da graça de 2008 da era vulgar, com direito a um voto de pesar da AR, proposto pelo deputado do CDS, Nuno Melo, com a abstenção do PS e os votos contra do PCP e BE.
Bastaram 5 anos para esquecer o homem e perpetuar o cadáver. Agora, na inauguração, estarão o bem-aventurado Mesquita Machado e, quiçá, o canonizável Alpoim Calvão, um cheio de dinheiro, o outro cheio de medalhas, para admirar o bronze do homem com coração de ferro. A morte lava mais branco.
Não foi a devoção que o celebrizou, foi o poder que o tornou temido. A estátua que lhe erigiram não foi uma homenagem às ave-marias que rezou, às missas que disse ou à frequência com que sacava do breviário. Foi o pagamento de favores, das cumplicidades que teceu, do poder que tinha. Não era homem de andar de hissope em punho a aspergir beatas que arfavam à sua volta antes da Revolução de Abril, era um homem de ação. Do futebol à política. Do salazarismo ao MDLP.
O cónego Melo pode ter sido alheio ao assassínio do padre Max, cujo crime ficou impune graças a uma investigação pouco eficiente, mas presume-se que não o chorou.
Na morte teve a acompanhá-lo o inevitável presidente da Câmara, Mesquita Machado, o Governador Civil e um secretário de Estado, além de gente anónima que aproveitou os autocarros gratuitos para ir a Braga.
O bem-aventurado cónego, que nunca renegou a admiração por Salazar e a animosidade à democracia, foi a enterrar quatro dias antes do 25 de Abril que tanto detestava. Podia ter vivido até ao 28 de Maio. Era uma data mais grata à sua alma, um consolo para quem nunca se rendeu à democracia.
Finou-se no ano da graça de 2008 da era vulgar, com direito a um voto de pesar da AR, proposto pelo deputado do CDS, Nuno Melo, com a abstenção do PS e os votos contra do PCP e BE.
Bastaram 5 anos para esquecer o homem e perpetuar o cadáver. Agora, na inauguração, estarão o bem-aventurado Mesquita Machado e, quiçá, o canonizável Alpoim Calvão, um cheio de dinheiro, o outro cheio de medalhas, para admirar o bronze do homem com coração de ferro. A morte lava mais branco.
Ponte Europa / Sorumbático
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rouxinol de Bernardim