As candidaturas independentes e a sobrevivência deste Governo


Penso que quem se excitou com as alterações à Lei Eleitoral Autárquica, que vieram permitir as candidaturas independentes, já se desiludiu. As notícias sobre a morte do monopólio partidário foram exageradas e ainda mais excessivas as esperanças sobre o fim dos compadrios municipais.

Não interessa à reflexão que pretendo, se os independentes são filhos do ressentimento, por terem sido preteridos nos partidos, dos ódios pessoais, da obsessão mediática ou das ambições pessoais. Alguns há que sonham com uma pedrada no charco do caciquismo e são portadores de projetos de mudança mas, quase todos, se acolhem à sombra tutelar da máquina de um partido que se esconde e dos patrocínios que recolhe.

Tal como nos designados pelos partidos, quase sempre de forma pouco transparente, há nos «independentes» os bons e os maus.

O problema que as próximas eleições autárquicas levantam, aumenta com a presença de independentes, sejam eles bons ou maus. Perante a cumplicidade do PR, só uma derrota arrasadora dos partidos da coligação os podia remover do Governo, num ato de justiça e higiene política. E arriscamo-nos a ver os resultados eleitorais diluídos e votos perdidos em candidaturas inconsistentes, com os partidos de esquerda, sobretudo o PCP e o PS, penalizados pelo aventureirismo de intelectuais irreverentes e de políticos profissionais desempregados.

 A única vantagem é o teste a que Seguro se submete. Uma vitória tangencial do PS não seria compatível com a prorrogação do prazo de validade do atual líder.


Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Agostinho disse…
Está visto que Seguro não está nada seguro. A aura que transparece da sua figura é de alguém que já não acredita em si próprio. Como é que poderá atrair a devoção dos fiéis e a conversão dos infiéis? Teve um sonho há alguns anos; sorrateiramente, foi atando umas linhas quando o palco se ia esvaziando. Ora, é sabido que sonhos não passam de sonhos: alguns são bons mas apenas enquanto se dorme.
Mal lhe surgiu uma oportunidade, apressadamente, sem se poder conter, desatou a lançar o foguetório todo, morteiros e fogo-de-artifício. Mas não conseguiu acordar o povo e muito menos convencer. O povo sagrado como sofre de sonambulismo crónico irá, embora em menor número - isso nem importa para o resultado final - irá, dizia eu, botar o papelinho no dia das eleições como sempre fez, como se tratasse do arraial de Santo António: comer uma sardinha e beber um tinto.
Diga-se que há por aí uns rebeldes mas não aquecem nem arrefecem pois, democraticamente, a manada é que vale. Continua com uma fé tremenda que a dispensa da trabalheira de pensar… O povo é sereno dizia o senhor almirante Pinheiro de Azevedo quando ainda eram possíveis as revoluções. Agora? Chapéu!
A atual versão do poder lusitano, ao que parece, ainda não acabou de representar a peça que lhe foi encomendada. Tem muitos encenadores e pontos a debitar em redor da cena a magia da contradição baralhando o espectador. A gritaria que se ouve constantemente e a quebra de alguns focos de luz fazem parte da coisa. Não há indícios de que no olimpo haja agendamento para o concílio dos deuses. Por enquanto, estão a gozar à fartazana, a brincar aos pobrezinhos. Ainda estará longe a cena que ocorreu no tempo do filósofo que teve de ir fazer uma atualização na erudição francófona após a ida do porta-voz conciliar à RTP despejar o veredito supremo. O tempo do heroico cantor lírico ainda não chegou? Quem sabe se o outono antecipará algum furacão invernal?
Não era esta encomenda que eu queria aqui deixar. O que eu queria era simplesmente confirmar, com o devido respeito, que não há independentes, como é referido por Carlos Esperança; e muito bem diga-se de passagem. Qual a motivação dos ditos? Um sonho? Inveja? Ganância? Nada disso. O que eles dirão dentro de momentos é que vão trabalhar abnegadamente em prol do bem comum, servir os superiores interesses da Nação. Alguém acredita? Mesmo assim, como antigamente, “lá vamos cantando e rindo, levados, levados sim…”.
Lembram-se de quem pôs o Mestre de Avis, o Duque de Bragança, o Salazar, o Spínola, e o etc. na cadeira? Quem será o nosso D. Sebastião? Quem travará a guerra da independência, da restauração? O Costa…
Agostinho:

Só posso agradecer um comentário tão bem escrito e ponderado.
José Batista disse…
Sobre esta matéria penso diferente.
Julgo necessário e conveniente que os cidadãos não militantes de partidos possam candidatar-se às autarquias. O problema é o número de assinaturas requeridas, que não se percebe como é tão elevado (vários milhares...), excepto se o admitirmos como um modo de impedir essas mesmas candidaturas...
Ora, a democracia não se esgota nem, muito menos, é propriedade dos partidos.
José Batista:

Para além das razões conjunturais que me parecem desaconselhar o dispersar de votos contra os partidos do Governo, concordo consigo.

Infelizmente reparo que os independentes só o são depois de terem perdido as eleições dentro dos seus partidos. Repare nos nomes dos «independentes» de um concelho que conheça.
José Batista disse…
Caro Carlos Esperança

Compreendo o alcance da sua posição, e parece-me que a sua recomendação tem toda a pertinência.
De qualquer modo, apesar de estar cheio de vontade de atirar o governo fora, como coisa não apenas imprestável, mas infecta, gostaria que o governo das autarquias se centrasse mais nos problemas que as pessoas sentem e que é preciso resolver, do que nas lógicas partidárias com vista a caucionar ou a contestar a política governativa nacional. O que eu queria é que, pelo menos a nível local, os cidadãos fossem chamados e envolvidos com vista à resolução das matérias que directamente lhes respeitam. É esse, de resto, o sentido que julgo mais nobre da acção política.
E fazer das autarquias trampolim para outros lugares mais apetecíveis, vejo-o como uma espécie de engano... consentido.
O que não me entusiasma.
José Batista:

Não tenho argumentos poderosos para contrariar o seu ponto de vista.

Creio que são legítimas as duas posições, a sua e a minha, embora possam conduzir a votos em candidaturas diferentes.

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