PR, PM e mosquitos algarvios

Quem sabe se a augusta ordem «Diptera», a que os mosquitos e melgas pertencem, não os instruiu para os ataques devastadores a que sujeitaram turistas inocentes? Incapazes de discernirem entre um operário belga e um PM português, inaptos para a suavidade a que convidam as pernas de uma jovem holandesa, moldadas pela ginástica e bronzeadas pelo sol, e assanhados com a presença do PR e do PM, quiseram vingar-se das mãos que assinam de cruz as decisões do Governo de que é cúmplice?

Chegam-me ecos de bandos de melgas e mosquitos  que saíram do habitat onde os mais altos dignitários deviam estar e atacaram impiedosamente quem não leva segurança nem repelente, quem passou um ano inteiro de trabalho e sonhou com o merecido ócio, quem investiu na quinzena as parcas economias do ano, que pode ser o último, com trabalho.

Dispuseram-se em bandos e voaram em formação bélica com os corpos magros e pernas longas numa sanha que só aplaca a raiva em picadas cirurgicamente dirigidas aos corpos quentes dos veraneantes, onde espetam o ferrão e sugam com volúpia o sangue de quem nunca mais pensará que «dar sangue é salvar uma vida», porque a vida dos insetos, não sendo tão nefasta nem tão longa quanto a dos governantes, causa incómodos que leva os turistas a seguirem o conselho do PM – a emigrarem.

Não sei quantos dos 39 géneros de mosquitos e 135 subgéneros no total, com mais de 3.200 espécies conhecidas, são os algozes que infernizam os desprevenidos turistas que iam em busca de sol e praia e foram dadores involuntários de sangue, vítimas da tromba (probóscide) que, como uma sovela, perfura a pele e chupa o sangue, enquanto a melga, na volúpia da doce aspiração, aquieta o par de asas e descansa no par de halteres.

Também nós, os sedentários, que ficámos em casa, não sentindo as picadas de seres que raramente ultrapassam 15 mm de comprimento e 2 miligramas de peso, sofremos o ódio de quem ataca as nossas pensões, a lâmina com que as querem cortar e as justificações com que selecionam as vítimas.

Também nós, reformados e pensionistas, sentimos que o sangue que resta nos é sugado numa raiva incontida a que escapam os privilegiados do costume. Não há mosquiteiros que nos livrem do fisco e inseticidas para repelirem estes governantes, mas há ainda um módico de força anímica que nos impele a lutar e a empurrá-los para os esgotos onde os mosquitos e melgas se podem repoltrear sem necessidade de atacarem pacíficos turistas.

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