O Governo de Paulo Passos Coelho e Pedro Sacadura Portas

Eça nunca deixou de ser uma referência literária e o cirurgião de serviço a quem todas as oposições tomaram de empréstimo o bisturi, para drenar os furúnculos dos Governos de turno.

Desde 1885 que se aplica a frase que exorna este texto, exceto nos tempos sinistros do salazarismo, por motivos atendíveis, mas nunca antes, desde a ditadura de Pimenta de Castro, qualquer Governo eleito, mereceu tanto a verrina iconoclasta que remete para o Conde D’Abranhos e para a Campanha Alegre, onde jazem as páginas que urge reler.

Falta a Passos Coelho um biógrafo da dimensão de Z. Zagalo. Poderá ser ainda Miguel Relvas se alternar a defesa da língua portuguesa e dos negócios com o ajuste de contas, depois da sua queda d’«Este governo [que] não se remodela… remenda-se porque é um trapo».

Passos Coelho apareceu no Governo como Pilatos no Credo. Achava-se no sítio donde se sai para primeiro-ministro quando o pior PR desta República viu que podia substituir um ódio de estimação por um amor de circunstância, através de eleições antecipadas. O PM acabou a entregar a liderança ao CDS, que as sondagens atuais dão como o partido mais irrelevante nas intenções de voto, e o PR a fazer de ama-seca de dois comparsas do nosso desalento coletivo, na irrevogável teimosia de os manter.

A festa do Pontal, onde o hábito litúrgico impõe ao líder do PSD que galvanize as bases e alente a militância, acabou por dar origem ao ato inqualificável de o putativo PM fazer chantagem sobre o Tribunal Constitucional. A ausência de formação democrática de um salazarista rancoroso com o 25 de Abril atingiu o apogeu no ato de subversão das regras políticas, no desrespeito boçal pela independência dos Tribunais.

Ponte Europa / Sorumbático

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