A miopia de alguma esquerda e um manual terrorista

A confusão entre os pacíficos seguidores de um credo anacrónico, nocivo e perigoso – o Islão –, com os produtos tóxicos desse mesmo credo – os terroristas –, tem conduzido a extrema-direita a aproveitar o pântano da confusão e a tirar dividendos políticos.

A má consciência dos cruzados que invadiram o Iraque e que a força das armas impediu que fossem sujeitos ao julgamento do TPI, conduziu à benevolência com que o terror da concorrência é tratado e ao pretexto que conduziu à desforra. Em 8 de janeiro de 2004, há 11 anos, quatrocentos técnicos da equipa norte-americana especializada em busca de armas de destruição maciça abandonaram o Iraque, sem que alguma arma proibida tenha sido descoberta. Não é o remorso que leva à condescendência para com a Arábia Saudita que fomenta e subsidia o terrorismo, mas os interesses do petróleo.

Teimosamente, há quem prefira conformar-se com a espiral de ódio xenófobo a tratar as religiões como associações privadas, sujeitas às mesmas normas. O incitamento ao ódio é crime, quer seja promovido pelo cardeal Rouco Varela na catedral de Madrid, por um rabino-chefe da grande sinagoga de Jerusalém ou por um xeque, mulá ou aiatola de uma qualquer mesquita onde destile veneno ou por uma associação ateísta.

A fé não pode ser ópio que promova o terror. Mais importante do que a fé individual é o livre-pensamento universal. A herança de Voltaire é mais generosa do que a de Abraão.

O Estado democrático deve defender o direito à crença e à descrença, sem tolerar que os incitamentos ao ódio fiquem impunes. A liberdade é um bem universal, a crença é um aconchego individual. Não cabe ao Estado pronunciar-se sobre a fé, mas a caça ao voto leva os partidos a postergarem a laicidade e a concederem privilégios que exoneram as sotainas das exigências legais.

A tragédia de ontem, em França, só admite o cumprimento da laicidade consagrada na lei e não a tergiversação face aos incitamento ao ódio destilado nas madraças, mesquitas e através da Internet ou pelo catolicismo da menina Le Pen.

Comentários

Anónimo disse…
O grande apoio mediático a estes acontecimentos deixam me sempre a pensar, quem fez e a mando de quem...
Estas barbaridades deveriam ser severamente punidas, mas também muito transparentes nas suas investigações.
Espalhar o terror no comum dos mortais começa a ser demasiada notícia.
Bem haja
a.castro
A. castro:

A pertença islâmica, a militância jihadistas e o massacre no Charlie Hebdo não são obra da CIA, apesar dos muitos desmandos desta.
Anónimo disse…
Carlos Esperança:

Tenho para mim que nem todos os males do mundo pertencem, ou está por detrás a CIA.
Mas até uma barbaridade como esta, e outras a que temos assistido, para além de me deixar triste, deixam me também de "pé atrás"...
E quanto a deuses estou perfeitamente alheio a qualquer tipo de crença ou religião.
Bom fim de semana
a.castro
brites disse…

o direito de por meios violentos abater inimigos é um exclusivo dos ocidentais?

odeio violência. em paris, no iraque, na líbia, na síria,onde quer que seja.

em troca de petróleo, gás, diamantes, escravidão, ainda me é mais intolerável

Lobo disse…
A protecção de todos numa sociedade centra-se na vigilância de cada um.

Não é uma questão de ser ou não espia ou "bufo" mas sim de estar atento e interventivo ao que se passa em seu redor.

Ao Estado (laico) compete proporcionar as condições para que os cidadãos possam exercer os seus direitos e deveres, mas também ser aconfecional!

De resto qualquer actividade de índole compulsória (terrorista)pode e deve ser combatida e banida, mesmo com o uso da força!

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