Paris valeu uma missa
A manifestação de Paris foi relevante e necessária. Foi um
dos maiores acontecimentos dos últimos tempos, a nível global, ultrapassando os
dolorosos motivos que reuniram hipócritas de vários quadrantes e alguns chefes
de Estado e de Governo que deviam ser julgados por crimes graves. Importantes
foram os homens e mulheres anónimos que ali estiveram para dizer não à
violência religiosa e ao direito sem reservas à liberdade de expressão.
Mas não é altura de misturar as nódoas no pano alvo do repúdio
pelos crimes sectários de uma religião que já foi tolerante quando o
cristianismo era a mais perversa. É altura de exigir que ao medo que sentimos
oponhamos a coragem que nos tem faltado.
Ontem, em Paris, uma multidão imensa defendeu a liberdade
que hoje mesmo começou a ser restringida. O medo é o veneno que mais nos pode
matar. Mata-nos primeiro o espírito e expõe-nos depois o corpo. Vamos morrendo
em cada silêncio que fazemos, em cada grito que calamos, em todos os instantes
em que ficamos mudos à violência.
A utilização partidária era uma inevitabilidade, mas grave é
não haver partidos, não ter opções, não poder chamar canalhas a quem responde
às palavras com balas. Grave é ter medo, é fazer como o New York Times, uma
referência mundial do jornalismo, a omitir as caricaturas pelas quais os
desenhadores do Charlie Hebdo deram a vida.
Viva a república.
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