Ano Novo [Vida Nova (?)] em Brasília...
O dia de hoje é marcado pelo cerimonial da posse de Dilma Roussef para cumprir um 2º. mandato como presidente do Brasil link.
Os problemas que este novo mandato levanta são enormes. Já não se trata de dar continuidade ao programa que Lula da Silva aplicou durante 8 anos e cujos parâmetros estavam, nos seus principios, definidos e foram continuados, no essencial no primeiro mandato de Dilma.
O povo brasileiro exige algo de novo, coisas diferentes, mudanças estratégicas preservando as conquistas recentes que retiraram milhões de cidadãos do espectro da pobreza e da fome.
Dilma não pode, hoje, ignorar o abrandamento do crescimento económico, o progressivo disparar da inflação, os gastos excessivos com o Mundial de 2014 e os protestos de rua de 2013 nos grandes centros urbanos despertados à volta dos transportes públicos e rapidamente estendidos aos gastos sumptuosos no Mundial e Jogos Olímpicos em contraste com cortes na Educação e na Saúde e, finalmente, os escândalos de corrupção de que a Petrobrás terá sido a expressão mais mediática. Também não poderá esquecer que nas ultimas eleições presidenciais a Direita, reunida à volta de Aécio Neves - embora perdendo - saiu reforçada.
Este o ‘caldo político’ que ensombra as festividades institucionais da sua posse. Longe vão os tempos em que Lula da Silva triunfante foi empossado no Palácio do Planalto no meio de grandiosas manifestações populares de confiança, esperança e regozijo.
Não é mais possível governar o Brasil como se o País estivesse protegido da crise económica e financeira mundial. A entrada para o novo Executivo de Joaquim Levy, como ministro da Fazenda, é extremamente significativa e denunciadora que algo poderá mudar na estratégia financeira e económica do País. Trata-se de um gestor bancário oriundo de um banco de investimentos (Bradesco) e ‘formado’ na escola de Chicago.
Estes especiais atributos não colhem simpatia e apoio no seio do PT. Perante um partido onde fez a sua carreira, em franca perda de influência política e social, o burburinho à volta da corrupção, nomeadamente, em relação ao infindável ‘escândalo Petrobras’, não são indícios que a Presidente vai ter uma vida fácil.
O PT ‘ortodoxo’ não aceitará uma profunda inflexão liberalizante da estratégia económica porque sabe que esse facto tem enormes consequências sociais.
Dilma sabe, também, que deve a sua eleição (e reeleição) às políticas sociais que remontam aos mandatos de Lula da Silva e para as quais tentou dar uma imagem de continuidade. Resta saber qual será a influência e a autonomia de Joaquim Levy (conhecido na gíria popular como Joaquim ‘mãos de tesoura’) no futuro Executivo, nomeadamente em relação à ‘estratégia neo-desenvolvimentista’ de Dilma, que informa o seu programa ideológico, mas convém recordar que o actual ministro não é um novato nesta área governativa. Foi Secretário do Tesouro, de 2003 a 2006, no 1º. Governo Lula e, anteriormente, assessor do Ministério do Planeamento no Governo de Fernando Henrique Cardoso.
Para já Levy, os receios sobre um eventual regresso da ‘praga da inflacção’ e o espectro da corrupção são os três grandes protagonistas à margem do guião protocolar mas efectivamente ‘presentes', nas cerimónias que decorrem hoje em Brasília.
Dilma está política e partidariamente circunscrita a uma imagem de continuidade (onde terá de inovar) e não é para os brasileiros, e para o Mundo, uma personagem desconhecida, pelo que não são de esperar (ou de alimentar) surpresas, hesitações ou desvarios.
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