Perplexidade _ 2
As monarquias e a religião
A monarquia pode ser um anacronismo e, na minha opinião é, mas não conheço uma só onde a religião esteja ausente.
Nem a Coreia do Norte é exceção. Aquela fé no deus vivo, que encarna em cada nova geração da dinastia Kim, é um misto da teologia estalinista mais jurássica e da religião, onde o sumo sacerdote troca a tiara por um exótico corte de cabelo.
Na Europa há uma monarquia teocrática eletiva, de carácter vitalício, que se mantém até à morte natural do príncipe ou ajudada pela Cúria. O monarca sai de uma assembleia de cardeais que acreditam ser visitados pelo Espírito Santo, uma pomba invisível, que lhes transmite a sabedoria para o voto.
E há uma outra, a de Andorra, um principado em que o casal de príncipes, até agora sempre do mesmo sexo, é formado, pasme-se…, pelo Presidente da República Francesa, frequentemente ateu, e o bispo de Uriel, presumível crente.
Há ainda uma teocracia monástica no Monte Athos, mas não conta como monarquia por não ter a categoria de Estado. Assim, em vez de 13, a Europa está reduzida a uma dúzia de monarquias.
Comentários
Por exemplo, no Reino Unido, onde a monarquia é apresentada ao Mundo como sendo uma instituição nacional, tradicional e venerável, verificamos que a 'excelsa' Casa de Windsor (que ocupa o 'trono') não é mais do que uma excrescência germânica (a casa de Hannover), rebaptizada na sequência da I Guerra Mundial para acomodar sentimentos anti-germânicos e deste modo 'purificar' as suas origens aos olhos dos súbitos de 'sua majestade'.
Dentro do escabroso 'mix' entre monarquias e religiões o modelo britânico será aquele em que esta mistura (promiscuidade) está mais entranhada. De facto, os(as) monarcas britânicos são, desde Henrique VIII, século XVI, os(as) chefes (supremos(as) da igreja oficial do Estado (Reino) - a anglicana.
Todavia, quando se fala em monarquia o modelo britânico vem logo à cabeça. Resta saber se os britânicos continuam súbitos ou se já são cidadãos.