General João Lourenço, o ‘novo’ delfim…


 
A situação em Angola tornou-se subitamente complexa. Ontem, ao ser indigitado um ‘sucessor’ para José Eduardo dos Santos levantam-se um conjunto de questões difíceis de abordar.
O ‘inner cricle’ da presidência de Angola é muito fechado, complexo e jogam-se aí muitas relações de força. Não é fácil a Eduardo dos Santos por termo a uma liderança de 37 anos em que se criaram tantas cumplicidades, dependências e negociatas sem causar atritos e ‘invejas’.
Em África as fidelidades (de toda a ordem) mais do que se cultivarem, compram-se. Os únicos elos fortes são os familiares e os tribais. Esse é um problema acoplado à sucessão já que será difícil descortinar a quantidades de imunidades que o actual presidente deve acumular quando readquirir a condição de cidadão. E bem maior enigma será saber até onde essas imunidades poderão contemplar a sua família e até o ‘inner cricle’.

O indigitado presidente (não é suposto o MPLA alterar a vontade do Presidente), o general João Lourenço, poderá ser sempre considerado uma solução de transição. Até porque a ‘sucessão’ não se processará nas melhores condições, nomeadamente, no campo económico e financeiro.
Trata-se de um militante que foi congelado durante vários anos na prateleira da mesa da Assembleia Nacional, em certa fase da vida dedicou-se à indústria cervejeira e perante as intrigas tecidas à volta de Manuel Vicente foi ganhando espaço e força política.
Pertence ao restrito grupo de generais que esvoaçam à volta de Eduardo dos Santos, sob o olhar vigilante de Kopelipa, com quem manteve um conflito sobre o fornecimento logístico das Forças Armadas Angolanas.

A primeira ideia que ressalta é que não há uma renovação nas cúpulas do regime. Os antigos combatentes, muito especialmente os generais do séquito de José Eduardo dos Santos, (a guarda pretoriana) poderão abandonar a ribalta política mas pretendem conservar-se nos bastidores.
O futuro de Angola não passa por estes equilíbrios instáveis que o desaparecimento físico do actual presidente pode ser o rastilho de uma profunda convulsão político-militar. Não é fácil delinear uma nova geração dirigente, preparada no aspecto económico, financeiro e político, liberta das imensas cascatas de negócios que inundam Luanda.
Em lume brando, ou em incubação, está a evolução política do regime angolano desde Agostinho Neto a Eduardo dos Santos. Se Neto se inseria no movimento anticolonial apoiado pela ex-URSS e que dentro de um paradigma africano se proclamava socialistas, o actual regime é difícil de definir para além do e chavões como ‘cleptocracia’ é um regime controlado por uma clique de políticos e ex-combatentes, de fachada pública social-democrata mas que se dedicam a gerir duas identidades coexistentes: o luxo e o lixo. Enquanto o sistema tolerar.
Na verdade, a bomba-relógio que ameaça  Angola é uma economia débil, extremamente subsidiária do petróleo (cujo preço não controla), assente num país riquíssimo sem qualquer mecanismo transparente e justo de distribuição da riqueza. Tantas contradições dentro do mesmo saco só podem acabar mal.

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