Terrorismo sénior com vítima júnior

Sei, por formação académica e experiência própria como as crianças são sugestionáveis e como é possível fanatizá-las.

Lembro-me bem da forma como as doces catequistas da minha infância me levaram a odiar judeus, hereges, maçons, comunistas, apóstatas e todos aqueles que não seguissem a única religião verdadeira, a da Senhora Ricardina e da sua sobrinha, Menina Aurora, inefáveis catequistas da minha infância.

Era um tempo em que a comunhão solene era feita aos 10 anos com meninos e meninas vestidos de Cruzados, como se o exemplo desses bárbaros toscos fosse recomendável.

Hoje, mais de seis décadas depois, não deixo de me horrorizar com os meninos soldados e as crianças-mártires em nome do Deus que inventaram para os fanatizar.

A menina, de 7 ou 9 anos, que entrou numa esquadra de Damasco, carregando um cinto de explosivos e se imolou, é a mais eloquente metáfora do que é capaz a demência da fé e a maldade dos prosélitos.

Há na perversidade de quem, à distância, acionou o detonador, tal insensibilidade, tanta perversidade e tão elevado nível de amoralidade que minguam as palavras para exprimir a raiva, a frustração e o nojo, perante os destroços humanos de uma menina impedida de ser mulher.

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