Sempre foi assim, o respeitinho é muito bonito...

Há na herança salazarista algo de genético que assalta os mais improváveis cidadãos e os torna cúmplices da limitação à liberdade de expressão. A defesa das tradições pode não ser mais do que a tentativa de perpetuação de hábitos ancestrais que urge erradicar.

O alegado respeito pelas tradições é a atitude reacionária de quem teme o progresso. A pena de morte, o esclavagismo, a discriminação de género, a homofobia e muitas outras aberrações inscrevem-se nessa incapacidade de aceitar a evolução civilizacional.

Expressões como «entre marido e mulher não metas a colher» ou «o respeitinho é muito bonito», por exemplo, servem apenas para manter a impunidade da violência doméstica e a subserviência, respetivamente.

Não me imponham respeito pela xenofobia, racismo, excisão do clitóris, decapitação ou lapidação, por maior prazer que dê a um deus que se rebole de gozo com tais práticas.

Se não puder usar outros meios, terei sempre o sarcasmo para demolir os apóstolos da fé que condenam a ciência.
Se quero ser respeitado devo respeitar os outros? Ninguém garante que me respeitem ou que acertem no que me ofende. E se me ofenderem, que mal vem daí? Por que motivo hei de respeitar a crença de quem crê que o Padre Eterno fez o mundo em seis dias e descansou ao sétimo, ou outros que divirjam de mim, têm obrigação de me respeitar?

Há quem se ofenda com a música, a pintura, a carne de porco, o álcool ou o tornozelo desnudo de uma mulher e quem creia que a água vulgar, depois de sinais cabalísticos, passa a benta. Devo calar a surpresa ou suspender o riso para não os ofender?

As crenças são para combater e os crentes para tentar compreender. Só a violência é inaceitável.

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