José Saramago e a Igreja católica (ICAR)
L'Osservatore Romano, órgão oficial da Cúria Romana, o Pravda* da ICAR, mostrou o seu ressentimento com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura de 1998: “Saramago é, ideologicamente, um comunista inveterado”.
Em Portugal, o padre José Tolentino Mendonça, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, acusou-o de fazer uma leitura "ingénua, ideológica e manipuladora" da Bíblia.
No mesmo registo, a fazer currículo para cardeal, o bispo do Porto, Manuel Clemente, disse que José Saramago "revela uma ingenuidade confrangedora quando faz incursões bíblicas" e, “como exigência intelectual, deveria informar-se antes de escrever”, certo de que a informação correta só podia ser a dele.
O diretor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lisboa, Peter Stilwell, considerava que “seria espantoso” que José Saramago encontrasse algo divino na Bíblia e salientou que o escritor escolheu o fratricida Caim e não Abel, a vítima, pensando que a Bíblia é um manual científico e as parábolas axiomas.
Após a morte do genial ficcionista, ódio velho não cansa, L'Osservatore Romano veio de novo expelir bílis. Acoimou-o de "populista extremista" e "ideólogo antirreligioso".
O eurodeputado do PSD, Mário David, nascido em Angola, disse ter vergonha de ser compatriota do escritor e que Saramago devia renunciar à nacionalidade portuguesa. “Se a outorga do Prémio Nobel o deslumbrou, não lhe confere a autoridade para vilipendiar povos e confissões religiosas, valores que certamente desconhece, mas que definem as pessoas de bom carácter” – disse –, quiçá a refletir valores tribais da sua Lunda natal. O paquete de Durão Barroso fez-se notar recentemente como patrocinador da candidatura de Kristalina Georgieva a secretária-geral da ONU, contra Guterres.
Falta referir o inefável Sousa Lara, piedoso subsecretário de Estado da Cultura, que, em sintonia com o governo de Cavaco, vetou ‘O Evangelho segundo Jesus Cristo’ de uma lista de romances portugueses candidatos a um prémio literário europeu, em 1991, sugerindo que ele deveria receber uma “punição” (não apenas divina) pelo que foi escrito em Caim, declarando o seguinte:
“Este senhor atingiu, não se percebe muito bem porquê, um patamar de impunidade que a humanidade concede, tipo Berlusconi. Há umas pessoas que podem dizer tudo, que podem fazer as coisas mais absurdas e as pessoas habituam-se a isso e não levam a mal. Só tenho pena que não enxovalhe, da mesma forma que enxovalha o património católico, por exemplo os muçulmanos, porque esses não perdoam e vergam-lhes pela pele. Aí é mais difícil insistir muito numa gracinha reiterada contra a religião muçulmana. Calculo que depois não lhe corra bem o futuro”.
(A longa transcrição do bem-aventurado, que mandou erigir no seu monte alentejano a ‘Cruz do Amor’, vale a pena, para estudo da diversidade dos primatas).
Fonte: Wikipédia. * Pravda (russo) = Verdade (Port.)
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