BRASIL: presente e futuro…

A corrupção que colonizou os titulares dos cargos políticos e perverteu o sistema constitucional no Brasil parece mais um festim do que aquilo que, na realidade, é: – uma trágica encruzilhada.

No momento em o Supremo Tribunal de Justiça manda investigar oito ministros do Governo de Temer nasce alguma luz sobre a razão do impeachment de Dilma. Na verdade, existindo uma ‘classe política’ detentora de prerrogativas especiais (jurídicas e outras) o que fará atulhar a alta instância judicial competente para investigar e julgar acresce ainda o facto de o Presidente não poder ser investigado sobre atos cometidos antes de tomar posse.

O regime brasileiro está à beira do precipício. A ‘solução Temer’ não colou e dia a dia demonstra que não tem viabilidade política. Na atualidade, não é temerário pensar que os brasileiros não acreditam que o regime democrático nascido com o fim da ditadura militar sobreviva a esta avalanche de corrupção que expõe de modo penoso os titulares de cargos políticos, descreditando-os.
As prerrogativas inerentes aos cargos, que atingem o assustador número de quase 30 000 cidadãos, deixaram de ser um ‘guarda-chuva’ eficaz para disfarçar  e tornar impune a podridão corruptiva reinante. Esta calamidade atinge tudo e todos e, neste momento, já recua até Dilma Roussef, Lula da Silva desembocando em Fernando Henriques Cardoso.

Na rua começa a nascer a ideia de uma ‘novíssima República’. O problema é, portanto, outro e mais premente. O que virá depois?

Acreditando que os políticos corruptos acabarão por ser julgados com as garantias que a Constituição neste momento lhes confere, o exercício político para futuro é obscuro. Como será a novíssima República e como (e donde) surgirá a nova classe dirigente?

A fragmentação partidária levada ao extremo (uma reação ao bipartidarismo imposto pela Ditadura militar - Arena/MDB) e a utilização inapropriada de siglas clássicas que não correspondem a qualquer quadro ideológico facilitam a permissividade e semeiam a confusão, atrapalhando um eventual processo de ‘regeneração’ democrática.
 
Neste imperioso processo de renovação é difícil descortinar quem poderá permanecer ileso dentro do espectro partidário existente. Por outro lado, o Brasil, a exemplo de outros países do Mundo e de modo mais acutilante na América Latina, está enredado numa teia de promiscuidade entre a política e as religiões, seitas e grupos.

À extrema fragmentação partidária poderá, no controverso caos político instalado, corresponder uma evolução fortemente desagregadora, concretizando-se, no estilhaçar da união de Estados que configura a atual República Federativa do Brasil desfazendo um projeto que vem sendo construído desde 1889, após a deposição de D. Pedro II e  já passou por diversas ‘transições’ desde a República Velha, à Era Vargas (‘Estado Novo’), à Populista (de Dutra a Goulart), à Ditadura Militar (de Castelo Branco a Figueiredo) e, finalmente, à Nova República (de Trancredo a Temer). Hoje, podemos dizer que paira no ar o odor de uma nova ‘transição’ que poderá não preservar a federação.
Entre um Nordeste pobre, ruralizado, sertanejo e cativo do subdesenvolvimento e um Sul economicamente capaz, ambicioso e cosmopolita girando à volta do 'núcleo desenvolvimentista' paulista, a fratura poderá surgir em qualquer latitude.

Existe, fora deste ameaçador  quadro institucional (e constitucional), um perigo real que assenta na prossecução do status quo e tem sido contornado (evitado) na auto-inquirição que os brasileiros fazem à volta das consequências do processo ‘Lava-Jacto’.
A emergência dos ‘evangélicos’ que, neste processo, têm conseguido passar entre os pingos da chuva sem se encharcar, embora tenham as mãos sujas pelos negócios que, a coberto de idílicas promessas bíblicas, praticam, por todo o lado. Nas últimas eleições presidenciais brasileiras tivemos a primeira mostra desta realidade emergente. A candidata com melhor ‘score eleitoral’ (depois de Dilma e Aécio)  – Marina da Silva – emergiu (envergonhada) deste ‘antro’, faminto de poder (temporal).

A alternativa é, porém, pior do que má, isto é, há quem vislumbre (ou suplique) uma nova e catastrófica intromissão dos militares na vida política. Não foi coisa que não fosse aventada pelos círculos mais conservadores da sociedade brasileira, face à última vitória eleitoral de Dilma.

Com o sistema político e constitucional atual em acelerada derrocada o futuro do Brasil é uma situação enigmática mas, acima de tudo, preocupante.
O 'impeachment' de Dilma, tendo sido um golpe palaciano (Congresso), não clarificou a situação política, nem abriu caminhos de futuro e, pelo contrário, adensou as negras perspectivas do provir deste grande País.

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