TRUMP: Da ‘mega-bomba’ à indigência…

A ‘mega-bomba’ (GBU-43) lançada numa zona de acantonamento e refúgio do Daesh no Afeganistão poderá esconder a ‘mega-incompetência’ da equipa estratégica que rodeia e aconselha o presidente Trump quanto à política externa dos EUA.

Os poucos meses que a Administração Trump leva no exercício do poder mostram um profundo divórcio entre o dito e prometido na campanha eleitoral e a realidade. A situação política internacional é uma tarefa muito mais complexa do que administrar empresas de construção, promover resorts turísticos ou produzir reality-shows.
Todos sabíamos isso à partida e será justo admitir que o próprio staff de Trump, também. Só que o ‘populismo barato’ que inundou a candidatura de Donald Trump quis iludir os factos e as consequências.

As atitudes da Administração americana durante este século – ou melhor a nova política que foi gerada após o ataque da Al Qaeda às torres gémeas - deixam muito a desejar e, acima de tudo, são incompreensíveis em termos estratégicos.
Quer o descontrolo do sistema financeiro que levou à ‘crise dos subprimes’ que trouxe uma ‘onda global de recessão económica’, quer a postura perante o Mundo relativamente à invasão do Iraque, concomitantemente com o prolongamento da ‘questão afegã’ e, finalmente, a promoção avulsa de ‘primaveras árabes’, de que a Síria é um exemplo ainda em ebulição, existem muitas oportunidades de penitência (…estamos em período peri-pascal).

Durante a campanha eleitoral, Donald Trump, adoptou a ‘doutrina Banner’, seu inefável conselheiro eleitoral (que entretanto se distanciou da Sala Oval), e cujo conteúdo se condensava no slogan (ultra)nacionalista ‘America, First!’, o que traduzido por miúdos significava a absoluta predominância de resolução de problemas internos sobre os do ‘resto do Mundo’ mas, simultaneamente, pretendia também esconder a olímpica incompetência em lidar com a situação geopolítica internacional.

O bombardeamento da base área síria e, mais recentemente, o lançamento de uma ‘mega-bomba’ sobre o Afeganistão (junto à fronteira com o Paquistão – um país possuidor de arsenal nuclear) poem a nu circunstâncias que não pode ser escamoteadas.
É cada vez mais evidente que na condução da política externa americana, a administração de Washington, está entregue aos ‘falcões’ do Pentágono. Perante o sucedido no Afeganistão o presidente Trump foi incapaz de explicitar quem deu a ordem de bombardear. Este contexto não pode ser desvalorizado.
 
Na realidade, existe, em todo este processo, mais um passo na ‘fuga em frente’, embora noutros moldes. Bush invadia e criava situações incontroláveis, Obama não queria que os americanos pusessem os pés do terreno e utilizava drones para intervenções cirúrgicas e, agora, Trump bombardeia com armas sofisticadas (porque bombardear foi quase sempre uma rotina – ver ‘primavera líbia’).
Todavia, para o comum dos mortais, esta saga invasora e purificadora dos regimes ditatoriais, p. exemplo, no Médio Oriente, torna-se incompreensível quando olhamos para as obsoletas e medievas monarquias do Golfo, objeto de uma canina proteção do dito ‘Ocidente’.

Regressamos, deste modo e sob a batuta de Trump, a uma nova versão da ‘política de canhoneira’ tão do agrado da diplomacia britânica e que serviu para algumas coisas (entre outras). Por exemplo, amedrontar a China Imperial (na Guerra do Ópio) e perante o snobismo dos súbitos de Sua Majestade conduziu ao destroçar do velho Império (vitoriano). Mas o grave é que com o lançamento da ‘mega-bomba’ no Afeganistão fomos colocados (os cidadãos do Mundo e não especificamente os 'terroristas') na antecâmara do uso de armas nucleares. O que é absolutamente aterrador para o Mundo.

O fio condutor da política externa norte-americana dá sinais de uma deriva assustadora mais parecida com um fatídico desnorte. Os problemas de fundo persistem, ou agravam-se, e as intervenções pontuais (sejam de rotina ou excecionais) sucedem-se no sentido de remediar, quando não de ocultar, os sucessivos desaires.
Na realidade, o primeiro responsável pelas situações críticas e belicistas que muitas regiões enfrentam nos dias de hoje foi a política externa dos EUA (no tempo da Guerra Fria) cujo denominador comum anti-comunista (serviu para arrebanhar todos os fundamentalismos) e transitar abruptamente para a defesa de interesses geo-estratégicos e mercantis americanos, nomeadamente, no campo energético, completamente à revelia de consensos internacionais. 
Das situações oriundas desde o fim da Guerra Fria até aos dias de hoje existe um diversificado conjunto de situações pouco claras, em termos estratégicos, mas evidenciando a incapacidade de dissimular a mais recente escalada da Administração Trump, cujo sentido e  alcance é, neste momento, indecifrável.

Por outro lado, as reiteradas tentativas de contornar das instâncias internacionais onde se devem concertar as questões da Paz e Segurança mundiais (p. exº.: o Conselho de Segurança da ONU) – como já sucedeu na trágica ‘aventura do Iraque’ - é um risco acrescido para que estas medidas bélicas avulsas desemboquem no mais fragrante insucesso ou, mesmo, possam a vir a  ser o rastilho para um conflito incontrolável. 

De resto, a Administração Trump parece embriagada por um infantil encantamento. Julga ter descoberto um arsenal de ‘brinquedos’ e, tal como as crianças, mostra-se tentada em experimentá-los. Só que na infância pode-se invocar a inocência e a curiosidade como um alibi comportamental mas, no caso vertente, os inquilinos da Casa Branca para além de uma gritante imprudência só conseguem exibir uma enorme indigência política e uma aviltante pobreza intelectual.
 
Se isto é a ‘America, Great Again’, vou ali e já venho… (enquanto o céu não me cai em cima!)

Comentários

A doutrina dos terroristas bons [os nossos (deles)] e os terroristas maus (os dos outros) é a utilização dos mesmos adjetivos que dividem os ditadores. Mas Trump parece ser cada vez mais um mero ator do circo onde outros programam o espetáculo.

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