Síria: ‘Retaliações’ que alimentam instintos belicistas…


Os últimos acontecimentos ocorridos no Médio Oriente – o ataque americano a uma base aérea síria link – são de uma gravidade extrema.
Trata-se de uma brutal afirmação pela força, protagonizada pela Administração norte-americana, num contexto complexo e extremamente melindroso.
 
Decorrem, ainda, no âmbito do Conselho de Segurança da ONU diligências para esclarecer a situação relativa à utilização de armas químicas na Síria. A possibilidade – anunciada pelo porta-voz do Ministério da Defesa russo - de a tragédia, tão seletivamente divulgada nos meios ocidentais, ter ocorrido pelo bombardeamento de um depósito de ‘substâncias tóxicas’ (para uso militar) existente em território sob controlo de ‘forças rebeldes anti-Assad’, não foi liminarmente excluída e deverá ser investigada, apesar das opiniões em contrário de ‘especialistas’ link.
Um incidente com tão vastas repercussões humanitárias não deve ser tratado com ligeireza e ao sabor de ‘cenários artificializados’ para justificar atitudes intervencionistas. Já nos basta a ‘história’ das provas apresentadas por Bush a Blair, Aznar e Barroso nas vésperas da vergonhosa ‘cimeira dos Açores’, que precedeu a trágica invasão do Iraque.
 
Toda a cascata de informações subsequentes acerca desta última retaliação americana padece de algumas incongruências. Será extremamente duvidoso o anunciado pré-aviso do ataque à Rússia já que, dado o contexto regional e os ‘alinhamentos’ existentes, uma informação prévia a Moscovo comprometeria (esvaziaria), irremediavelmente, os objetivos da operação decidida, unilateralmente, por Washington.
Ninguém duvida que se as autoridades russas fossem previamente postas ao corrente de um iminente ataque americano em solo sírio transmitiriam, de imediato, essa informação a Damasco. 
 
O que sobressalta no meio deste conflito regional e nas mais recentes decisões político-militares é um rápido deslizar para a generalização do conflito com todas as consequências que se adivinham. Isto é, a confirmação da perigosidade e da irresponsabilidade (belicismo) da nova administração Trump.
 
Mais, torna-se cada vez mais visível que o Conselho de Segurança da ONU, com todas as limitações políticas e orgânicas existentes (nomeadamente o direito de veto de algumas potências) está no presente (ou desde a Guerra do Iraque)  confrontado com um quadro de  ineficácia e vulnerabilidade verdadeiramente ameaçador da Segurança mundial.
Paira no ar qualquer coisa de ‘déjà vu’. É inevitável a comparação da atual situação deste organismo – responsável pela manutenção da Paz - com a trajetória da Sociedade das Nações ocorrida entre a I e a II Guerra Mundial(is)…

Comentários

Manuel Galvão disse…
Será isto contra-informação?

https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/201704078093153-daily-mail-artigo-ataque-quimico-siria-eua-plano/
e-pá! disse…
Manuel Galvão:

Parece-me impossível discernir qual a dimensão e o alcance desta abrupta mudança política de Trump que tem todos os condimentos de uma encenação.
O facto de esta atitude colidir com a presunção de que o novo inquilino da Casa Branca (ou do resort na Florida) jogaria no 'America, first', isto é, a prioridade seria, em absoluto, actuar no âmbito interno, levanta algumas interrogações.
Será que a Administração Trump - que anda aos papéis - foi capturada pelos 'falcões' do Pentágono?
Ou, esta atitude prepotente terá a ver com as investigações em curso acerca das relações Trump/Putin e convém dar um ar de desencontro?

De resto, este grave incidente tem muitas lacunas e restam um monte de coisas por explicar.
Manuel Galvão disse…
Acabo de ouvir no noticiário que ainda hoje descolaram pelo menos 2 aviões da base que supostamente tinha sido destruída... serão os mísseis tomahawk assim tão imprecisos?
Isto parece-se demais com o que aconteceu na Líbia (já sem falar do Iraque)!

De resto tudo o que se passa no médio oriente faz lembrar a europa no início do século 20. Os bolcheviques eram os terroristas de então... não haverá equivalência entre a vontade de os russos se verem livres da monarquia opressora e a vontade, hoje, de os árabes se verem livres das monarquias do golfo?

Cheira de novo a guerra na europa. Entretanto a administração Trump esfrega as mão com a perspetiva dos chorudos negócios futuros que isso indicia. Como outrora!

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