Notas Soltas - dezembro/2017
Birmânia – Quem imagina
que as atrocidades de motivação religiosa nascem apenas no seio dos
monoteísmos, ignora o sectarismo budista contra o povo rohingya, de confissão
muçulmana, vítima de um genocídio atroz.
Coreia do Norte –
Há na demência belicista do último representante da dinastia Kim a lógica de
quem sabe que a própria sobrevivência e a do regime dependem do pavor que
infunde, estimulado pelas bravatas de Trump, outro líder pouco recomendável.
Eutanásia – Não
tendo opinião definitiva sobre a melhor fórmula jurídica, tratando-se de um
direito individual, é preciso respeitar quem não tem alternativa (doente
terminal) e defender da sua decisão quem possa vir a aperceber-se de que
prefere viver.
EUA – A aprovação
do plano fiscal de Trump transfere enormes benefícios, à custa dos mais pobres,
com grandes reduções fiscais a milionários e grandes empresas, na iníqua partilha
de recursos que transforma a democracia imperfeita numa perfeita oligarquia.
Córsega – A ilha
mediterrânica, com cerca de 320 mil habitantes, francesa há 240 anos, obteve
maioria independentista e já exige o seu dialeto como língua oficial, a
libertação do que chama presos políticos e outras exigências inconstitucionais
e provocatórias.
Jerusalém – A maldição
da cidade sagrada de três monoteísmos, que se digladiam entre si, transformou-se
no barril de pólvora onde um anacrónico cruzado inseriu o detonador, anunciando
a transferência da embaixada, que acicata ódios religiosos.
Turquia – O
“islamita moderado”, com o silêncio das democracias, conduz o país laico para um
Estado islâmico. Decapita os Tribunais, Universidades (a purga já atingiu 5822
professores) e a imprensa livre, com as Forças Armadas submetidas ao PR e ao
Corão.
Paraísos fiscais
– A UE enfrentou governos e grandes empresas com uma lista negra de “jurisdições
fiscais não cooperantes”, o que lhe possibilitará o controlo da evasão fiscal,
corrupção, tráfico de armas, pessoas e drogas, e do financiamento do
terrorismo.
China – A construção
de campos de refugiados, antevendo o êxodo de norte-coreanos, augura a queda de
Kim Jong-un e a substituição por alguém mais fiável e fiel. A queda do ditador
coreano pode anteceder a de Trump.
El Salvador – Um
tribunal superior confirmou a pena de 30 anos de prisão a Teodora C. Vázquez, por
‘homicídio agravado’, num caso de "asfixia perinatal", "causa
natural de morte" fetal. O alto comissário da ONU para os DH pediu a abolição
da proibição do aborto, no cumprimento da lei internacional de direitos
humanos.
Governo – A subida
em dois escalões da avaliação do rating da dívida portuguesa pela Fitch deve-se
ao êxito do Governo. Só o ressentimento e o despeito podem minimizar o mérito
de Mário Centeno e o benefício para a difícil gestão da dívida soberana.
Áustria – A extrema-direita
voltou a entrar no Governo, e passou a deter os importantes ministérios da
Defesa, Interior e Negócios Estrangeiros, no trágico regresso nacionalista à
Europa. Há algo a lembrar a ascensão de Hitler, Mussolini, Franco e Salazar.
IURD – A suspeita
empresa de negócios da fé, denominada religião, tem tal poder que, na
inauguração do maior espaço religioso brasileiro, o templo de Salomão, juntou,
lado a lado, Dilma Rousseff, Michel Temer e Geraldo Alckmin, governador de S.
Paulo.
Donald Trump – A
nova estratégia da política americana considera como ameaças dos EUA a Rússia e
a China, um regresso à guerra fria e ao conflito entre superpotências. E excluiu
das ameaças o aquecimento global!
Imigração – O
desespero e a fome de quem fugiu às guerras, à miséria e ao desespero, conduziu
à morte mais de 3.000 imigrantes, no Mediterrâneo, a caminho da Europa, só em
2017. É urgente o desenvolvimento de África para deter este holocausto
silencioso.
Nacionalismo – Pensávamos
que, em 1945, fora vencido com o nazi/fascismo, e eis que renasce. Os demónios regressam
à Hungria, Polónia e Áustria, e lembram os tempos em que o totalitarismo galvanizou
a Europa.
Polónia – O
despotismo cresce, com a sujeição do poder judicial. E prosseguirá. Tem o apoio
da Hungria a impedir que a UE obrigue o País a hábitos democráticos, enquanto a
Roménia envereda por caminho idêntico.
Catalunha – As
eleições não derrotaram só a Espanha, derrotaram metade dos catalães e, com
eles, a Europa, que sai perdedora na deriva nacionalista que abala as fronteiras
e corrói os alicerces da cultura, liberdade e democracia de que a UE é ainda um
pilar.
Espanha – Tudo o
que o corrupto partido do poder (PP) podia fazer mal, fez ainda pior, e da pior
maneira, em relação à Catalunha. O único benefício foi o de acordar o espírito
republicano no país onde o ditador fascista impôs a monarquia.
ONU – A
provocação americana e o desafio sionista, para transformarem Jerusalém na
capital de Israel, isolaram o País. A retaliação financeira é a arma com que ameaça
as N. U., mas Trump mergulhou os EUA numa crise de credibilidade internacional.
Mensagens de Natal
– A exploração política dos incêndios é imoral. O PR e o Cardeal recordaram os
mortos dos fogos e esqueceram 13 mortos esmagados, na procissão, pelo carvalho
paroquial da igreja do Monte, no Funchal. Lembram uns e esqueceram outros!
Paradoxos – A
Tabarnia, uma região catalã que inclui Barcelona, prefere separar-se da
Catalunha a deixar Espanha. É a prova de que o nacionalismo não é epidémico e
de que o pragmatismo pode ser mais forte do que a vocação suicida da
desintegração nacional.
Comentários
A 'Tabarnia' - um neologismo criado para designar os territórios mediterrânicos de Tarragona e Barcelona - é mais uma consequência da aplicação do artº 155 da Constituição Espanhola e da fragmentação (pulverização) das autonomias (já existentes) à custa de um cego 'legalismo' travestido de um 'imobilismo constitucionalista'.
A 'questão da Tabarnia' envolve seculares problemas de desenvolvimento (empolados pelas revoluções industriais) entre o litoral cosmopolita e o interior rural que atingem particularmente o sul da Europa (e não exclusivamente a Espanha ou a Catalunha).
Começam a vir ao de cima problemas escondidos (mas determinantes) como sejam as assimetrias que existem na Catalunha entre o litoral desenvolvido (Barcelona e Tarragona) e o interior pobre, enjeitado pelo Governo de Madrid (Lérida e Gerona).
As autonomias de que o 'independentismo' será a expressão mais radical - na ausência de 'soluções federais' -, não podem ser o veículo de destruição do País catalão (uma evidência que o Governo de Madrid tarda em reconhecer).
Os portugueses têm uma expressão lapidar que se encaixa nesta situação:
- Quem come(u) a carne, que roa os ossos!