Notas Soltas – janeiro/2018
Geopolítica – O
Irão e a Arábia Saudita continuam a confrontar-se através do Iémen e da Síria,
enquanto a China procura substituir os EUA na liderança mundial e numerosos
choques podem, em qualquer lugar, detonar um conflito à escala global.
ONU – Na mensagem
de Ano Novo do secretário-geral, António Guterres, há o lamento do homem
excecional, amante da paz e da fraternidade entre os povos, face ao bloqueio
dos piores líderes mundiais, alheios à catástrofe em que podem precipitar o
mundo.
Aviação – A
segurança deste meio de transporte atingiu tais níveis que as companhias
comerciais registaram 0 (zero) mortes em todo o ano de 2017, mostrando que
nenhum outro se lhe compara, e quão injustificados são os medos de o utilizar.
CTT – A
deterioração dos serviços prestados, o fecho de agências e o despedimento de trabalhadores
mostraram que a privatização não foi um mero erro de gestão governativa, foi a
eloquente demostração da cegueira ideológica de uma governação incompetente.
Irão – Há na perda de respeito aos aiatolas um
facto positivo, mas a falta de orientação ideológica de uma rebelião inorgânica
é insuficiente para substituir a teocracia por uma república laica, com
respeito pelas liberdades e direitos humanos.
Turquia – À
medida que o poder de Erdogan se consolida e dilata, minguam os direitos dos
cidadãos e cresce o poder arbitrário. O país caminha para a ditadura por
intermédio de um PR a quem a UE e os EUA ajudaram a destruir os setores laicos
da sociedade.
A. R. – Há decisões
que deviam ser alheias à política, como a eventual legalização da canábis para
fins medicinais. Quanto ao uso clínico, devia decidir o Infamed, cabendo aos
deputados decidir apenas sobre a eventual liberalização para fins recreativos.
Catalunha – A
declaração unilateral da independência foi um ato de aventureirismo de líderes
imaturos, mas o remorso mostra a pusilanimidade de quem perde a honra depois de
perder o juízo. A Espanha carece de outros líderes, em Barcelona e Madrid.
Eurogrupo – A posse
do presidente em Paris, revela a intuição política de um brilhante economista, obrigado
a não fazer o que quer, e que fará tudo o que puder. Centeno não é apenas o
académico ilustre, é um político astuto e técnico competente.
CDS – A insólita
aversão ao uso da canábis para fins terapêuticos, decisão técnica que devia ser
alheia à AR, revela a lógica de quem votou contra o SNS, a IVG e quaisquer
direitos individuais, interditos na cartilha reacionária do partido.
Rui Rio – A
máquina do PSD, que conseguiu fazer de Passos Coelho PM, foi derrotada. O novo
líder venceu o clientelismo, rompeu a rede de cumplicidades e humilhou os que conduziram
o partido à decadência ética e a política à intriga. Salvou a honra do PSD.
Alemanha –
Perante os perigos da extrema-direita no Parlamento, a aliança da CDU e SPD
sossega os europeístas e constitui para Portugal uma esperança no futuro
próximo. O SPD sacrificou-se como partido, salvando, por ora, a União Europeia.
Tunísia – O oásis
de tolerância laica na geografia do fanatismo muçulmano corre risco, por razões
económicas. É urgente que a UE ajude o País a manter-se laico e salvá-lo dos
fundamentalistas que procuram tomar o poder.
Brasil – A
permanência de Michel Temer como PR é uma afronta que, em democracia, só rivaliza
com a de Donald Trump nos EUA, por motivos diferentes. Ambos são, como
presidentes, o que Trump, numa manifestação racista, chamou a vários países.
Catolicismo – É
natural que o celibato obrigatório dos sacerdotes os torne vulneráveis à
prática de crimes sexuais, mas as perseguições a esta religião são muitas vezes
incitadas pela concorrência. E este Papa não merece o Inferno a que a Cúria o condena.
Descentralização
– A passagem de cada vez maior número de decisões para a esfera de 308
municípios, sem massa crítica, alguns com menos de três mil habitantes,
arrisca-se a ser errada e dificilmente reversível. Assistirei vencido, não
convencido.
Assédio sexual –
As mulheres são vítimas de injustiças e violências, muito mais do que os
homens, mas começo a acreditar em exageros, que confundem o assédio e a sedução,
numa espiral perturbadora dos afetos e da sexualidade saudável e desejável.
Rússia – O
presidente Vladimir Putin, ex-chefe do KGB, serviços secretos da URSS, é um
autocrata de pendor czarista, e quando o ex-comunista se benze e aceita a
bênção do clero em vários rituais públicos, humilha a Igreja, o Estado e a si
próprio.
Televisão – Programa
copiado de outros países, expõe crianças, em ambiente familiar, à morbidez pública.
Se os Tribunais o proibirem, Portugal fará jurisprudência pioneira na defesa
dos direitos da criança, a nível internacional. Não será censura, é salubridade.
Lula da Silva – Ignoro
se é corrupto e, após o afastamento de Dilma, que não era, e da ascensão de
Temer, que é, a prisão do candidato favorito a PR, por juízes que odeiam o PT, é
uma farsa. No Brasil, a democracia está refém do poder judicial.
Justiça social –
Quando 82% da riqueza mundial é reservada a 1% da população, não é apenas a
desigualdade que se aprofunda, é o clima de injustiça, ressentimento e revolta
que se cria e cujas consequências são devastadoras.
Edmundo Pedro – No
dia 27, aos 99 anos, morreu o combatente da liberdade e último sobrevivente do
Campo do Tarrafal, sítio infeto onde a ditadura o desterrou. Foi, desde os 15
anos, um combatente da liberdade e vítima da repressão fascista. Partiu um
herói.
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