O referendo e a IVG
O referendo que aí vem não se destina a aprovar a IVG, pretende apenas descriminalizar o acto. A eventual vitória do SIM não incentiva ou promove o recurso à IVG, apenas modifica a lei, a fim de evitar que as mulheres sejam empurradas para a clandestinidade do vão de escada, com risco da própria vida e de perseguições policiais.
Ninguém encara levianamente um problema cujas repercussões físicas, e psicológicas são especialmente gravosas para quem vive o desespero de uma gravidez indesejada ou impossível.
Curiosamente são sempre as portuguesas pobres que se sujeitam ao vexame dos exames ginecológicos impostos, que vêem a sua vida íntima devassada, que suportam a desonra do julgamento e conhecem as agruras do cárcere. As ricas resolvem o problema e os pruridos éticos no intervalo das compras em Badajoz ou Londres.
O que está em causa não é a posição ética sobre a interrupção voluntária da gravidez, até às dez semanas, é saber quem renuncia, ou não, à perseguição das mulheres, quem quer vê-las na cadeia, quem pretende juntar ao trauma da IVG a punição da enxovia.
O divórcio era proibido há trinta anos, Camilo esteve preso por adultério e, no entanto, as sociedades modernas souberam distinguir o crime do pecado, o direito canónico do Código Penal e separar as convicções pessoais do ordenamento jurídico.
No dia do referendo vou votar SIM. Para que o aborto clandestino deixe de ser a chaga actual. Para que se resolva um problema que aflige milhares de mulheres. Para que as pobres não sejam ainda mais infelizes. Para que nenhuma mulher seja presa pela minha incúria em abster-me.
Para não sentir vergonha quando souber que a mulher que se ia esvaindo em sangue acabou a fazer a convalescença na prisão.
Ninguém encara levianamente um problema cujas repercussões físicas, e psicológicas são especialmente gravosas para quem vive o desespero de uma gravidez indesejada ou impossível.
Curiosamente são sempre as portuguesas pobres que se sujeitam ao vexame dos exames ginecológicos impostos, que vêem a sua vida íntima devassada, que suportam a desonra do julgamento e conhecem as agruras do cárcere. As ricas resolvem o problema e os pruridos éticos no intervalo das compras em Badajoz ou Londres.
O que está em causa não é a posição ética sobre a interrupção voluntária da gravidez, até às dez semanas, é saber quem renuncia, ou não, à perseguição das mulheres, quem quer vê-las na cadeia, quem pretende juntar ao trauma da IVG a punição da enxovia.
O divórcio era proibido há trinta anos, Camilo esteve preso por adultério e, no entanto, as sociedades modernas souberam distinguir o crime do pecado, o direito canónico do Código Penal e separar as convicções pessoais do ordenamento jurídico.
No dia do referendo vou votar SIM. Para que o aborto clandestino deixe de ser a chaga actual. Para que se resolva um problema que aflige milhares de mulheres. Para que as pobres não sejam ainda mais infelizes. Para que nenhuma mulher seja presa pela minha incúria em abster-me.
Para não sentir vergonha quando souber que a mulher que se ia esvaindo em sangue acabou a fazer a convalescença na prisão.
Comentários
Uma questão de Ética prática.
Então para quê tudo isto?
Os defensores do amor livre, sem responsabilidade pessoal envolvida, velhos saudosos do Maio de 68 já com os pés na cova ainda querem continuar no bem bom do toca e foge.
Só que isso sim é a maior violência e o maior desrespeito que se pode praticar sobre a mulher.
No fundo os defensores da IVG não passam de machistas encapotados.
Mas há mulheres que concordam, nomeadamente aquelas que "funcionam" à beira das estradas...
Ninguém poderá dizer que tem telhados de vidro.
1) não se aplica aos maridos ou aos companheiros, logo discrimina negativamente as mulheres.
2) não se aplica a quem pratica tal acto no estrangeiro: discrimina negativamente os mais pobres.
Como está, está mal.
Há coisas que nunca mudam...
Diogo.
b) O aborto clandestino vai continuar, como continua em Espanha (http://www.hazteoir.org/modules.php?name=Noticias&file=article&sid=3411)
por exemplo, até porque vão aparecer clinicas que não têem alvará e farão abortos (lembro que a pergunta refere "em estabelecimento legalmente autorizado)
Gostei muito da última frase... Demagógica como tudo mas linda. De puxar a lágrima ao olho mas sem fundo de verdade.