Finalmente... o alívio da morte

À semelhança de Ramón Sampedro, Piergiorgio Welby viu o seu desejo realizado. Repetiu três vezes a palavra «obrigado» antes de lhe desligarem a máquina que o mantinha agarrado ao sofrimento. Nos últimos meses negaram-lhe a caridade que reclamou, impuseram-lhe a agonia que não quis, obrigaram-no à tortura cujo fim implorava.

Os problemas da vida e da morte não são fáceis. Mexem com os nossos sentimentos e cultura. Podem tornar os doentes vulneráveis ao crime. Estão no limite de todas as emoções. Enfim, há um problema que a sociedade não pode continuar a ignorar, uma legislação que é preciso discutir, uma ponderação a fazer com a urbanidade e sensatez possíveis.

Que ninguém seja obrigado, algum dia, a prescindir de um segundo de vida, mas não deve alguém ser condenado a meses e anos de não-vida. A autodeterminação do indivíduo merece respeito. Não há o direito de ficar sadicamente a repetir que uma pessoa não é dona de si própria.

Se um dia me tocar a desgraça que atingiu Piergiorgio Welby quero ter junto de mim o anestesista Mario Riccio.

Comentários

Anónimo disse…
CE:

O drama vivido por P Welby levanta, não vale a pena esconder, o problema da eutanásia. Que é, não tenhamos dúvidas, uma das questões indissociáveis da dignidade humana e, concomitantemente, da ética.
Acho, como se diz no post, que "a sociedade não pode continuar a ignorar..." estas situações.

Todavia, não levantaria esta questão neste momento, isto é, aqui e agora.
Devemos continuar "ocupados" com a despenalização da IVG. Com o referendo que temos à porta. Misturar tudo pode confundir. Pode abrir brechas.
Os apoiantes do SIM não devem facilitar a vida aos "outros".
É uma questão táctica básica.
Anónimo disse…
e-pá:

Tem toda a razão mas os factos têm data.

Boas-Festas.
Anónimo disse…
Caro Carlos Esperança
Por vezes discordo de si. Desta vez, assino por baixo do post que colocou.
Não há qualquer razão para manter em agonia quem, em consciência, quer acabar com ele com dignidade e sem sofrimento O direito à morte é tão importante como o direito à vida. Acima de tudo temos o direito de sermos seres humanos.
Mano 69 disse…
o e-pá! consegue ver os problemas a montante e a jusante.

Ele há pessoas assim… iluminadas!

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides