Momento de poesia
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O pedaço de lama,
Que se amontoa
Na rua,
Não tem tragédia nem drama.
E se alguém perguntar a essa lama,
Se prefere ser chama,
Ela responderá unicamente,
Sadicamente:
− Quero ser lama.
Também o meu corpo todo,
Crepita, como lume,
A ambição de ser lodo,
Ser estrume.
Como que sinto cá dentro,
Uma voz que grita, berra,
Vinda do centro
Da terra.
O convite brutal
Da seiva vegetal.
O apelo remoto,
Da faminta raiz que quer azoto…
E eu, que não consigo
Cumprir-me nesta vida transitória,
Guardo-me todo à glória
De ser húmus na terra que dá trigo.
O estranho prazer
De apodrecer,
Feliz,
Amamentando uma raiz…
O pedaço de lama,
Que se amontoa
Na rua,
Não tem tragédia nem drama.
E se alguém perguntar a essa lama,
Se prefere ser chama,
Ela responderá unicamente,
Sadicamente:
− Quero ser lama.
Também o meu corpo todo,
Crepita, como lume,
A ambição de ser lodo,
Ser estrume.
Como que sinto cá dentro,
Uma voz que grita, berra,
Vinda do centro
Da terra.
O convite brutal
Da seiva vegetal.
O apelo remoto,
Da faminta raiz que quer azoto…
E eu, que não consigo
Cumprir-me nesta vida transitória,
Guardo-me todo à glória
De ser húmus na terra que dá trigo.
O estranho prazer
De apodrecer,
Feliz,
Amamentando uma raiz…
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Armando Moradas Ferreira
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