Derrota histórica do SPD em Hessen
Hessen, um Estado da antiga Alemanha Federal, tradicionalmente social-democrata, ofereceu hoje uma derrota histórica ao SPD (Partido Social-Democrata alemão, membro da Internacional Socialista).
Entre outros factores, o facto de o SPD se ter disponibilizado para aceitar uma coligação com o partido "Die Linke" (A Esquerda) - partido composto por populistas de esquerda e ex-comunistas - é apontado como a principal razão para os 1/3 dos tradicionais eleitores social-democratas terem votado nos Liberais ou nos Verdes, oferecendo assim uma vitória clara à CDU -União Cristã-Democrata que se irá aliar aos Liberais, atingindo assim uma forte maioria no Parlamento.
Em consequência destes resultados, a nível federal, a grande coligação (CDU-SPD) perde a maioria na Segunda Câmara e a candidata do SPD para Presidente da República (eleição indirecta) perde, assim, as suas possibilidades de ser eleita.
Em tempos de crise do capitalismo liberal, a direita tem uma vitória ímpar na História deste Estado, tendo o Partido Liberal a sua maior votação de sempre!
Serão lições a tomar em consideração pelos socialistas portugueses?
A situação política alemã, com um sistema de 5 partidos com representação parlamentar, tem algumas semelhanças com Portugal.
Que aconteceria se o PS abrisse as portas do Governo a comunistas ou a populistas de esquerda?
Comentários
As conclusões são, a meu ver, precipitadas e as eventuais causas levianamente escrutinadas.
As eleições federais na Alemanha, que decorrerão este ano, por decisão política estratégica de Angela Merkel, portanto precocemente, serão marcadas - antes de tudo - pela evolução da crise económica mundial e a capacidade de resposta do actual governo - coligação CDU/SPD.
As eleições federais alemães vão introduzir factos novos na decisão política, levando a que a CDU se esforce para aparecer coligada com os Liberias (FDP), associação que, na prática, deve conquistar a maioria (> de 50%).
O SPD aparece bastante penalizado nesta luta eleitoral. Mas, na minha opinião, o principal motivo será o seu "compromisso" com a actual coligação governamental.
Steinmeier, vice-chanceler, tem dificuldades em atacar ou descolar das políticas de um governo dominado pela CDU, do qual faz parte.
A já tradicional aliança do SPD com "Os Verdes" não deve ultrapassar os 35% dos votos. Resta, ao SPD, para manter as pretensões a governar, tentar a aliança com "A Esquerda" (Die Linke), formado pelos dissidentes do SPD do Ocidente e ex-comunistas do Leste, dirigido por Oskar Lafontaine.
Assim, não será o partido "A Esquerda" a retirar a maioria, mas indispensável recurso para o SPD se aproximar do palco governamental.
Actualmente, ninguém tem certezas sobre o impacto desta eventual coligação na Alemanha.
Pelo meio aparecem os comunistas ou ex-comunistas.
Eles estão dos dois lados da barricada.
A CDU tem também ex-comunistas nas suas fileiras. Depois da reunificação alemã, em 1990, a CDU do Ocidente uniu-se à CDU do Leste, que era um partido satélite do partido comunista.
O SPD não está proibido de explorar esta circunstância.
Hessen foi a primeira das cinco eleições que, este ano decorrerão em 5 Estados federados (Turingia, Saxônia, Brandemburgo e Sarre), onde SPD e CDU vão disputar palmo a palmo os resultados.
O notório é que os 2 grandes partidos (SPD e CDU) têm sofrido, paulatinamente, uma grande corrosão, em termos eleitorais.
De resto, os "descontentes", de ambos os lados do espectro político ainda não assentaram.
Isso foi nítido nas eleições da Baviera, onde a CDU, também, sofreu uma derrota histórica.
É, portanto, muito prematuro para concluir.
A transposição destes precalços para Portugal é muito frágil. Primeiro, não somos um Estado Federal, nem sequer regionalizado.
Depois, os "embriões de regiões" que existem em Portugal, não têm um historial político longo e sedimentado que, muitas vezes, é dificil de ultrapassar ou reverter.
Em Portugal, perde-se ou ganha-se as eleições de acordo com as variações, ou grau de satisfação, da dita "classe média".
As coligações foram pouco testadas, excepto no Governo Barroso/Portas, e os estudos do comportamento do eleitorado, neste caso (também existem rivalidades à Direita!) são bastante dispares.
Penso que o evoluir da situação económica e social na Europa dos 27, nestes curtos meses, será determinante.
Fundamentalmente o controlo da recessão e os níveis de desemprego.
Aqui e na Alemanha.
A crise é profunda, provavelmente será mais duradoura do que se supõe, mas o eleitorado não contemporizará com períodos de carência. Será impiedoso a julgar.
Em toda a Europa da zona euro.
Outras ilações são absolutamente infundadas ou inverosímeis.
Tem ainda o exemplo da Itália onde a grande coligação de esquerda anti-Berlusconi, que ia desde a democracia-cristã aos comunistas não se aguentou no poder, nem conseguiu fazer nenhuma reforma estrutural. Não apenas pelo líder - Prof. Prodi - fraco dirigente, mas sobretudo porque as forças extremistas não se sentiam confortáveis nas cadeiras do poder.
Já agora, Merkel ganhou as eleições em 2005. Ora 2005 + 4 = 2009. Não vejo onde estão as eleições antecipadas.
Já agora, o SPD conseguiu com a grande coligação várias coisas: estar durante 10 anos à frente das mais importantes pastas do Governo (6 com Schröder e os Verdes + 4 na coligação com a CDU); estando no poder conseguiu impor políticas sociais-democratas. Vou dar só mais um número. Há 18 anos o nível de vida na antiga Alemanha de Leste era 40% da Alemanha Ocidental: agora está a 70%. Ou seja, quase 20 milhões de pessoas aumentaram o nível de vida para quase o dobro.
A situação das comunidades imigrantes na Alemanha é relativamente estável e sem conflitos, quando comparado com a França. Isso também se deve a políticas de integração do SPD.
Por outro lado, toda aestratégia neo-liberal de Merkel foi desfeita; ela nada conseguiu fazer da sua agenda. Pelo contrário, tem brilhado graças às políticas do SPD.
Por isso, é-pá, não desdenhemos tanto do poder, porque só ele permite implementar políticas!
E quanto a Portugal. O PS nem tem que se preocupar com as estratégias de alianças, porque todos (PCP, BE, CDS) já disseram que não querem coligações...
Ainda bem!
A sua visceral desconfiança em relação aos partidos que chama de "extrema-esquerda" pode ser fatal para o futuro político do SPD na Alemanha, como para a Esquerda em toda a Europa.
Aliás, não compreendo muito bem a inclusão dos Verdes (Die Grünen) na "extrema-esquerda"...
As eleições federais vão decorrer em 2009 mas, neste mesmo ano, podem ser antecipadas ou postergadas, conforme as conveniências políticas.
Neste momento vão ser "antecipadas",e Merckel sabe porquê.
Segundo o relatório do Bundesbank (Banco Central Alemão), divulgado em Dezembro passado, o Produto Interno Bruto do país deverá cair 0,8% em 2009.
Somente em 2010 o Bundesbank espera um reaquecimento da economia alemã, mas não dá para "esticá-las" até lá!
Ora, como não pode adiá-las, o seu desejo será que a recessão não avance demasiado, não cause danos irreparáveis, não torne o País ingovernável.
Alem disso, a OCDE prevê que cerca de 700.000 pessoas ficarão desempregadas na Alemanha nos próximos dois anos...
Finalmente, a situação conjuntural é dramática, todos prognósticos sobre a economia alemã foram corrigidos para baixo.
A República Federal Alemã parte, na prática, para o seu sexto ano de recessão, o mais profundo desde sua fundação em 1949, o que não pode ser considerado um trunfo eleitoral.
A imagem do SPD, apesar dos elogios que tece acerca do seu papel no actual Governo, está associada a este desaire.
No 4º. trimestre do ano transacto, a recessão na Alemanha agravou-se com uma queda do PIB entre 1,5% e 2%, em comparação ao terceiro trimestre, de acordo com as estimativas divulgada pelo Escritório Federal de Estatísticas (Destatis).
As eleições, portanto, urgem.
Mas, neste caso, para a CDU, os "extremistas" são o PSD...
As coligações têm sempre problemas, mas também evitam muitas derivas.
Uma delas é a arrogância, a auto-suficiência e o autoritarismo comum nas maiorias (absolutas).
A CDU, como toda a Direita, é realista. Conhece e valoriza o desgaste que sofreu.
Por isso, nas próximas eleições federais apresenta-se encostada ao "bordão" do Partido Liberal (FDP).
Em Portugal, por regra, não há coligações pré-eleitorais.
Depois, veremos.
Mas o PS não pode "sonhar" que - no meio desta crise económica, num ambiente de recessão, com a taxa de desemprego a disparar - não sofreu um tremendo desgaste.
Isto, apesar de não estar a ser assediado por uma alternativa de Direita com o mínimo de credibilidade...
Portanto, o PS "prefere" não se preocupar com coligações mas, quer goste quer não, o problema vai surgir depois das eleições legislativas.
Nessa altura, veremos se continua agarrado ao "ainda bem"!
Caro André:
Aquilo a que chama "extrema esquerda" não sofre de lepra.
Pior, para o PS e para a democracia em Portugal (já não falo de socialismo) será o "vazio" desenhado por Paulo Portas, em relação a acordos pós-legislativas, no último Congresso do CDS.
Não notou?
Volto a insistir.
O que vai defenir o sentido de voto - quer na Alemnha, quer em Portugal - será a evolução da crise económico-social, com todo o seu cortejo de consequências.
A "obra realizada", controversa em muitos aspectos, mas efectivamente realizada, de pouco contará. Os programas eleitorais muito menos.
Estas são eleições em que a definição será o momento que estará a ser vivido, no auge do período eleitoral.
Daí a importãncia da data da sua realização.
A Alemanha nos últimos 6 anos teve um bom crescimento para uma economia adulta (sempre na casa dos 2%). A recessão só chegou agora e importada da crise internacional.
Eu já apoiei moções simpáticas para as coligações com a esquerda do PS. Mas mudei de ideias: esses partidos detestam o PS e detestam a ideologia socialista: o europeísmo convicto, a economia social de mercado, o diálogo social paritário, políticas sociais não discriminatórias, mas também não fracturantes; reconhecimento dos méritos da iniciativa privada regulada pela lei e pelo Estado, etc. etc. Na prática esses partidos sempre que podem retiram poder ao PS, preferindo aliar-se ao PSD. O caso de Coimbra é paradigmático disso.
Quanto aos Verdes, fez-lhes muito bem passar pelo Governo. E não foi por causa disso que perderam votos. Pelo contrário. Talvez o Bloco de Esquerda devesse olhar com mais atenção para o trajevto dos Verdes e pensar, finalmente, que o poder pode "queimar", mas não mata. Pelo contrário, daria outra credibilidade e outra dignidade.
Mas isso é um problema deles. Tal como é um problema, a Nato, a UE, a economia de mercado, o equilíbrio orçamental, etc.
Em relação à Alemanha pretendia dizer não recessão, mas uma sensível contracção económica da locomotiva europeia, nos últimos anos.
Francamente, não entendo, a relutância que existe em Portugal - não só no PS - de constituir coligações para governar.
Penso que seja uma concepção singular da política portuguesa de que, por cá, haverá sempre 2 partidos hegemónicos que se alternam ou revezam, no poder.
Creio que esta visão é muito redutora e tem os dias contados.
Se observarmos o cenário político internacional vemos que os grandes partidos - os do "arco do poder" - em cada acto eleitoral, perdem gaz.
Aliás, existe outra vertente desta trajectória evolutiva.
As opções politicas das pessoas são cada vez mais sofisticadas, rebuscadas e fundamentadas, portanto, os cidadãos procuram integrar-se em movimentos organizados, sem a lógica partidária, de um pesado aparelho controlador.
Estes movimentos são relativamente efémeros e o seu motor gira à volta de mobilizadoras questões sociais e/ou cívicas.
Esta fragmentação do espectro político vai com certeza alterar a concepção do exercício do poder.
As máquinas de conquista do poder vão ter enormes dificuldades, já que a dispersão dos centros de poder é um dos caminhos será, com certeza, percorrido.
Por exemplo, o reforço e eventual alargamento das competências regionais.
A dispersão dos centros de decisão, que sinceramente prevejo, vai "matar" as pretensões de maiorias absolutas e tornar inviáveis derivas hegemónicas.
Mantendo-se o sitema democrático na sua essencial separação de poderes, só a constituição de coligações, trará governabilidade.
Este cenário poderá não estar tão distante como à primeira vista parece.
Finalmente, penso que me apercebi dos seus receios relativamente às coligações.
Parecem derivar mais dos "arranjos" autárquicos (não propriamente de coligações) do que da experiência governativa nesse campo que, convenhamos, é muito pobre.
Mas na experiência autárquica cabe tudo (ou quase tudo): Desde Isaltino, Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro, Ferreira Torres, bem, um outro Mundo.
Uma espécie de mix de caciquismo e futebol.
Vamos ver qual destes cenários o povo vai oferecer aos partidos tradicionais.
Até Alberto João Jardim fez uma peregrinação a Lisboa para exigir a Manuela Ferreira Leite, o quê?
- a maioria absoluta!
Dá para rir, não dá?
1) O Hessen é um estado bastante flagelado pela crise económica e financeira, uma vez que é o centro financeiro da Alemanha e uma das regiões mais industrializadas
2) O Hessen é um dos estados com rendimentos mais altos, contando com uma classe média e média alta bastante numerosa. Ora para estas classes, as políticas do SPD traduzem-se numa carga fiscal bastante elevada, o que poderá justificar uma mudança à direita
3) O SPD alemão está num período de travessia do deserto, após um ciclo de uma década no governo federal
Também concordo com o e-pá na sua afirmação que a coligação com a CDU/CSU no governo federal contribui bastante para a erosão do suporte eleitoral do SPD, o que aliás também se verificou na vizinha Áustria.
Quanto à transposição para o panorama político português, concordo com o André que existe um risco razoável numa eventual colagem do PS à esquerda, mas porventura um risco ainda maior num possível alinhamento com o PSD, ou na continuação da sua actual política objectivamente direitista.