Desemprego: o Mundo às avessas...
Hoje, toda a imprensa e, complementarmente, os partidos políticos, centram a sua atenção no aumento de desemprego.
A tragédia do aumento do desemprego é uma consequência da recessão económica e não a causa dessa recessão.
Contabilizar que o número de inscritos nos centros de emprego voltou a subir e atingiu os 510.356 em Setembro, de acordo com dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional referentes a Portugal Continental e Regiões Autónomas é ver uma parte da realidade.
Outra é perceber porque razão esse alto índice de desemprego, com características endémicas se instalou no nosso País.
Ainda hoje voltamos a ouvir falar da Qimonda, da Delphi, da Quellle, etc.
Na realidade, o nosso tecido empresarial, não resistiu às ondas de choque que a profunda crise financeira e económica que recentemente nos afectou. E as insolvências seguidas de falências, com ou sem lay-off prévios apareceram em catadupa. No meio dessa catadupa, entre outros problemas sociais, surge a actual taxa de desemprego que é exorbitante, preocupante e, provavelmente, o fermento de perturbações sociais.
A reversão da tendência deste disparar do desemprego - meio milhão de desempregados é um número astronómico! – só se consegue com a retoma económica, isto é, com novos e produtivos investimentos.
Até lá, e já que o equilíbrio orçamental está fora do horizonte da UE nos tempos imediatos, resta ao Governo alargar o âmbito dos apoios sociais (nomeadamente no campo do desemprego), do combate à pobreza, da erradicação da fome, à exclusão social, etc.
Neste momento, chorar sobre o desemprego é centrar a atenção nas consequências. Se em vez de chorarmos resolvermos atacar as causas do desemprego a questão passa pelo investimento público e privado.
O investimento privado já foi retratado com o soçobrar de empresas do tipo Qimonda, da Delphi, da Quellle, etc. E as PME’s não sobrevivem sem as grandes empresas, salvo raras excepções de microempresas dedicadas à exportação (sem significado estatístico numérico em recursos humanos), e possuidoras de uma grande diferenciação tecnológica.
As recentes eleições, de certo modo, sancionaram a estratégia governamental do investimento público para relançar a economia portuguesa estimulando o consumo interno. Confederações patronais, os Partidos de Direita e outros lobby´s de interesses continuam – apesar do veredicto popular – a insistir nas suas estratégias pré-eleitorais.
Chegou o momento de destrinçar os interesses corporativos do interesse nacional.
O desemprego beneficiará mais com isso do que o mero debitar de números mensais !
E nunca é demais realçar que o desemprego é uma nefasta consequência da crise e não a sua causa…
Comentários
Em segundo lugar, devemos distinguir o problema no curto-prazo com o desemprego estrutural. Embora o primeiro seja importante, o segundo é mais decisivo. E aqui entramos no domínio das opções políticas mais estruturais, não só no nosso país mas sobretudo nas que dizem respeito ao mundo globalizado em que vivemos. Ao mantermos o paradigma económico actual, em que grande parte da industria é forçosamente deslocalizada para onde a mão de obra é mais barata, a única opção duradoudora é o reforço da competitividade das empresas através da inovação e da conquista das actividades de maior valor. Ora isso é uma conquista lenta, través da qualificação de trabalhadores e gestores. Conseguiremos? Estaremos no caminho certo? Tenho sérias dúvidas. Penso que estamos numa encruzilhada da qual teremos muitas dificuldades em nos sair bem. Até lá, como poderemos reforçar a competitividade das nossas empresas?
Claro que, para além da conjuntura económica internacional, Portugal tem problemas particulares.
O relatório Labour Market and Wage Developments in 2008, ainda no dealbar da crise, aponta para uma necessidade de flexibilização - nomeadamente em relação aos contractos permanentes (difíceis em períodos de recessão económica).
Com certeza que existe "desemprego escondido", bastando para isso observar a evolução dos "falsos recibos verdes".
Mas o problema da precariedade, apesar de todas as medidas anunciadas, nunca foi resolvido.
A precariedade não oferece, nem estimula a formação dos trabalhadores na situação de desemprego ou, sequer, fomemta oportunidades de ascensão aos empregados.
Grande parte dos desempregados em Portugal é desqualificada. É aqui que repousa uma grande fatia dos "desempregados de longa duração". Serão, também, estes trabalhadores os que, mais dificilmente e tardiamente, farão uma reentrada no mercado de trabalho.
As empresas portuguesas apresentam baixos níveis de produtividade não só pelas características dos trabalhadores. Indispensáveis medidas de gestão, nomeadamente, no nível da Inovação e Desenvolvimento (I&D), comprometem a competitividade das empresas nacionais no mercado global.
Esta complexidade do Mundo empresarial e do trabalho, para já e enquanto se aguarda melhores respostas terá de ter uma resposta imediata do Governo: elevar os custos sociais do problema, para minorar o impacto social desta crise.
Porque, mesmo que comecem a aparecer indícios de crescimento do PIB em Portugal, esta situação só muito tardiamente terá reflexos no desemprego.
Até lá o Estado Social terá de actuar com incentivos à contratação e uma ajuda universal a todos os que a crise atirou para esta penosa situação.
O que se traduz num aumento dos subsídios traduzido em milhões de euros.
Resta saber aonde esta "espiral" nos levará...