A morte de Bin Laden
Barack Obama levou a cabo uma operação militar muito bem sucedida no passado dia 1 de Maio. Segundo as fontes oficiais, o Comandante Supremo das Forças Armadas americanas liderou uma operação de invasão do campo inimigo e de aniquilamento do líder adversário, que desde há mas de 15 anos humilhava os Estados Unidos da América com ataques terroristas, declarações provocatórias na internet e a arquitectura da mais global, mais mortífera e mais cruel liga terrorista das últimas décadas: a Al-Qaeda.
Obama tomou as decisões correctas antes, durante e depois desta operação.
Assim, antes de atacar o refúgio de Bin Laden, assegurou-se de que as condições operacionais seriam adequadas e quanto mandou os seus homens avançar, estes iam seguros da vitória e do sucesso. E ainda assim, houve um percalço com a perda de um helicópetro.
Isto era tanto mais importante, quanto a operação se desenrolaria num Estado supostamente amigo, mas em permanente reserva mental, por parte de muitos dos seus líderes militares: o Paquistão.
Num segundo momento, Obama teve que optar entre uma tentativa de captura do inimigo e consequente transporte do mesmo para território dos aliados (qual país - Portugal?), para território americano (gerando uma onda de ataques nunca antes vista sob o seu povo), ou para território neutro (a Suíça?) onde um tribunal pudesse julgar os crimes de Bin Laden.
Mas aí teríamos uma infinidade de problemas jurídicos: tratar-se-ia de crimes de guerra? De crimes civis? Quais os tribunais competentes? Após 3 a 5 anos de processo e milhares de vítimas depois, conseguiríamos uma condenação?
Penso que fica bem a uma certa elite esquerdista, mostrar a sua indignação perante a morte de Bin Laden sem "fair trial". Assim podem revelar publicamente as suas virtudes. Fica melhor ainda à direita pró-Bush vir agora - atónita! - admirar-se do facto de um Presidente Democrata afinal ter capacidades de líder militar e coragem nas relações internacionais... (esquecem-se de Roosevelt...)
Na minha perspectiva, é tudo mais simples. Bin Laden e a Al-Qaeda estavam (e esta ainda está) em guerra aberta com os Estados Unidos - uma guerra atípica e cobarde - e nesse contexto, no âmbito de uma operação militar, o inimigo foi abatido. Já antes havia sido morto o seu número 2 e outros dirgentes, bem como milhares de combatentes da Al-Quaeda. Nunca vi ninguém contestar a validade desses actos operacionais de uma guerra contínua...
Em terceiro lugar, Obama revelou a sua inteligência ao não mandar enterrear o cadáver de Bin Laden. Assim se evita a criação de uma nova Meca. Optou melhor ainda ao não revelar imagens do cadáver do facínora, pois não se trata aqui de mostrar troféus ou de fazer o escalpe do totém!
Do lado de Obama está a razão, o sangue frio e a liderança que evitaram a criação de um fenómeno de mártir, de adolação de uma imagem mítica, que poderia inspirar ainda mais os terríveis atentados terroristas que se vão abater (ou tentar abater) sobre nós.
Bin Laden morreu numa operação de guerra. Teve uma morte digna, assinada pelo próprio Presidente dos Estados Unidos da América. O terrorista que mais humilhou a América, o facínora que mais muçulmanos matou em toda a história do terror, repousa agora no Golfo de Omã, onde a sua memória se apagará nas trevas, no fundo negro de um Oceano que não conseguirá lavar todo o sangue derramado nas ruas de Nova Iorque, Madrid, Bagdad, Bali e outras dezenas de cidades em todo o mundo...
Comentários
Hoje, com os dados e pormenores operacionais que têm sido revelados sobre a operação militar que decorreu no complexo de Abbottabad [Paquistão], torna-se nítido que Obama não optou entre a captura e a morte de Osama bin Laden.
Obama decidiu-se pela "execução" deste lunático e odiado terrorista.
Não sendo jurista creio que existe uma instituição internacional que tem competência para julgar estes casos: o Tribunal Penal Internacional [TPI]. Portanto, o falecido dirigente da organização terrorista Al Qaeda teria um destino: Haia. "Teria" se os EUA tivessem subscrito [com os restantes 108 países] o tratado que institui o TPI.
Na verdade, esta lacuna dos EUA tem permitido algumas inconformidades no domínio da Justiça [nomeadamente em situações de crimes contra a Humanidade] como continua a ser, por exemplo, a situação aberrante de Guantámano.
Existem situações que, relutantemente, se aceitam como factos consumados, porque a sua consumação foi um facto benéfico para a Humanidade, mas torna-se difícil tentar "justificá-las" sem entrar em conflito com valores civilizacionais.
Na verdade, quando se afirma acerca da morte de Osama bin Laden que "foi feita justiça" estamos a torturar o conceito de Justiça [tal como o entendemos por estas bandas...].