O arresto da Moody’s ou a oportunidade europeia de corrigir o tiro…

O País vive à custa da última notação financeira atribuída pela agência Moody’s ao nosso País link, um clima de sobressalto de cariz nacionalista à mistura com uma nebulosa exaltação patriótica a que não será indiferente a cor política do actual Governo.

Os protestos indignados vindos de diversos sectores do Centro e da Direita mostram para além de alguma hipocrisia [no passado a depreciação da dívida foi sempre sinónimo da incompetência governativa] e, para além disso, de uma inconcebível ingenuidade.
Na verdade, voltamos a enfrentar [a “sentir”] essa entidade volátil que são os mercados. Alguns julgavam que a Direita no poder "acalmaria" esses mercados. Como se vê excitam-nos. E ninguém quererá ignorar que as agências de rating são a “voz” desses mercados.

Este ultimatum [financeiro] recorda-nos o [ultimatum] inglês de 1890 que se transformou na antecâmara da queda da Monarquia. Ele “aconteceu” de igual modo quando o País vivia uma situação financeira calamitosa. A carta de João Pinheiro Chagas [fundador do jornal “República Portuguesa”] é de uma inverosímil sobreposição ao actual momento:
Fez-se, de súbito, a verdade sobre as coisas do Estado: a instrução Pública era uma vergonha – dois terços da população não sabiam ler ou escrever. A agricultura era pouco produtiva. Portugal importava a maior parte dos produtos (…). A carga dos impostos era enorme (…).

Este novo Ultimatum [o da Moody's] ao resgate nacional poderá vir a sofrer dos mesmos males que se verificaram em 1890 e anos seguintes.
A difícil conjuntura financeira poderá abrir os apetites partidários de modo idêntico aos da época (mau grado a existência de um memorando de entendimento subscrito pelos 3 principais partidos) e gerar instabilidade social.

Apelos e indícios de justiça sumária são ineficazes e começaram exactamente pelo local menos indicado: a expulsão da Moody’s da Madeira link. Na verdade, o “nacionalismo” madeirense é oportunista e banal. Nas comemorações do dia da autonomia a região da Madeira foi inundada com bandeiras da FLAMA (movimento independentista) e, posteriormente, um deputado madeirense desfraldou na Assembleia Regional uma bandeira desse movimento link [perante a passividade e o mutismo do Presidente da República…]. Contradições nacionalistas!

Uma das principais questões que este arremesso da Moody's levanta diz respeito à reformulação da nossa política externa. Neste caso, da política europeia. A multiplicação de protestos, de reclamações, demonstrações, cá dentro, são expressões nacionalistas para consumo doméstico.
Na Europa, será necessário e fulcral evitar o isolamento. Nada do que nos está a suceder é impar ou inédito. A Grécia já passou por isso [ou pior] e a grande preocupação dos parceiros europeus [em dificuldades] foi afirmar, repisar que: “nós não somos a Grécia!”.
A onda nacionalista e ultraconservadora já é larvar por toda essa Europa e vira-se contra os países em dificuldades.

A vereda do nacionalismo não conduz a soluções globais europeias, cada vez mais pertinentes. Existe uma oportunidade para os Países periféricos criada por esta “argolada” da Moody’s. De facto, tornou-se imperioso o reforço da solidariedade da União e é cada vez mais prioritária a emissão conjunta de dívida pública por parte da União Europeia – os chamados “eurobonds”. A única medida de fundo capaz de mostrar força para afrontar a especulação, dos mercados, das agências de rating, da City, de Wall Street…

A reacção do BCE em ignorar as notações da Moody’s link é uma medida circunstancial, paliativa. Já estamos saturados de adiamentos, de “paninhos quentes”… enquanto o barco, constantemente assaltado por piratas, mete água.

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