S.N.S. – Uma bênção piamente ameaçada

Pior que o oportunismo, as campanhas de desinformação, algumas burlas e deficiente gestão, o Serviço Nacional de Saúde é vítima de ataques ideológicos que beneficiam a gula de seguradoras e os interesses eclesiásticos nas Misericórdias.

Para o actual Governo, que goza neste campo da conivência do Presidente da República, a saúde não é um direito, é um acto de clemência para com os indigentes e um serviço que se paga consoante as declarações do IRS, na razão directa do imposto apurado.

Pagarem mais os que mais podem parece um acto justo mas a taxa diferenciada não é mais do que a fonte de financiamento que se procura encontrar, ao mesmo tempo que se descobre uma arma de combate político, com a condescendência ou empenhamento do Presidente da República que, sendo discutível que a possa aprovar de acordo com a Constituição, parece vê-la com olhos de católico praticante e de amigo das sotainas.

O Serviço Nacional de Saúde Português (SNS) é francamente bom. Tem profissionais competentes, dedicados e eficazes. Muitos. E, naturalmente, alguns oportunistas, madraços e parasitas, como soe acontecer em qualquer instituição. Mas tem, sobretudo, quem o deprecie por má fé, ignorância ou cupidez.

E, ainda assim, é muito bom. Muitos criticam e poucos defendem o que a todos beneficia. Mais do que mal amado, o SNS suscita ódios de estimação. Ingratidão de muitos, maldade de alguns.

Considerado pela OMS o 12.º melhor serviço de saúde mundial, o SNS desperta apetites vorazes. Em vez de tentarem aperfeiçoar a gestão, pôr cobro a interesses ilegítimos e erradicar o desperdício, é no desmantelamento que os neoliberais insistem.

E então...

Depois de alienarem progressivamente o seu património para pagarem a assistência médica, as famílias dar-se-ão conta da tragédia que lhes bateu à porta quando autorizarem a hipoteca da casa, para poderem pagar os internamentos frequentes da doença prolongada que vitimou um dos seus membros, casa que irá ser leiloada por não poderem resgatar a hipoteca.

Arrepender-se-ão, então, de terem confiado em partidos que lhes prometiam liberdade de escolha dos cuidados de saúde. Porca de vida. Lá se foi a casa onde julgavam que os netos iam brincar.

Resta-lhes o remorso.

Comentários

Quinze dias sem computador, devido à acção corrosiva de um vírus informático, só hoje reparei que já tinhas regressado, embora ainda sem carácter permanente, ao Ponte Europa.
Acompanhei a evolução da tua doença, no período mais crítico, e fui informando os amigos da AAP e da Sandoz. Folgo muito pela tua recuperação física, que eu já sabia ser lenta e demorada. Quanto ao teu estado mental, já demonstraste que está intacto.
Um abraço
Caro CE
Excelente post. O SNS é um dos principais redutos das conquistas da esquerda após o 25 se Abril. Por isso a direita tem procurado sempre, pelos mais diversos meios, destrui-lo.
Muito folgo em ver que, pelo menos na parte intelectual, já está em plena forma!
Um abraço
e-pá! disse…
A intromissão do PR na área da Saúde verificada na "inauguração" do Hospital da Misericórdia de Loulé, antes de qualquer orientação objectiva do actual Ministério da Saúde, é insuportável.
Aliás, como tem sido insuportável a contínua intervenção pública nomeadamente em relação às agências de rating (não está em causa a justeza dos seus comentários).

O que "ensombra" o nosso regime democrático é a sua contínua intromissão na área governativa. A separação de poderes, pilar dos regimes democráticos, foi às urtigas. Daqui para a frente vale tudo?
Que sucederá ao PR se a actual coligação CDS/PSD não for bem sucedida?
Não vejo outra saída que não passe pela resignação do actual PR.
Se a actual situação é insuportável, nessa eventualidade, a sua presença em Belém seria (democraticamente) intolerável...
Manel disse…
Insuportável, mesmo insuportável, é ouvir a voz do senhor a discursar em tom de padreco retrógrado, dado para a caridadezinha, uma voz irritante de um discurso de mau hálito intelectual.
Lamente-se.

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