III Congresso da Oposição Democrática, em 1973
«Entretanto, pedimos a todos os membros dos grupos «Fascismo nunca mais!» e «Amigos do NAM» que vão deixando, nestes espaços de partilha, o seu testemunho de como viveram o III Congresso da Oposição Democrática, em 1973 – se já eram jovens ou adultos nessa altura…. Sejam “posts” de apenas 3 linhas ou muito mais…(o objectivo é dar a conhecer aos jovens este momento histórico da ditadura fascista)». (Helena Pato)
III Congresso da Oposição Democrática – EU NÃO ESTIVE LÁ
O Congresso foi amplamente discutido nas bases da CDE, que mobilizavam muitas centenas de oposicionistas. Eu vivia na Calçada do Carriche, lote 10 – 4.º Esq.º.
A minha base era a do Lumiar cujas reuniões se efetuavam, se a memória me não trai, num Centro Republicano, mesmo em frente do quartel de Administração Militar, do outro lado da Alameda das Linhas de Torres, todas as sextas-feiras, até a polícia nos ter referenciado. Depois até em casa do Cardia chegámos a reunir, atrás da Churrasqueira do Campo Grande.
Os companheiros que tinham tarefas importantes eram, apenas, conhecidos por «Pá». Ainda hoje não sei o nome do amigo que aparece na capa de um livro que tenho aí na biblioteca, o jovem em primeiro plano da foto do grupo de presos libertados de Caxias.
O pai era barbeiro numa transversal da Rua de Entrecampos, excelente homem, corajoso democrata e péssimo barbeiro onde, por solidariedade, ia cortar o cabelo. Tinha longas barbas que só cortaria se tivesse os dois filhos em liberdade. Na vertigem do 25 de Abril não o voltei a ver. Poderia, então, cortar as barbas.
Mas voltemos à base onde esse e outros «pás» eram militantes. O líder era o António Fonseca Ferreira que tinha sido meu colega no liceu da Guarda e que fora demitido do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, por motivos políticos. Logo a seguir, após ter sido mobilizado para a Guiné, como soldado, desertaria na véspera do embarque.
O Fonseca Ferreira fez uma contestação de esquerda ao Congresso e conseguiu que a base votasse maioritariamente contra a participação. A posição adversa impediu que fosse votado o delegado da base ao Congresso. O Sottomayor Cardia votou contra, tal como eu e outros, e, provavelmente, o Hugo Maia Cadete, mas fomos minoritários.
Penso que o Cardia foi a Aveiro. Outros, por disciplina , convicção ou impedimento não participaram no Congresso cujas teses perturbaram o regime e puseram à prova, desmascarando-a mais uma vez, a alegada abertura marcelista.
Um ano e alguns dias depois, a saída triunfal dos capitães de Abril poria termo à mais longa ditadura europeia.
III Congresso da Oposição Democrática – EU NÃO ESTIVE LÁ
O Congresso foi amplamente discutido nas bases da CDE, que mobilizavam muitas centenas de oposicionistas. Eu vivia na Calçada do Carriche, lote 10 – 4.º Esq.º.
A minha base era a do Lumiar cujas reuniões se efetuavam, se a memória me não trai, num Centro Republicano, mesmo em frente do quartel de Administração Militar, do outro lado da Alameda das Linhas de Torres, todas as sextas-feiras, até a polícia nos ter referenciado. Depois até em casa do Cardia chegámos a reunir, atrás da Churrasqueira do Campo Grande.
Os companheiros que tinham tarefas importantes eram, apenas, conhecidos por «Pá». Ainda hoje não sei o nome do amigo que aparece na capa de um livro que tenho aí na biblioteca, o jovem em primeiro plano da foto do grupo de presos libertados de Caxias.
O pai era barbeiro numa transversal da Rua de Entrecampos, excelente homem, corajoso democrata e péssimo barbeiro onde, por solidariedade, ia cortar o cabelo. Tinha longas barbas que só cortaria se tivesse os dois filhos em liberdade. Na vertigem do 25 de Abril não o voltei a ver. Poderia, então, cortar as barbas.
Mas voltemos à base onde esse e outros «pás» eram militantes. O líder era o António Fonseca Ferreira que tinha sido meu colega no liceu da Guarda e que fora demitido do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, por motivos políticos. Logo a seguir, após ter sido mobilizado para a Guiné, como soldado, desertaria na véspera do embarque.
O Fonseca Ferreira fez uma contestação de esquerda ao Congresso e conseguiu que a base votasse maioritariamente contra a participação. A posição adversa impediu que fosse votado o delegado da base ao Congresso. O Sottomayor Cardia votou contra, tal como eu e outros, e, provavelmente, o Hugo Maia Cadete, mas fomos minoritários.
Penso que o Cardia foi a Aveiro. Outros, por disciplina , convicção ou impedimento não participaram no Congresso cujas teses perturbaram o regime e puseram à prova, desmascarando-a mais uma vez, a alegada abertura marcelista.
Um ano e alguns dias depois, a saída triunfal dos capitães de Abril poria termo à mais longa ditadura europeia.
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