Quatro professores do ensino primário com Veiga Simão
Em finais de 1970 ou princípio de 1971, na sequência de uma reunião de centenas de professores do ensino primário, demitiram-se alguns membros da comissão promotora, por discordarem da minha entrada, apressadamente conotada com o PCP, e exigida pela assembleia, na sequência da intervenção que fiz. Assim, passei a integrar a comissão em que permaneceram o Vital, o Lenine e o Abílio, três colegas de que esqueci os apelidos e que ainda é possível identificar.
Nessa altura passámos muitas noites a redigir as conclusões da reunião, um documento reivindicativo que o jornal República publicou na íntegra e a que, apesar da simpatia com que o acolheu, apontou justas insuficiências. Não faço ideia do texto cuja redação final assumi e que, apesar de pouco glorioso, merecia ser recuperado para memória das movimentações profissionais, em ditadura, que deram origem a movimentos sindicais.
Em representação dos professores reunidos no anfiteatro de uma instituição religiosa, próxima da Avenida de Roma, solicitámos uma audiência ao ministro Veiga Simão, que nos recebeu na data agendada para lhe apresentar as referidas conclusões.
Na reunião prévia acertámos os preparativos para a audiência ministerial e dividimos os assuntos que lhe apresentaríamos. Guardo de Veiga Simão a memória de uma abertura só superada por Adelino Amaro da Costa com quem passámos a reunir posteriormente.
Que pena não termos feito atas dessas reuniões! Teria de render homenagem a Adelino Amaro da Costa, uma personalidade dialogante, diria mesmo democrata, que em nada se parecia com os dirigentes atuais do partido que ajudou a fundar. Mas voltemos à reunião com Veiga Simão, que agora me ocorre quando este Governo pretende destruir o ensino público.
Recordo-me de lhe referir a fraca preparação académica e especializada dos professores do ensino primário, cuja licenciatura exigíamos, por nos parecer não ser menos exigente o ensino da leitura, da escrita ou da aritmética do que o dos estames da papoila ou da raiz quadrada e de não ser mais fácil ensinar a língua materna do que uma estrangeira.
Veiga Simão argumentou que, mesmo em Inglaterra, só 40% do professores do ensino primário tinham curso superior, ao que retorqui que era uma boa desculpa mas uma má razão. Na sequência do diálogo e da intransigência do ministro acabei por lhe referir que o regime estava interessado em ter maus professores no ensino oficial para que os filhos dos pobres não competissem com os dos ricos que podiam escolher bons colégios.
Com um ar de agastamento respondeu-me que isso era um argumento de certa ideologia e que não o aceitava, aproveitando para se levantar, estender-nos sucessivamente a mão e pôr, assim, termo à reunião. No entanto, ainda nos apontou Adelino Amaro da Costa para nosso futuro interlocutor.
Quando o Governo Portas/Coelho regressa mansamente ao pensamento salazarista, vale a pena recordar episódios do tempo em que a ditadura não se atrevia a custear interesses privados.
Nessa altura passámos muitas noites a redigir as conclusões da reunião, um documento reivindicativo que o jornal República publicou na íntegra e a que, apesar da simpatia com que o acolheu, apontou justas insuficiências. Não faço ideia do texto cuja redação final assumi e que, apesar de pouco glorioso, merecia ser recuperado para memória das movimentações profissionais, em ditadura, que deram origem a movimentos sindicais.
Em representação dos professores reunidos no anfiteatro de uma instituição religiosa, próxima da Avenida de Roma, solicitámos uma audiência ao ministro Veiga Simão, que nos recebeu na data agendada para lhe apresentar as referidas conclusões.
Na reunião prévia acertámos os preparativos para a audiência ministerial e dividimos os assuntos que lhe apresentaríamos. Guardo de Veiga Simão a memória de uma abertura só superada por Adelino Amaro da Costa com quem passámos a reunir posteriormente.
Que pena não termos feito atas dessas reuniões! Teria de render homenagem a Adelino Amaro da Costa, uma personalidade dialogante, diria mesmo democrata, que em nada se parecia com os dirigentes atuais do partido que ajudou a fundar. Mas voltemos à reunião com Veiga Simão, que agora me ocorre quando este Governo pretende destruir o ensino público.
Recordo-me de lhe referir a fraca preparação académica e especializada dos professores do ensino primário, cuja licenciatura exigíamos, por nos parecer não ser menos exigente o ensino da leitura, da escrita ou da aritmética do que o dos estames da papoila ou da raiz quadrada e de não ser mais fácil ensinar a língua materna do que uma estrangeira.
Veiga Simão argumentou que, mesmo em Inglaterra, só 40% do professores do ensino primário tinham curso superior, ao que retorqui que era uma boa desculpa mas uma má razão. Na sequência do diálogo e da intransigência do ministro acabei por lhe referir que o regime estava interessado em ter maus professores no ensino oficial para que os filhos dos pobres não competissem com os dos ricos que podiam escolher bons colégios.
Com um ar de agastamento respondeu-me que isso era um argumento de certa ideologia e que não o aceitava, aproveitando para se levantar, estender-nos sucessivamente a mão e pôr, assim, termo à reunião. No entanto, ainda nos apontou Adelino Amaro da Costa para nosso futuro interlocutor.
Quando o Governo Portas/Coelho regressa mansamente ao pensamento salazarista, vale a pena recordar episódios do tempo em que a ditadura não se atrevia a custear interesses privados.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
Salazar talvez nunca fizesse de Veiga Simão um ministro.
E de tanto invocar Salazar todos estes 39 anos, o homem ainda vai parar um dia ao Panteão Nacional, contra a sua vontade.
Associei Passos e Portas ao regresso ao pensamento salazarista.
Não será diferente?