Vaticano – uma equação com várias incógnitas
O Papa Francisco, à semelhança dos antecessores, é um
fervoroso adepto do diálogo inter-religioso e apelou no
dia 28 de novembro, no Vaticano, ao diálogo, para superar o “medo” recíproco e
evitar em conjunto a “tragédia dos pensamentos únicos”.
Condenando a ideia de que a convivência só é possível
escondendo a própria pertença religiosa – pensamento que considera apanágio de
sociedades secularizadas –, o Papa insurge-se contra a possibilidade de a
religião ser remetida para a esfera privada, sem a ostentação da iconografia
com que todas procuram ocupar o espaço público.
Não cuido de fazer juízos de valor sobre a intenção do Papa
e, muito menos, sobre a sua bondade. O que é paradoxal é conciliar o diálogo e
o proselitismo, as reuniões de várias religiões e a sua atuação prática nos
templos e organismos que tutelam.
O Papa não pode esquecer o «diálogo inter-religioso»
estabelecido pelos jesuítas na sua América do Sul, onde a fé foi imposta com
inaudita violência e à custa do sumiço das populações autóctones. A ferocidade
religiosa dos reis católicos de Espanha, Fernando e Isabel, foi tal, que o
Vaticano se vergonha de canonizá-los.
Como se pode dialogar e, ao mesmo tempo, evangelizar? Estão
dispostos os dialogantes a fazer a síntese das suas verdades, e a criar outra
versão da fé, ou apenas a aproveitar as atenções da comunicação social para
fingirem abertura de espírito.
É difícil saber o que se passa no Vaticano, de que maneira
foi Deus servido de chamar à sua divina presença João Paulo I, após 33 dias de
pontificado com vontade de examinar as contas do I.O.R.; que acordos políticos
estabeleceu João Paulo II com as ditaduras da América do Sul e com os EUA e por
que motivo não entregou o arcebispo Marcinkus à justiça italiana; que estranho
motivo levou Bento XVI a surpreender a Cúria com a sua resignação. Enfim, há
segredos que nem a Deus, se existisse, seriam confessados.
Os homens podem dialogar porque têm as suas ideias, e estas
são passíveis de mudança, mas os clérigos têm a ideia que o seu deus lhes
comunicou e, porque deus não mais deu sinais de vida, não é possível dialogar
sobre verdades absolutas, eternas e imutáveis.
Só há pensamentos únicos nas religiões, onde a ausência da
mínima ortodoxia é heresia.
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