Paupérrima abordagem da emigração jovem…
Uma outra notícia que caiu em cima de nós este fim-de-semana foi a recente ‘descoberta’ da ministra das Finanças.
Maria Luís Albuquerque revelou que o desemprego jovem – com valores extremamente elevados - não é problema nacional porque os jovens têm o Mundo à sua espera link.
Assim, devemos assistir em breve ao espantoso dislate de que este Governo ao implementar medidas de austeridade que atirararam a economia para uma profunda recessão, acompanhada de um galopante desemprego, mais não fez do que criar oportunidades aos jovens portugueses para se ‘internacionalizarem’ nos mercados de trabalho.
Só faltará dizer que foi este Governo que conseguiu abrir no espaço europeu à livre circulação de pessoas. Só falta contabilizar este novo ciclo de emigração como uma exportação. Será uma tarefa para o mistificador Paulo Portas utilizar nas suas recorrentes tiradas silogísticas com o ar de ‘sabichão’.
Já sabiamos que Portugal na sua gesta dos descobrimentos deu novos Mundos ao Mundo e agora ficamos a saber que a recessão, a falta de investimento na economia e uma brutal taxa de desemprego, feita sob uma pressão orçamental sem controlo nem timings, não passa de uma estratégia com vista à ‘mundialização’ da juventude. Uma espécie de desculpa esfarrapada que se encaixa nos retrocessos civilizacionais em curso.
Ontem, a ministra defendeu uma espécie de ‘neo-nomadismo’ para tentar aligeirar uma tragédia que se anuncia e avizinha: a fuga de massa crítica jovem indispensável para qualquer tipo recuperação económica. Pretendeu transformar os jovens - sem futuro - numa horde de recoletores que tem de vaguear pelo Mundo à procura de subsistência.
E esta ministra pertence aquele grupo político que publicamente (e pudicamente) bate repetidamente no peito jurando dedicação e entrega à Família e à Pátria. Simultaneamente, no doce recanto das suas convicções ideológicas, ajoelha-se piedosamente perante o altar da globalização e mecanicamente recita os salmos dos mercados (neste caso de trabalho). Um maléfico slogan sobre uma realidade trágica vestido com roupagens diletantes. Inconciliável e insuportável.
Com visionários(as) deste tipo não há País que resista. Porque é aí (no País) que reside a paternidade afectiva, cultural, histórica e de lugar que nos une, caracteriza e cria oportunidades. E nos confere identidade enquanto nos afirma enquanto Nação.
O que a ministra, ontem, defendeu foi a transformação de uma juventude emergente, preparada e reconhecidamente indispensável para promover um quadro de progresso e desenvolvimento, num grupo de descamisados, de itinerantes e incertos destinos …
Só faltou invocar as virtudes da mobilidade fácil e politicamente útil e colocar-lhes a mochila às costas como se fossem para um passeio de interrail.
É totalmente insuportável esta aleivosia. Os jovens portugueses não podem transformar-se num joguete dos mercados à custa da destruição de todas as suas raízes. Quem desta maneira absurda abdica dos jovens que não conseguem na sua terra trabalho condigno está com determinação e intenção a destruir o futuro do País. O empobrecimento foi-nos imposto do exterior sob o pretexto de um brutal e rápido 'ajustamento' e contou com dedicados e obedientes colaboracionistas internos como é visível face a estes arremedos pretensamente justificativos da trágica e injustificável debandada de jovens. Ocultar a realidade, i. e., as consequências de um resgate feito de maneira desastrosa, submissa, irrealista e sem sensibilidade política e social pode ser - como este caso revela - extremamente aviltante para os seus protagonistas.
Difícil e penoso é ter capacidade para tolerar a pobreza económica endémica associada a uma insidiosa e emergente pobreza de espírito dos governantes.
Pobreza em cima de pobreza é demais. É de fugir!
Pobreza em cima de pobreza é demais. É de fugir!
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