Religiões, tolices e crimes – O combate necessário e urgente

Não há qualquer religião cujo deus defenda o respeito pelas outras e, muito menos, por não crentes. Quanto maior é a crença de alguém por outra vida, depois da morte, menor é a tolerância pelas posições divergentes na única e irrepetível vida que nos coube.

“A religião é um instrumento de paz” é o lugar-comum, politicamente correto, repetido à exaustão e cuja falsidade não é posta em causa, às vezes – e bem –, para evitar gestos primários de vingança contra minorias, e, quase sempre, para impedir a reflexão sobre o passado histórico da religião autóctone.

O facto de se permitirem as frases anteriores, não se deve à indulgência do catolicismo, mas ao facto de ter sido politicamente reprimido na Europa. A liberdade religiosa só foi aceite pelo catolicismo no Concílio Vaticano II, há meio século, uma decisão que ainda provocava azedume em João Paulo 2 e Bento 16. Na Arábia Saudita deixavam em risco a ligação da cabeça ao tronco.

“Só um Estado não confessional pode garantir a liberdade religiosa de todos”, dizia no DN, ontem, o padre Anselmo Borges, afirmação que ainda provoca a ira dos crentes que ficam insatisfeitos com as delícias que Deus lhes reserva, após a morte, e não dispensam a vindicta contra os que prescindem da conversão.

Os cristãos aceitam que a Bíblia, tantas vezes alterada ao longo dos séculos, com vários Evangelhos considerados apócrifos, não foi ditada por Deus. É apenas a sua expressão humana, e têm, além disso, o NT que, salvo o vigoroso antissemitismo, que se explica por ter sido uma cisão do judaísmo, é um avanço na humanização dos preconceitos das tribos patriarcais da Idade do Bronze de que o AT é um documento histórico e literário.

O Corão, cópia grosseira do cristianismo e do judaísmo, foi ditado pelo Arcanjo Gabriel a Maomé, o ‘último profeta’, entre Medina e Meca, a última vez que Deus falou, através do anjo. Assim, é inexequível refazer o que foi ‘revelado’ ao beduíno analfabeto, apesar de o texto atual ser do ano 800 da era vulgar, de predicação apaixonada nas mesquitas e ensino obrigatório nas madrassas, v.g.:

"Sabei que aqueles que contrariam Alá e seu mensageiro serão exterminados, como o foram os seus antepassados; por isso Nós lhes enviamos lúcidos versículos e, aqueles que os negarem, sofrerão um afrontoso castigo." (Alcorão, Surata 58:5)
"Ó fiéis, combatei os vossos vizinhos incrédulos para que sintam severidade em vós; e sabei que Alá está com os tementes." (Alcorão, Surata 9:123)

Em vez de se permitir à extrema-direita europeia combater os crentes, urge combater as crenças; em vez de se negociarem os refugiados com a Turquia, deve ser-lhes imposto o respeito pelos padrões civilizacionais europeus, incluindo a igualdade de género; em vez de se promover o diálogo inter-religioso e o multiculturalismo, deve exigir-se a renúncia aos valores que os mullahs exaltam e com que hordas de muçulmanos exultam; em vez de orações pela paz, é mais profícuo vigiar quem promove e financia a guerra santa.

Se nas mesquitas, igrejas ou sinagogas, sedes de clubes ou partidos políticos, se prega o ódio e incita à violência, exige-se vigilância, denúncia, medidas de coação, julgamento e repressão política, segundo as normas do Estado de direito e não do direito teocrático.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Jaime Santos disse…
Eu quase que assinaria por baixo, salvaguardando o facto de que o diálogo inter-religioso tem de facto servido para tornar mais amenas as relações entre pessoas de boa-vontade dos diferentes credos e para que elas aceitem que só uma sociedade secular pode garantir a Liberdade de todos. Não é despiciendo que o Sheik Munir, por exemplo, tenha dito a seguir aos atentados de Janeiro de 2015 em Paris que aqueles que não aceitam as nossas Leis são livres de ir viver para outro sítio: http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/sheik-munir/charlie-hebdo-muculmanos-podem-emigrar-para-outros-paises. Claro, mesmo nas sociedades ocidentais os ateus declarados acabam sempre a ser desrespeitados por crentes de todas as religiões, enquanto em países muçulmanos são perseguidos e mortos: http://www.theguardian.com/world/2016/apr/07/secular-activist-who-criticised-islamism-hacked-to-death-in-bangladesh. Mas devo dizer que discordo do discurso ateu que identifica a crença como uma manifestação da falta de inteligência ou de ignorância do crente, que só serve para que ele se afaste ofendido. O apelo à razão cai, em questões de crença, a mais das vezes em saco roto. Como já aqui discutimos, as pessoas creem por inúmeras razões. por influência familiar, necessidade de encontro de uma morada espiritual, etc. Bertrand Russell disse um dia que era no mais profundo desespero que devíamos encontrar os alicerces para a dita morada da alma. Só uma minoria entre nós parece capaz de o fazer, mesmo se parece que a descrença é tão antiga como a crença: http://phys.org/news/2016-02-disbelieve-ancient-history-atheism-natural.html
Jaime Santos:

Já enfrentei o 'moderado' Sheik Munir no programa televisivo "Prós e Contras", como, aliás, o fiz ao representante judeu e ao católico. O ódio de Munir foi manifesto e, no fim, já nos bastidores, foi o único que não cumprimentou os outros.

É tão fanático como os outros e pensa da mulher o mesmo que o Profeta. Apenas vive num país onde 'ainda' é minoritário.

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