Burqa e nicab

Depois de a França ter proibido, em abril de 2011, o uso do véu integral em espaços públicos, decisão aceite pelo Tribunal dos Direitos Humanos, em 2014, mais três países se juntaram, com justificações diversas, ao clube dos países proibicionistas.

No mesmo ano, em junho, a Bélgica proibiu que se aparecesse «com a face coberta ou escondida, em parte ou na totalidade, de forma a tornar impossível a identificação», em locais acessíveis ao público.
Em setembro deste ano, a Bulgária aprovou a lei que proíbe usar em público roupas que cobrem parcial ou totalmente o rosto, salvo por motivos profissionais ou de saúde.

Na última semana, o Parlamento holandês aprovou a proposta que proíbe burqa, niqab, capacetes e passa-montanhas, nos transportes e edifícios públicos, e Geert Wilders, do partido da extrema-direita, defende a interdição total e lidera as sondagens eleitorais.

Na Itália, Suíça, Alemanha e Reino Unido discute-se o problema e nos dois últimos já se ensaiaram as primeiras restrições.

A ingenuidade de quem vê na proibição um atentado à liberdade religiosa, que é preciso defender, talvez não seja alheia à onda de racismo e xenofobia que varre a Europa com reflexos eleitorais catastróficos a ajudarem partidos de direita extrema ou abertamente fascistas.

Não terão os imigrantes o dever de respeitar o “ethos” cívico e democrático europeu, à semelhança do que os europeus fazem quando emigram para países muçulmanos ou de hegemonia budista?

Deixar à extrema-direita a defesa de valores civilizacionais consolidados é comprometer a alternância democrática e, em última análise, renunciar à democracia.

Fonte informativa: DN, 1-12-2016, pág. 28.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Luis disse…
Nem mais , como diz o proverbio : cada terra com seu uso ,cada terra com seu fuso, se querem
usar as roupas que utilizam nos países muçulmanos , estão no seu direito ,esse caso arrumam as malas e vão para esses países , e não quererem fazer com que os não muçulmanos tenham que admitir tais usos .
Jaime Santos disse…
Julgo que existe uma grave falácia no uso desse argumento, Carlos. A proibição do uso de certo vestuário (que se usa por motivos religiosos) não pode nunca fundar-se num argumento que deriva do respeito pelas tradições das sociedades ocidentais, precisamente porque esse é também o argumento usado nas teocracias. A diferença entre o Ocidente e o Islão não é que lá é obrigatório usar e aqui é proibido, mas sim que cá nós temos liberdade de escolha. Se ela não existe, isso significa que nos aproximamos dessas sociedades no usos e costumes, não o contrário. Que é no fundo o que pretende a ultra-Direita. Por detrás da suposta defesa da laicidade, virá aí o retorno aos valores tradicionais (do ultra-montanismo católico, claro). Dizer àqueles que não pensam como nós que não podem viver entre nós nunca é uma solução, porque um dia seremos nós, quando ficarmos em minoria, a ser convidados a calar a boca ou a sair... E veja-se aliás a agressividade da ultra-Direita nas redes sociais, enquanto fazem o choradinho de que o 'politicamente correcto' (leia-se a elementar boa educação) é uma ofensa à sua Liberdade de Expressão. Como dizia Churchill, a isto responde-se não com uma luva de seda mas com um punho de ferro...

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