EDMUNDO PEDRO
Morreu a última vítima da 1.ª fase do Tarrafal – Campo da Morte Lenta
Em 1936 abriu, com 152 presos políticos, o Campo de Concentração do Tarrafal, onde a morte era mais doce do que a vida e o Inferno da vida o Paraíso dos torturadores.
Saídos de Lisboa, em 18 de outubro de 1936, foram nessa primeira leva grevistas do 18 de janeiro de 1934, na Marinha Grande, e alguns dos marinheiros que participaram na Revolta dos Marinheiros de 8 de setembro desse ano. E ali chegaram, no dia de hoje, há 77 anos. Outubro era mês, nesse dia 29, no ano de 1936.
Salazar teve lá, no severo degredo da ilha de Santiago, Cabo Verde, o seu Auschwitz, à sua dimensão paroquial, ao seu jeito de tartufo e de fascista, algozes torturadores, ao serviço da ignóbil ditadura do facínora de Santa Comba Dão.
Foram 37 os presos políticos que lá morreram, sucumbindo na «frigideira» ou privados de assistência médica, água, alimentos, e dos mais elementares direitos humanos, alvos de sevícias, desterrados em vida e na morte. Só depois do 25 de Abril puderam os seus corpos ser exumados e trasladados.
Edmundo Pedro, que no último dia 8 de novembro completou 99 anos, estreou com o pai esse lugar infecto. Era o último sobrevivente. Testemunho vivo da repressão fascista na apoteose da demência salazarista, restou-nos a sua lucidez e humor para reconfortar os portugueses de um passado vergonhoso que muitos gostariam de silenciar.
Como foi possível, Edmundo, teres ali chegado, ainda com 17 anos, na companhia do teu pai, durante 9 anos, num suplício que já há quem negue? Hoje, lembro-me de ti, com o orgulho que sinto da tua estima e o nojo que guardo de quem te torturou.
E perdoa-me a lágrima que não contenho no momento da tua morte, da morte do último tarrafalista, do antifascista de sempre, meu herói, minha referência cívica, meu irmão de ideal.
Até sempre.
Edmundo Pedro e mulher, com amigos, em Coimbra |
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