A criatividade política e a mentira ao serviço da guerra

Depois das armas químicas que Bush, Blair, Aznar e Barroso atribuíram a Saddam, para fundamentar uma invasão previamente preparada, justificava-se um módico de decência e precaução nas afirmações sem provas, capazes de aumentar as tensões internacionais e desencadearem uma guerra a nível global.

A destruição do Iraque e a substituição de uma ditadura laica por uma anarquia tutelada foi o resultado catastrófico da intolerável aventura, e o início da trágica instabilidade do Médio Oriente e ondas de choque noutras latitudes. As infelizes primaveras árabes logo se converteram no inverno do descontentamento global e na destruição dos países onde eclodiram.
 
Os nacionalismos que renascem e o proselitismo piedoso bastavam para tornar o mundo um local inseguro e insalubre, e não faltam dirigentes políticos de países poderosos para atear novos fogos e espevitar os que estão em curso.

O Reino Unido reincidiu na descoberta de armas químicas, com a Sr.ª May desorientada com o Brexit. A oportuna acusação à Rússia, do envenenamento de um ex-espião, levou logo à retaliação diplomática de países da Nato, sem necessidade de provas. As guerras não podem servir para resolver problemas aos agressores.

Do ex-espião Sergei Skripal e da filha, alegadamente envenenados por Putin, o suspeito do costume, deixou de se ouvir falar. Há o direito de conhecer o autor do crime, que pôs o mundo à beira de uma guerra, saber quem mentiu e o que é feito das vítimas.

O primeiro ministro de Israel, figura pouco recomendável, acusa o Irão de mentir sobre o programa nuclear, de cuja continuação afirma ter provas, sem as apresentar, quando a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), que controla a aplicação do acordo que Trump quer romper, garantiu não ter "qualquer indicação credível de atividades no Irão ligadas ao desenvolvimento de um engenho nuclear após 2009", o que não poderá garantir em relação a Israel. O que se pretende não é impedir a proliferação de engenhos nucleares, é destruir países, ainda que os perigos de uma guerra global se adensem.

As provas do uso de armas químicas pela Síria na reconquista de Douma, que serviu de pretexto aos EUA para disparar uns mísseis, serão reveladas ou caem no esquecimento? Existiram ou houve uma encenação grosseira? Como pode criar-se uma opinião pública esclarecida com notícias fabricadas à medida dos interesses geopolíticos e do humor de biltres poderosos?

E o grave é que, em outras ocasiões, as armas químicas foram seguramente usadas pelos acusados, como o foram pelos EUA ou vendidas por países da União Europeia.

Quem ama a paz não pode confiar nos ayatollahs do Irão ou na realeza saudita, nem em Putin, Trump, Xi Jinping ou Erdogan, e a tragédia piora quando a Sr.ª May e Macron se comportam de igual forma, capazes de disparar primeiro e investigar depois.

Comentários

e-pá! disse…
Olhando para o País armado em 'polícia do Mundo' verificamos um progressivo e cadenciado regresso aos velhos tempos do Far West.
Neste estranho 'movie' que subitamente nos envolve estamos confrontados no reciclar do velho pistoleiro - o 'cowboy Trump' -, armado em xerife (com o ajudante Macron e a heroína May) que se balanceia(m) entre o primitivismo justiceiro, a selvajaria civilizacional e a arte de (bem) sacar a 'pistol', a qualquer momento.
Já vimos este(s) filme(s) e conhecemos o desfecho.
Resta-nos conhecer qual a 'reserva indígena' que - nesta terrível cavalgada - nos terá sido destinada.
Ou a tradicionais reservas indígenas foram trocadas por algo mais tenebroso:
- a 'Paz dos cemitérios'?

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