Francisco Assis – viagem sem regresso


Para pior, bastava assim.
O eurodeputado Francisco Assis tem um passado político demasiado relevante para que as suas legítimas opções políticas possam ser ignoradas, dentro e fora do PS.

Quem, como eu, se reclama social-democrata, não pode rever-se da deriva liberal que se acentua no velho militante do PS e, muito menos, na reincidência com que se identifica com as aspirações da direita portuguesa.

A entrevista ao Público desta terça-feira foi mais um serviço aos partidos que o usaram, quando da formação do atual Governo, e o dispensaram logo que deixou de ser-lhes útil. Nem se penitenciou do mal que fez ao partido e ao País, com um discurso catastrofista e anticomunista primário, ignorando a legitimidade do voto, igual para todos os partidos.

Contra a sua vontade, o BE, o PCP e o PEV pouparam o PS à chantagem da direita de que estava refém e onde o PSD ameaçava ser a eterna charneira.

Se há uma dívida de gratidão é do PS aos partidos à sua esquerda e não o contrário, mas Assis insiste em excluir da vida democrática os partidos que lhe apraz sem se dar conta do défice democrático do seu pensamento, dos benefícios da atual solução governativa e dos malefícios do Governo anterior.

Surpreendente é a insistência na disponibilidade para continuar eurodeputado de um PS contra o qual foi o mais ruidoso adversário, não ter uma palavra de condenação sobre o Governo dos partidos que prefere, e insistir no que é mais caro à direita para perturbar o regular funcionamento das instituições democráticas.

A surrealista insistência na recondução da PGR que a própria reiteradamente considerou função de um único mandato, desejo antes manifestado pelo atual PR, só pode significar uma provocação de quem gostaria de ser satélite da concorrência.

Francisco Assis perdeu a visão política e o pudor, em flagrante contraste com António José Seguro, aliado aos trânsfugas que viajaram da extrema-esquerda para os braços da direita caceteira e miguelista, na política, no jornalismo e na opinião remunerada.

É natural que ainda tenha influência dentro do PS, mas suicidou-se perante o País, ética e politicamente. É deprimente o fim, mas a direita costuma pagar favores com avenças. 

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

e-pá! disse…
CE:
Mais um Luís Amado na forja!
A entrevista de Francisco Assis ao Público link mais parece uma 'encomenda' da Direita (nas vésperas do Congresso do PS) do que um reafirmar de posições 'social-liberais', desde há muito detetadas e expendidas, sem colher aceitação na sua 'trupe partidária'.
O ambiente instalado na política partidária está a resvalar para situações verdadeiramente ambíguas, quando não repugnantes.
Uma classe política que contemporiza com estes acrobáticos malabarismos é, de facto, a porta aberta a todos os tipos de populismos. A ‘anestesia’ do PCP e BE de que fala na entrevista mostra até que ponto este deputado europeu está enfeudado à ‘política popular’ que (através do PPE) reina no seio da UE e aparece como um lídimo representante das conceções das arcadas (góticas?) para o exercício do poder.
Começa a ser evidente um problema de translocação. Está com um pé num lado e o coração num outro.

Mais valia assumir a sua posição política na plenitude e declarar-se um acérrimo apoiante do ‘bloco central’. Aliás, tanta rejeição ao dito ‘bloco central’, vinda de tão diversos quadrantes políticos, só traduz que há um movimento sub-reptício na forja para o implantar. Tornou-se evidente de que alguma Direita - assumindo-se como sendo 'Centro'- está em modo de 'desdenhar para comprar'.
Os malabarismos retóricos tornam-se cada vez mais caricatos não acrescentando coisa alguma ao já dito e redito.

Para completar o ramalhete só falta ao Francisco Assis vir a declarar que não se revê no conceito dicotómico de Esquerda e Direita. Sendo o que – momentaneamente - está a dar, é uma atitude política a esconder, porque a ´fé liberal', historicamente, não permite ocultar.

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