Na morte de António Arnaut
Assistir ao upgrade, como ora se diz em português, feito pela direita sobre o SNS, foi o milagre em que o impudor e o oportunismo se juntaram na morte de António Arnaut.
A unanimidade entre comentadores e dirigentes políticos da direita, com ar circunspeto, enganava qualquer cidadão que não tivesse assistido à discussão tumultuosa e à votação do projeto de lei do SNS na Assembleia da República.
Uns esqueceram o que disseram, outros o que fazem e muitos outros, incluindo médicos do PS, a raiva com que admitiram um SNS, universal e gratuito, agora tendencialmente gratuito. O próprio Marcelo, muitos anos depois, como comentador televisivo, dizia ser injusto que ele, que podia pagar, tivesse assistência gratuita, num dissimulado ataque ao direito igual para todos, independente dos rendimentos e impostos individuais.
Os esforços do cavaquismo e do ora Doutor Passos Coelho foram sempre no sentido de entregar o negócio da saúde aos privados, incluindo a Igreja católica, que acumula o do corpo e o das almas, e facilitar aos médicos e enfermeiros a circulação promíscua entre o serviço público e o privado.
Foi deprimente ler o que agora disseram os que sempre defenderam o contrário, e saber do que são capazes no futuro, incluindo alguns membros do PS.
Não foi por acaso que António Arnaut, lúcido até ao fim, utilizou o último telefonema de António Costa, quando já pressentia a morte, para lhe pedir para aguentar o SNS. Era ainda nos outros que pensava, quando já nada precisava para si.
Agora é tempo de exibições, de amizades de quem mal o conheceu, de intimidades dos que raramente o viram e de identidades de pontos de vista de quem sempre o combateu e se prepara para destruir o seu legado.
No espaço neutro da ex-capela do ex-convento de S. Francisco passaram muitos dos seus amigos pessoais, de todos os quadrantes políticos e filosóficos, crentes, agnósticos e ateus, na homenagem sincera a um homem generoso e tolerante, republicano, laico e social-democrata.
Outros não compareceram, desolados, emocionados, chorando-o à distância, refletindo no limite inevitável do ciclo biológico, receosos do derradeiro encontro.
Os cravos vermelhos e símbolos maçónicos foram os únicos sinais identitários da figura ímpar que partiu, levando consigo a retidão de carácter que talhou a régua e esquadro na geometria de valores que o moldou.
A unanimidade entre comentadores e dirigentes políticos da direita, com ar circunspeto, enganava qualquer cidadão que não tivesse assistido à discussão tumultuosa e à votação do projeto de lei do SNS na Assembleia da República.
Uns esqueceram o que disseram, outros o que fazem e muitos outros, incluindo médicos do PS, a raiva com que admitiram um SNS, universal e gratuito, agora tendencialmente gratuito. O próprio Marcelo, muitos anos depois, como comentador televisivo, dizia ser injusto que ele, que podia pagar, tivesse assistência gratuita, num dissimulado ataque ao direito igual para todos, independente dos rendimentos e impostos individuais.
Os esforços do cavaquismo e do ora Doutor Passos Coelho foram sempre no sentido de entregar o negócio da saúde aos privados, incluindo a Igreja católica, que acumula o do corpo e o das almas, e facilitar aos médicos e enfermeiros a circulação promíscua entre o serviço público e o privado.
Foi deprimente ler o que agora disseram os que sempre defenderam o contrário, e saber do que são capazes no futuro, incluindo alguns membros do PS.
Não foi por acaso que António Arnaut, lúcido até ao fim, utilizou o último telefonema de António Costa, quando já pressentia a morte, para lhe pedir para aguentar o SNS. Era ainda nos outros que pensava, quando já nada precisava para si.
Agora é tempo de exibições, de amizades de quem mal o conheceu, de intimidades dos que raramente o viram e de identidades de pontos de vista de quem sempre o combateu e se prepara para destruir o seu legado.
No espaço neutro da ex-capela do ex-convento de S. Francisco passaram muitos dos seus amigos pessoais, de todos os quadrantes políticos e filosóficos, crentes, agnósticos e ateus, na homenagem sincera a um homem generoso e tolerante, republicano, laico e social-democrata.
Outros não compareceram, desolados, emocionados, chorando-o à distância, refletindo no limite inevitável do ciclo biológico, receosos do derradeiro encontro.
Os cravos vermelhos e símbolos maçónicos foram os únicos sinais identitários da figura ímpar que partiu, levando consigo a retidão de carácter que talhou a régua e esquadro na geometria de valores que o moldou.
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